Diante de tantas reflexões trazidas pela pandemia do novo coronavírus, pensar sobre o papel da criatividade neste contexto é pensar sobre os alicerces da indústria da Propaganda. Uma vez entendida como meio, não como fim, para quais desafios devemos direcionar a criatividade, força estruturante da nossa atividade?
Nos últimos meses, dedicamos horas e horas à produção e ao consumo de estudos sobre os impactos da pandemia no comportamento do consumidor. Coletamos dados sobre o volume de negócios em diferentes categorias. Analisamos as prováveis implicações do cenário atual em novos hábitos de consumo. Projetamos um futuro com contornos ainda pouco nítidos, mas certamente diferente de onde partimos, dando a ele o nome de “novo normal”.
Pouco tempo dedicamos, porém, a refletir sobre o nosso próprio negócio. Qual o papel da Comunicação e da Propaganda nesse “novo normal”? Como podemos nos manter criativos e relevantes para nossos clientes quando tudo parece incerto?
Em meio a tantas dúvidas, o advento do novo coronavírus nos reforça uma certeza: mercado e sociedade são, de fato, interdependentes.
Pensar negócios a partir da lente do “capitalismo de stakeholders”, expressão celebrada no Fórum Econômico Mundial de Davos de 2020 e que contempla resultados para todos os públicos que afetam ou são afetados pelas atividades de uma empresa, e não mais somente para o acionista, torna-se ainda mais relevante diante da dura experiência da pandemia.
O desafio de implementar, com urgência, as práticas do pensamento de negócios estruturado a partir de uma visão sistêmica de longo prazo é hoje um dos maiores desafios das grandes lideranças empresariais. Larry Fink, CEO da BlackRock, maior gestora de ativos no mundo, enfatiza a importância de tal visão diante do contexto atual, levando-nos a refletir que resultados de longo prazo não significam, porém, o produto da busca incessante por uma sequência de metas de curto prazo.
Crises extremas pedem revisões de papéis e a criação de novos modelos. Pedem um passo além. Para que a nossa atividade se mantenha relevante, nosso papel é conhecer profundamente os desafios de negócio dos nossos clientes diante da irrefutável interdependência entre mercado e sociedade e traduzi-los, criativamente, em marcas fortes. Trata-se, antes de mais nada, de compreender que problemas complexos não se resolvem com soluções simplistas. Aqui está a oportunidade para que a nossa criatividade faça diferença: soluções reais, para um mundo complexo, traduzidas em estratégias consistentes, capazes de construir marcas fortes. Afinal, se não for para isso, para que serve a criatividade?
Aline Pimenta é diretora da NBS SoMa, departamento de Marketing Social da NBS. Mestranda em Comunicação Social pela PUC Rio e especialista em estratégias e projetos de impacto positivo para empresas e marcas.