'Deuses de dois mundos' nasceu do interesse de PJ pela mitologia dos orixás

 

PJ Pereira, sócio, cofundador e CCO da Pereira & O’Dell, foi comparado a J. K. Rowling, autora da série “Harry Potter”, na semana passada, em uma matéria no Advertising Age sobre sua aventura pelo mundo da literatura e dos orixás. Ele brinca dizendo que, se tiver uma pequena fração das vendas de Rowling com sua trilogia “Deuses de dois mundos” – que mistura o universo dos orixás com os dias atuais de maneira inesperada –, ficará satisfeito.

O criativo vem tentando publicar seu livro há cerca de 10 anos. Depois de conquistar o Emmy Awards com sua série “The beauty inside”, para Intel, despertou o interesse de agentes e editoras pela publicação do livro, que tinha 800 páginas e foi transformado em uma trilogia, sendo que o primeiro – “O livro do silêncio” – será lançado em São Paulo no dia 25 de novembro. Curiosamente foi na capital paulista que a história nasceu. Ao mudar-se do Rio para São Paulo, PJ conheceu vários baianos, e se interessou pela mitologia dos orixás.

Criado em Ipanema, na zona sul do Rio, ele morria de medo de macumba. “Quando fui para São Paulo, conheci uma galera da Bahia – algumas das pessoas mais generosas e boas que conheci na vida. Pensei ‘não é possível que essas pessoas sejam ligadas ao candomblé – ou as pessoas não são boas como imagino ou o candomblé não é tão ruim quanto eu pensava’. Fui pesquisar, ler a respeito, perguntar, investigar. Comecei a descobrir a mitologia africana e me apaixonei”, conta PJ.

Ele diz que com Nizan Guanaes, chairman do Grupo ABC, nunca conversou sobre o projeto. Achou injusto construir com ele um vínculo por essa via. Mas, claro, muitas pessoas em comum contribuíram de alguma forma para a obra de PJ. Inicialmente, a ideia nem era fazer um livro. Porém, nasceu na sua cabeça uma história. “Um dia vi um livro infantil chamado ‘Os príncipes do destino’, que ensina para crianças como os iorubás veem o destino, como funciona o jogo de búzios, toda a lógica da coisa. Fiquei intrigado com a história de que havia 16 príncipes do destino que ‘falavam’ ao se jogar os búzios. Aí pensei: e se um dia esses caras não falassem? Se eles tivessem sido sequestrados? Desse ‘e se…’ a história inteira aconteceu”, relata.

O último volume está sendo escrito e se chama “Livro da morte”. É o mais “dark”. E ele já tem um quarto na cabeça. Ao escrever, não pensou em público, mas agora acredita que qualquer pessoa com mais de 16 anos com interesse na mitologia dos orixás pode tornar-se um leitor. A obra mistura as lendas a (muito) sexo e gastronomia de maneira natural, pois, segundo PJ, ambos fazem parte da mitologia. “Tem muita ‘sacanagem’ porque ela está presente nas lendas. A gastronomia tem uma função na história: os orixás você agrada com comida”, explica.

Influências

PJ: quando estou escrevendo fico mais rápidoSuas influências para escrever foram Nelson Rodrigues – no tom ácido e implacável do narrador do mundo atual –, algo de “Harry Potter” e da obra “Musashi”, de Yoshikawa. A história despertou o interesse de editoras europeias e norte-americanas na feira de Frankfurt e deve ser lançada primeiro na Europa, no ano que vem. PJ gostaria de lançar o livro também na África, “por uma questão de autenticidade”. “Minha missão com esse livro é muito brasileira. A ideia de reduzir o preconceito, de abrir um pouco a cabeça das pessoas, despertar curiosidade com relação a esse mundo. Se não acontecer no Brasil, não ficarei satisfeito. Se o livro fosse publicado nos Estados Unidos, ainda que fosse um grande sucesso, e não no Brasil, eu me sentiria vazio”, comenta. A trilogia se transformará também em longa-metragem, série de TV e graphic novel. A franquia no Brasil e nos EUA será produzida com a Disruption Entertainment, produtores de Pacific Rim. A The Alchemists comprou os direitos para realizar o projeto.

Hoje PJ vem trabalhando no terceiro livro da trilogia. Tem lido mais do que escrito, para obter mais referências. Quando sentar para escrever, será no mínimo uma hora por dia, sete dias por semana. A rotina para ele é essencial. Não pensa em se tornar escritor, escrever outros livros. “Hoje sou um publicitário com uma história que acredito que seja muito interessante para contar”, resume.

Seu trabalho como redator certamente só tem a ganhar. PJ diz que seu pensamento fica mais rápido quando está “atracado” com sua história. “Quando estou escrevendo fico mais rápido. E, claro, aguça minha capacidade de contar uma história”, garante ele, que se define como um contador de histórias que às vezes trabalha em sua própria história, às vezes nas dos outros.

Os lançamentos acontecem em São Paulo no dia 25 de novembro, na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi; no dia 27 de novembro na Livraria Cultura do Shopping Casa Park, em Brasília; e no dia 28 de novembro no Rio de Janeiro, na Livraria da Travessa, em Ipanema.