Divulgação / Daniel Marafon

Verônica Oliveira é mais uma brasileira que engravidou cedo e teve que optar entre os cuidados com o bebê e os estudos. A escolha, como de praxe, foi pela filha. Vivendo na casa dos pais e ganhando mesada, entrou no mercado de trabalho apenas aos 27 anos.

Dedicou uma década de sua vida ao SAC de um call center, onde chegou à coordenação de um time. Lá pelas tantas, uma depressão atingiu Verônica que, sem dinheiro, resolveu limpar a casa de uma amiga em troca de dinheiro. Nascia ali o Faxina Boa.

A divulgação do seu trabalho por meio de memes nas redes sociais alçou o negócio a níveis nunca imaginados por Verônica que, além dos contratos com grandes marcas como Bradesco e Google, palestras e a contratação de duas funcionárias, comemora as pequenas (grandes) vitórias, como uma ex-VJ da MTV, que se declarou sua fã.   

Para já, deve estrear seu canal no YouTube e fortalecer o Faxina Boa como um instrumento de transformação social. Nesta edição do #papoPROPMARK, Verônica fala sobre sua empresa e a parceria com marcas.  

Como começou a sua carreira?

A galera acha que porque eu fazia faxina comecei a trabalhar muito cedo, mas não. Eu comecei a trabalhar aos 27 anos. Morava com meus pais, ganhava mesada. Eu engravidei estava no 2º ano do ensino médio e naquela época nem pensei em faculdade. Depois de velha comecei a trabalhar em call center, sempre no atendimento ao cliente. E gostava muito de fazer SAC, resolver problemas e trabalhei nisso por dez anos.

A divulgação inicial do serviço de faxina foi uma baita jogada de marketing. Como foi essa ideia?

Na época, nem computador eu tinha e quem fez a “belíssima” arte do Face foi o pai do meu filho no Paint. Nem sabia como funcionava o negócio, mas já era cliente chata, falei: está sobrando um espaço aqui, outro ali, eu não gostei.

Eu mandei em um grupo de amigos do Whats e falei, o que vocês acham? Todo mundo riu e disse: isso é muito louco! Eu estava com vergonha de postar e levei uns dias para publicar, mas quando divulguei alcançou muita gente. E de lá para cá nestes três anos eu nunca patrocinei um post.  

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Quando começou a postar os anúncios nas redes sociais, você imaginava que ia viralizar?

Não fazia a menor ideia, de jeito nenhum. Um amigo me falou que eu ia ficar famosa. E eu pensava: com o quê? É um negócio idiota que vai virar meme entre a gente. Eu estava afastada pelo INSS do call center e minha ideia era fazer uma renda até voltar ao trabalho e quando eu percebi que podia quadruplicar a minha renda, eu pedi para o INSS me dar alta, nem cheguei a dar entrada no pedido de auxílio doença.

Depois espalhou no boca a boca?

Eu atendi uma moça e ela recebeu uma visita. A menina me viu trabalhando e perguntou se eu podia ir lá também. Depois, uma amiga dela também me chamou. Eu fiz uma faxina para uma amiga da IBM e comecei a fazer para um departamento inteiro. Sabia tudo que acontecia no setor.

Qual é o modelo de negócio do Faxina Boa?

Faz um mês que eu parei de fazer as faxinas e fico na coordenação, atendendo as pessoas pelo telefone, internet e WhatsApp. Ao mesmo tempo fecho os trabalhos com as marcas.  

Eu não quero ter uma empresa grande, eu quero ter uma equipe com cinco ou sete meninas. Porque não é uma coisa para elas ficarem muito tempo, a questão ali é fazer com que elas reinvistam essa grana que elas vão começar a fazer com outras coisas como estudo.

Hoje quantas pessoas trabalham com você?

Duas. Eu fiz o teste com uma menina que é engenheira e ela estava me contando que precisa investir em mais cursos e é a faxina que faz com que ela tenha essa grana para estudar.

Daqui a pouco elas vão entrar nas áreas delas. Vão vir outras meninas que também vão começar, da mesma forma que eu, a consumir produtos de outras meninas. Elas investem na educação dos filhos e, assim, a gente consegue promover a transformação social e mudar um pouco dessa estrutura da periferia.

De forma geral como você se sente como empreendedora, mudou muito de três anos para cá?

Sim, as coisas mudaram muito, mas eu vejo uma dificuldade muito grande no geral. A questão de conseguir a informação se a gente tiver um mínimo de boa vontade a gente consegue, mas passar da vontade e do conhecimento para a prática é absurdamente difícil. Eu adoro quando me preguntam se eu já montei um plano de negócios e apresentei para um investidor. Quando eu explico o que eu quero fazer, a maioria deles ri da minha cara.

O que você quer fazer?

Minha ideia é fazer o oposto do que um aplicativo de faxina faz. Porque para manter a estrutura de um app, é muito caro. Então se os caras cobram R$ 200 ou R$ 230 em uma faxina, a menina que ficou lá oito horas vai ganhar R$ 80. Ela tem que pagar a condução e a comida, ou seja, esses R$ 80 viram R$ 40 no final do dia. E eu faço o contrário, eu cobro R$ 180 por um período pré-estabelecido e a menina fica com R$ 150.

A ideia de fazer o Faxina Boa como serviço de limpeza é fazer essas meninas melhorarem a vida delas financeiramente. Não é ser uma empresa de faxina, mas um lugar de transformação social porque eu comecei só com uma menina e em três meses ela voltou a estudar.

Quantos clientes o Faxina Boa atende e quem são eles?

Como eles não são fixos é muito difícil de mensurar. Tem gente que precisa porque está doente, ou uma vez por mês, ou toda semana, mas entre essa galera rotativa tem cerca de 80 pessoas. Os perfis deles são youtubers, publicitários, músicos, jornalistas, são jovens que moram na região central de São Paulo, têm entre 25 e 35 anos, resumindo, os hipsters.

Com quais marcas você já trabalhou e o que elas querem quando vão atrás de você?

Eu associava que uma marca só iria atrás de alguém que estivesse na internet por causa de números. Tanto que eu era a chorona que só tinha dois mil seguidores no Instagram. Só que com estes dois mil o Bradesco me chamou para fazer uma campanha sobre empreendedorismo.

Depois eu fiz Spotify, Banco Next, Magazine Luiza, Buscofen, Facebook, Google e Yvy.

Quais são seus critérios para fechar essas parcerias comerciais?

Nunca é só a marca que eu gosto. Eu sempre pergunto quantas mulheres trabalham em cargos de liderança. Por exemplo, teve uma parceria com a Yvy, uma startup pequena de dois caras brancos, ricos e eu perguntei, mas e na fábrica? Vocês sabem quais são as condições? As pessoas que trabalham na fábrica são registradas? Eu fui até lá e depois eu fechei com eles. A maioria das marcas quer trabalhar com permuta e eu acabo não fechando. O que eu vou fazer com 16 vassouras na minha casa?

Quem é o seu público nas redes sociais?

Tem quem consome o serviço da faxina, tem quem trabalha prestando serviços de forma geral: cabeleireiras, manicures, motoristas, muita gente de outras profissões me seguem porque eles acham que o que eu falo abrange todo mundo, além das outras faxineiras, é claro.

Eu fui conversar no escritório onde fica a assessoria com quem eu trabalho e uma moça me falou: “eu estava com a Samara Felippo em um evento e ela me indicou para gravar com você um vídeo”. E eu comecei a rir e questionei, por que é que a Samara Felippo me conhece? E ela disse: “porque todo mundo te conhece”.

Teve VJ da MTV falando que é minha fã! Isso foi surreal na minha cabeça e recentemente uma moça me ligou da Globosat. Ela queria fazer um vídeo para uma marca, mas como era banco e eu já trabalho para o Bradesco eu falei que não podia por causa da exclusividade. Eu falei: “meu Deus! A Globosat me conhece”. Ela disse que meu nome roda em todo tipo de reunião e disse que era uma pena não ter um canal no YouTube porque meu conteúdo é interessante e depois poderia fazer coisas na TV.    

Você é regularmente convidada para dar palestras em eventos. O que as pessoas esperam ouvir de você e o que você fala nestes momentos?

Eu sempre brinco, será que eles estão me chamando para cobrir a cota? Nunca tem mulher e nunca tem negro, então imagino que tenha um pouco disso. Eu mostro o quanto a internet tem força para alavancar um negócio por mais simples que seja.

Eu fiz um texto debochado para criticar os designers. Eles não pensam em como o cliente sofre por causa dos desenhos que eles criam nos produtos e isso virou um workshop no Sesc sobre limpeza de eletrônicos.

Eu xinguei o cara que desenhou o PlayStation que tinha um monte de furinho, aquilo entra pó e é horrível de limpar. Eu falo sobre tudo isso. Eu entendo de experiência do usuário melhor que muita gente que estuda.

Se você passar meus cartazes para um departamento de marketing, ou de uma agência, eles vão dizer que aquilo ali não engaja, que tem muito texto, que a foto está isso ou aquilo, eu não preciso dessa parte técnica para chegar em um bom resultado.

E é muito maluco pensar nisso porque quando alguém vem falar que essa imagem não engaja eu postei e mais de um milhão e meio de pessoas visualizaram. Está feito e funciona. Depende muito de como você faz seu conteúdo.  

Quais são seus próximos passos e o da Faxina Boa?

Eu comecei a gravar para o canal de outras pessoas, fiz o Terapia, o Tavião, o Cid. Eu tenho a síndrome da impostora, acho que está tudo ruim, escrevo e posto correndo porque senão eu não vou postar.

Conversando com essas pessoas que já produzem conteúdo, eles me disseram que o YouTube era o mínimo que eu tinha que ter. Percebi que é uma demanda para o mercado, eu preciso mostrar mais a minha cara e falar mais. Fiz a aceleração de criadores do YouPix e isso também mudou muito minha visão de mercado e negócio e dali veio a certeza de que eu preciso aprimorar isso como mais uma plataforma.

E para quando?

Já era para ter saído, porém eu vou começar a gravar até o mês que vem.