Leyla: "Brasil precisa se estruturar para formar profissionais qualificados na área"

 

Não há dúvidas de que 2012 foi um ano de conquistas para as produtoras brasileiras. Se por um lado o setor se manteve forte e protegido frente à crise que assolou o mercado internacional, por outro, ganhou um voto de confiança ao estabelecer novos negócios gerados pela Lei 12458, que exige o aumento de conteúdo nacional a ser exibido pelos canais de TV paga. Apesar de positivo, o ano foi visto como um período de transição, que preparou o terreno para a chegada de 2013 – esse, sim, mais que aguardado pelos profissionais da área.

“O ano de 2012 serviu para plantar negócios visando colher no próximo”, define Leyla Fernandes, presidente da Apro (Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais). “Começamos 2012 muito confiantes, mas a verdade é que tivemos um ano com fluxo de trabalho instável, sem muito ritmo. Foi um período de amarrar as pontas, consolidar equipes e buscar atender às atuais exigências do mercado para chegarmos prontos em 2013”, afirma Alberto Lopes, sócio e produtor executivo da Vetor Zero/Lobo. Pioneiro em animação 3D no Brasil, o estúdio é responsável, em parceria com a Africa, pela criação do filme de animação que apresenta a Vivo como marca única da Telefônica.

Janeba: "houve um otimismo demasiado”Hugo Janeba, CEO da Mixer, acredita que houve um “otimismo demasiado” por parte das produtoras. “Havia uma expectativa de um ano muito mais aquecido do que realmente foi. De qualquer forma, vivemos um momento ótimo e o mercado continua em crescimento”, ressalta. Em 2012, a Mixer lançou grandes projetos de conteúdo, como o longa-metragem “Corações sujos”, dirigido por Vicente Amorim, e as séries “Águias da cidade”, “Catástrofes aéreas” e “Desafio em dose dupla”, além de filmes publicitários para TIM e Natura.

Para Tatiana Quintella, sócia e produtora executiva da ParanoidBR, a proximidade de grandes eventos no país, como a Copa das Confederações, que acontecerá em junho, aumenta a aposta do mercado em 2013. “A perspectiva para o novo ano é animadora, pois muitas das iniciativas do governo serão mais efetivas em 2013. Além da Copa das Confederações que será um bom ‘esquenta’ para o Mundial de 2014”, prevê. Com um crescimento de 15% em relação a 2011 e cinco Leões arrematados no Cannes Lions deste ano, a Paranoid consolidou sua área de conteúdo e concluiu as filmagens de seu primeiro longa-metragem, “Serra Pelada”, de Heitor Dhalia.

Novos olhares

Segundo Sonia Regina Piassa, diretora executiva da Apro, 2013 também será favorecido pela crescente entrada de produtoras internacionais no Brasil, atraídas pela estabilidade econômica do país. “Estamos observando uma verdadeira invasão das produtoras internacionais, que estão ansiosas para fazer parcerias locais. Mais de 30 empresas procuraram a Apro este ano e, no mínimo, um terço delas já fechou negócio. O Brasil é a bola da vez”, comemora. José Henrique Caldas, sócio e diretor executivo da Dogs Can Fly, acredita que a mudança trará benefícios para a produção nacional. “Esse movimento é muito positivo, pois estimula a competitividade e incentiva as produtoras brasileiras a evoluírem. O mercado audiovisual no Brasil é muito autodidata e aprender o ‘modus operandis’ dos estrangeiros pode ajudar muito no desenvolvimento da nossa indústria”.

Betti: "temos que nos aprimorar e ensinar os gringos e jogarem o jogo”Egisto Betti, sócio e produtor executivo da Paranoid, vê a chegada dos players internacionais como “inevitável”. “O Brasil se tornou muito importante no cenário das grandes multinacionais. Acho que, ao invés de reclamar ou exagerar na dose de protecionismo, nós temos é que nos aprimorar e ensinar os gringos e jogarem o jogo”, diz. “Isso sem contar que, com esse intercâmbio, nós também trabalharemos muito mais lá fora”, acrescenta Janeba.

O número de profissionais contratados provenientes de outros países também aumentou significativamente em 2012, com o objetivo de agregar novos olhares e estilos à produção brasileira. Porém, para o diretor de cena e sócio-presidente da Dínamo Filmes, Edu Cama, a tendência é que, com o tempo, haja uma “seleção natural” desses talentos, responsável por afastar os que não se adequarem às particularidades do país. “Só sobreviverão os profissionais que criarem um vínculo real com o Brasil. Eles precisam estar dispostos e disponíveis a estabelecerem um relacionamento a longo prazo”, destaca. Em 2012, a Dínamo reforçou seu casting com a contratação do diretor britânico Dan Gifford, premiado com um Leão de prata no Cannes Lions pelo filme “Heineken – The legendary making of the date”.

“O Brasil possui um mercado muito específico e, quem quiser atuar nele, deverá demonstrar competência. Não dá para trazer um profissional de fora se ele não souber comunicar para o brasileiro. Eu diria a essas pessoas: bem-vindos à nossa dura realidade, tratem de se esforçar”, salienta Gil Ribeiro, diretor-geral da Conspiração. Com 30% de crescimento em relação a 2011, a produtora celebra os bons resultados obtidos em sua área de conteúdo, com o lançamento dos filmes “Gonzaga – De pai pra filho” e “Os penetras” e a vitória do Emmy Internacional com a série “A mulher invisível”, de Claudio Torres e Guel Arraes.

Para Leyla Fernandes, da Apro, a chegada de talentos estrangeiros torna essencial um maior investimento em mão de obra local. “O Brasil precisa se estruturar para formar profissionais qualificados na área. Hoje em dia não há escolas, a preparação do profissional acontece dentro das próprias produtoras. Quanto mais estruturado, maior será o reconhecimento da nossa produção no exterior”, afirma. “Investir em talentos deve ser prioridade. Caso contrário, não teremos mão de obra suficiente para atender a demanda crescente do mercado”, alerta Andrea Barata Ribeiro, sócia e produtora da O2 Filmes. Entre os projetos da O2, que cresceu cerca de 15% em 2012, estão o lançamento do filme “Xingu”, da série “Destino São Paulo” e o desenvolvimento da estratégia de comunicação do Rio+20, realizada em junho.

Mais conteúdo

Os desdobramentos da Lei 12.458 e a consequente abertura de espaço para as produções nacionais também prometem trazer bons resultados para as produtoras em 2013, que terão nos projetos de conteúdo uma nova fonte de negócios. “A lei gerou uma grande expectativa desde que foi criada, mas as produtoras só sentirão sua presença neste ano. O volume de trabalho vai aumentar, e muito. As empresas que tiverem vontade e competência irão crescer”, garante Mario Peixoto, produtor executivo e sócio da Delicatessen. Em 2012, a produtora obteve um crescimento de 25%, lançou o curta-metragem “O colecionador” e foi responsável pelo projeto da C&A “Poderosas do Brasil”, sob direção de Georgia Guerra-Peixe.

“A 12.485 criou uma agitação interessante no mercado. Os canais já começaram a sondar produtoras para selecionar quem serão os grandes fornecedores nos próximos anos. Essa lei será importante para o desenvolvimento de uma indústria audiovisual, pois movimentará toda a cadeia de produção. Não só o mercado será beneficiado, mas também o telespectador, que terá uma gama de novos programas”, analisa José Henrique Caldas. “A produção independente vive um momento histórico com a aprovação da lei, porque agora temos para quem vender ideias. 2013 será de enorme aprendizado para o setor”, diz Andrea.

Já para Gil Ribeiro, o maior desafio a ser enfrentado será a adequação do trabalho ao ritmo exigido pelas emissoras. “É preciso aprender a entregar um serviço de qualidade dentro dos prazos que o mercado televisivo determina. Essa parte ainda não está fluindo como deveria, mas terá um grande avanço neste ano. Já temos uma produção séria e consistente na publicidade, agora nos tornaremos relevantes também no entretenimento”.