São muitos e difíceis de enumerá-los, numa época em que não param de crescer. Mesmo assim, temos de acreditar em uma solução, ainda que paliativa, para que os seus 200 milhões de habitantes possam, no mínimo, nutrir esperanças de melhora.

Para que isso a nosso ver aconteça, temos de manter no tabuleiro do jogo político nacional, por ora, as mesmas peças que formam o conjunto desse jogo, sem o que correríamos o risco de uma ruptura institucional que a própria história já demonstrou ser inútil.

Logo após as diversas rupturas que tivemos, o Brasil de uma certa forma ficou pior, redundando no que podemos enxergar neste momento: um país de povo dividido, com grande parte não sabendo sequer entender a fundo o regime político em que vivemos.

Essa anormalidade nos leva a crer que o menos pior é prosseguir como estamos, lutando e pressionando por acertos mínimos que se fazem necessários. Vamos começar pelo presidente da República, acostumado no Brasil a ser a maior autoridade pátria, o que o faz em tese respeitado por tudo e por todos.

Neste momento de embate de forças políticas divergentes, teria de prevalecer a figura dessa autoridade máxima, que todavia se desfaz em meio a erros primários, muito provavelmente mais por teimosia do que falta de capacidade.

Vejamos a questão que mais nos atormenta e ameaça neste momento, que é o novo coronavírus: por muito pouco e provavelmente por um incompreensível ciúme da capacidade do seu ministro Mandetta, no que diz respeito à saúde pública, terrivelmente abalada pela progressão da pandemia em nosso país, S.Exa. esteve a ponto de demiti-lo lá atrás, o que só não deve ter ocorrido porque o ministro colocou a saúde pública brasileira acima das questões digamos assim pessoais com Bolsonaro.

Para muitos, o recuo do ministro foi uma derrota, para nós um gesto de sabedoria e humildade porque, em meio ao combate a essa terrível pandemia que ainda nos assola, o profissional médico levou mais em conta seu compromisso com Hipócrates do que o de menor monta com o presidente.

Do lado de cá, o presidente Jair Bolsonaro dá claras evidências do seu descontentamento em manter o médico Mandetta no seu Ministério, principalmente após o reconhecimento pelo ministro de que a medida tomada pelo governador João Doria em São Paulo, com um “feriadão” jamais visto na história brasileira, era necessária para se deter o avanço do novo coronavírus, facilitado pelas aglomerações da população em determinados locais e momentos do dia e da noite.

Sem dúvida, um pouco de razão restava ao presidente, ao prever que a economia brasileira seria seriamente abalada com isso, como estamos vendo em nosso cotidiano.

Mas a opção presidencial poderia causar um estrago irreparável em todo o país, mal se sabendo até onde iriam as suas consequências. Por outro lado, tínhamos o governador João Doria, candidato ainda não oficialmente declarado à sucessão de Bolsonaro na Presidência da República, travando um embate quase que diuturno com este, pouco importando as condições locais.

Doria, mais bem preparado do que Bolsonaro e acostumado em suas lides profissionais e empresariais a defender com clareza e lucidez seus pontos de vista, aproveitou-se dessa superioridade em relação a Bolsonaro para firmar junto à opinião pública brasileira a evidência de quem sairá vencedor nas próximas eleições presidenciais, caso eles se encontrem no segundo turno.

Para uma coisa que julgamos boa neste momento, serviram esses embates: Bolsonaro aparentemente passou a evitá-los, preocupando-se mais com o seu mandato atual do que com um eventual e quase impossível, até aqui, segundo mandato. Não poderíamos encerrar esse comentário, jornal tradicional do meio publicitário brasileiro que somos (há 55 anos consecutivos a serem completados em maio), sem uma observação muito particular e na qual muito apostamos o desgaste do atual presidente: sua aversão à propaganda.

Desde quando tomou posse em 1º de janeiro de 2019, Bolsonaro tem se mostrado avesso às armas da comunicação em larga escala, com severas críticas principalmente à publicidade, algo incompreensível nos dias atuais, quando mais e mais são utilizados esses recursos da comunicação, principalmente entre disputantes a cargos eletivos.

Sua aversão à propaganda chega a tal ponto, que mesmo as estatais ligadas ao governo federal abandonaram ou minimizaram sua propaganda, embora atuando em mercados competitivos, com outras congêneres da iniciativa privada que se valem da força da publicidade para subirem na preferência popular. Para o presidente, a propaganda não pode ser a alma do negócio. Ele prefere o embate, geralmente corpo a corpo, o que muitas vezes lhe trai, quando se defronta com um adversário com dose superior de recursos próprios de comunicação.


Como praticamente todos os setores de atividades empresariais e profissionais, o mercado publicitário brasileiro se retraiu diante da pandemia do novo coronavírus, com muitos profissionais trabalhando em home office e as agências fechadas por determinação legal no estado de São Paulo.

Mesmo assim, algumas poucas campanhas e peças isoladas têm sido veiculadas na mídia, em número maior as que falam da pandemia, recomendando o recolhimento. As opiniões de empresários do setor são no sentido de que, uma vez terminado o prazo do recolhimento e em sensível baixa o exército inimigo, a propaganda voltará ao mercado com força total, procurando seus anunciantes recuperar no todo ou pelo menos em parte os prejuízos que todos tivemos com a paralisação, plenamente justificáveis porém em virtude da causa. A mídia torce para que assim seja.


Faleceu na última semana João Natale Neto, que na presidência da APP – Associação Paulista de Propaganda – adquiriu, através de uma criativa passagem de chapéu junto às empresas de comunicação poderosas da época, a sede da entidade na Rua Hungria, em um dos pontos mais movimentados de São Paulo. Natale chegou a ser sócio de uma metalúrgica pertencente à família do seu pai. Foi nela que cunhou grandiosamente as primeiras medalhas metálicas conferidas aos responsáveis pela criação e aprovação dos trabalhos premiados nas primeiras versões do Prêmio Colunistas. Trocando mais recentemente a publicidade pelo jornalismo, Natale era membro da Academia Paulista de Jornalismo, em cujas reuniões sempre se destacou em defesa das causas da cidade de São Paulo.


Um dos maiores gênios da propaganda brasileira e até por isso chamado de “o pai de todos”, Alexandre José Periscinoto, o Alex de tantos amigos e histórias, completou, neste 8 de abril, 95 anos de idade. A ele, a quem o PROPMARK muito deve, os nossos mais sinceros cumprimentos e maiores homenagens por ter conduzido sua riquíssima carreira profissional, formando profissionais e não abandonando jamais uma das maiores virtudes do ser humano, em nosso idioma grafada como ética. Salve Alex, nos 96 faremos outro registro!

Armando Ferrentini é diretor-presidente e publisher do PROPMARK (aferrentini@editorareferencia.com.br)