Durante as últimas 20 décadas – 200 anos – Nova York foi se constituindo no maior e mais importante museu de arquitetura moderna a céu aberto do mundo. De cada 100 manifestações relevantes da arquitetura, no mínimo 20 encontram-se naquela cidade. As pessoas que iam regularmente à New York City reclamavam de falta de novidade em termos de arquitetura. Uma reclamação improcedente porque a cada cinco anos eclode o resgate de alguma área, a revocação de outra e dezenas de novas edificações emblemáticas ocupam a paisagem do dia para a noite.

Mas, a chegada de uma ousadia da arquitetura era mais que aguardada no mês de dezembro de 2015. Construído no mesmo terreno onde um dia reinou o Drake Hotel, construção de 1926, a cidade ganhava seu mais novo, ilustre e instigante habitante, o, segundo a propaganda, Edifício Residencial mais alto da América, o 432 Park Avenue, a poucos metros do Central Park, com apartamentos que começavam nos US$ 10 milhões. Se fosse no Brasil, o edifício gigantesco – fino e cumprido – seria apelidado de linguiça ou palito. Lá virou “dedo do meio”, por situar-se, na vista e na paisagem, exatamente entre dois edifícios.

Um dia, meu saudoso e querido amigo Rubão – Rubens Carvalho – diretor-comercial do SBT, me convidou para conhecer a nova torre restaurante, onde um dia, no bairro do Sumaré, vivia a falecida TV Tupi. Fui ao almoço de estreia e degustação com meia dúzia de outros amigos. A torre tremia. Quase não conseguimos terminar o almoço. Volta e meia alguém levantava para ir ao banheiro. Quando olhei pela primeira vez para o 432 Park Avenue, com seus 427 metros de altura, formato palito, fevereiro de 2016, dez da noite, voltando do Birdland da Rua 44, onde fomos ouvir o John Pizzarelli, disse para a Katinha, caminhando pela Quinta Avenida: “deve tremer o tempo todo.” Hoje, cinco anos e meio depois, converteu-se no inferno na torre. O arquiteto uruguaio Rafael Viñoly e a The Macklowe Organization passaram a frequentar os tribunais para explicar e responder aos compradores que se manifestam indignados com tanta barbeiragem… Querendo indenizações e dinheiro de volta. Num blog de arquitetura, a descrição da obra: “Dentro de nove mil metros quadrados de área estão os noventa e seis andares e as cento e quinze unidades de apartamentos. A planta baixa padrão quadrada desenvolve uma volumetria esbelta de silhueta reta que chega a quatrocentos e vinte e cinto metros de altura. As fachadas têm linhas limpas, com paredes e janelas generosas próprias da contemporaneidade… O novo símbolo de riqueza e ostentação nova-iorquino…”.

Em matéria no New York Times, assinada por Stefanos Chen, o depoimento de alguns compradores e residentes da torre que não para de tremer… “Eu estava convencida de que seria o melhor prédio de Nova York… eles continuam vendendo isso como um presente de Deus para o mundo, mas acho mesmo que é obra do diabo…” Sarina Abramovich… Ou seja, amigos, e repetindo, inovar sempre, ultrapassar os limites dos riscos, jamais. O impossível continua sendo impossível.

Hoje, o 432 Park Avenue é um mar de vazamentos, elevadores que não funcionam e moradores que não conseguem dormir. Segundo esses moradores, “as paredes rangem o tempo todo como se fossem a cozinha de um navio…”. O 432 Park Avenue é uma versão moderna de um Titanic que flutua e balança no horizonte de New York City. De quem olha do sul da ilha em direção ao Central Park… Alguns dos proprietários que moram no 432 Park Avenue ainda contam sobre moradores antigos do Drake Hotel, onde se encontra hoje a “Torre do Inferno”, que volta e meia aparecem pelos corredores… Frank Sinatra, Judy Garland, Jimi Hendrix. Dentre outros, também, Led Zeppelin que deixou US$ 203 mil no cofre do hotel, em minutos roubados, e jamais encontrados… Bonito é, mas…

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)