Após dois anos de evento adaptado por conta da pandemia, o Festival de Cannes volta a ser presencial. O anúncio foi feito na semana passada e o evento será realizado entre os dias 20 e 24 de junho de 2022. O retorno à Riviera Francesa foi uma grata surpresa para a maioria dos profissionais brasileiros, já que é nos corredores do Palais que travam debates sobre tendências, sobre Leões – merecidos ou não – e reveem amigos, colegas e parceiros.

A organização de Cannes também anunciou que pretende manter a programação remota a fim de ampliar o alcance do conteúdo. “Construir Cannes Lions como um festival híbrido nos permitirá continuar a alcançar nossa comunidade criativa expandida, que recebemos por meio de nossas iniciativas digitais nos últimos 18 meses. É uma oportunidade de democratizar, inovar e reinventar o festival para o futuro”, diz Philip Thomas, CEO do Cannes Lions.

Philip Thomas (Alê Oliveira)

Para Simon Cook, diretor do festival, um dos objetivos é construir um festival que permita uma troca de experiência cada vez mais efetiva. “O Cannes Lions proporcionará oportunidades para a indústria global abordar as questões mais urgentes que o mundo está enfrentando hoje”, avalia.

Alexis Thuller Pagliarini, presidente-executivo da Ampro, é um dos mais entusiastas pelo retorno dos eventos ao vivo, sem deixar de elogiar a atitude dos organizadores de Cannes a cerca dos últimos anos. Segundo ele, a experiência de um Cannes Lions totalmente virtual foi satisfatória, mas bem aquém daquela plena, presencial, que o mercado estava acostumado. “O conteúdo disponibilizado digitalmente foi da qualidade de sempre, mas falta o networking, a troca de opiniões, a vivência por todos os cinco sentidos que só a participação presencial proporciona”. Para Pagliarini, ir para Cannes significa separar uma semana para mergulhar nas tendências e na análise dos cases vencedores, sem as distrações do ambiente remoto. “Estou ansioso em voltar a vivenciar por inteiro o Palais, a Croisette e o ambiente criativo incomparável do Cannes Lions Festival”, revela.

Já Flavio Waiteman, CCO-fundador da Tech and Soul, menciona que depois de participar do Web Summit com 70 mil pessoas juntas, “exatamente como era antes”, deu a certeza para ele que o retorno em junho de 2022 “vai ser sensacional”. “Ver e rever os amigos e a alma da criatividade global vai fazer muito bem para a comunicação como um todo”, analisa.

Assim como Pagliarini e Waiteman, Mario D’Andrea, presidente da Abap (Associação Brasileira de Agências de Publicidade), afirma que será “ótimo ver que o principal evento da publicidade mundial estará de volta. “Seja presencial ou online, o Cannes Lions sempre nos mostra o que de melhor foi feito no último ano e, principalmente, nos indica os caminhos e tendências que serão trilhados pelo marketing e publicidade mundiais. Nos aponta para o futuro próximo – que com certeza será muito mais saudável para nossa atividade e para nossa sociedade como um todo”, argumenta.

Vinicius Stanzione, VP de criação da Leo Burnett, fala que o retorno presencial a Cannes representa muito para todos da indústria criativa, pois é a celebração da criatividade de alto nível, é a troca de energia que motiva e engaja todos que gostam de vivenciar e discutir boas ideias. “É uma notícia maravilhosa que, além de tudo, indica que o mundo está voltando à normalidade.

Vinicius Stanzione (Divulgação)

Para ele, o formato híbrido que será adotado pela organização deixa o “festival mais democrático, mais acessível”. “Só isso já merecia um Leão em Cannes”, brinca. Segundo ele, poder participar de um festival da importância que tem “é a vontade de todo criativo”. “E, com essa nova opção virtual, muita gente vai poder absorver a energia de Cannes da cadeira de casa ou do escritório”, afirma o criativo, acrescentando que é certo que a Leo Burnett estará representada em Cannes. “É uma data do calendário que reservamos para escutar e aprender com pessoas que estão fazendo o melhor trabalho criativo do mundo. Isso faz com que voltemos para nossa agência ainda mais inspirados e motivados para fazer um trabalho de ponta para nossos clientes”.

Sob controle
Sandra Martinelli, presidente-executiva da ABA (Associação Brasileira de Anunciantes), declara que sendo Cannes Lions o maior fórum da criatividade mundial, o retorno presencial para 2022 é motivo de celebração para todos os profissionais do marketing. “Primeiro, porque entendemos que isso significa que estamos com a pandemia mais controlada, vacinados e nos sentindo mais protegidos para nos encontrarmos fisicamente; segundo, porque frequento o Festival Internacional de Criatividade Cannes Lions há mais de uma década e reconheço a força que é para nós, profissionais da área, nos conectarmos pessoalmente nesse fórum de inovação e criatividade para acompanhar de perto os debates, insights e tendências que pulsam na publicidade global que, hoje, refletem muito as demandas da sociedade, como as questões de diversidade, inclusão e sustentabilidade”. Além, claro, segundo ela, de “aplaudir de perto os vitoriosos com Leões, como é feito desde 1954”.

Sandra Martinelli (Divulgação)

Sandra lembra ainda a importância do festival para a ABA, já que traz para o Brasil todos os anos, o ABA Cannes Insights, com curadoria da GoAd, que reflete sobre as tendências que surgiram no festival para apoiar os anunciantes e ajudar as marcas a evoluírem em suas campanhas e comunicações. “Estar presencialmente de volta ao Cannes Lions e participar dos eventos paralelos e encontrar amigos é imensuravelmente mais significativo”, diz, acrescentando: “Esperamos ansiosos para ver, novamente, de perto as próximas referências globais em criatividade”.

Rodrigo Toledo, sócio-fundador da Dojo, fala que encara o retorno presencial como
um marco importante. Para ele, 2022 deve ser um ano com muitos eventos presenciais, uma retomada do mercado. “Cannes é mais do que um festival ou uma premiação, é um espaço para relacionamentos, aprendizados e também celebrações. Acredito que vai ser uma edição bastante especial. Devem eclodir muitas ações, muita criatividade”. Sobre o modelo híbrido, Toledo acredita que dará mais acesso. “Uma viagem para a França não é tão acessível, mas o digital coloca mais gente nessa conversa. Cannes se torna possível e viável para mais profissionais e empresas”.

Rodrigo Toledo (Divulgação)

Já Paulo Castro, sócio e CEO da Agência3, revela que, durante décadas e décadas, o mercado publicitário de todas as regiões tinha lugar e data para se encontrar uma vez por ano: o Palais de Cannes. “Agora o festival volta usando a criatividade para celebrar a própria criatividade: o presencial com o remoto. Um formato híbrido que acredito que deixará Cannes ainda mais democrático e com certeza vai atingir um público maior sem perder a qualidade do grande e fundamental evento que é”, diz.

Luiz Fernando Musa, CEO da Ogilvy Brasil, analisa que a volta do presencial é boa como um todo, não apenas para Cannes. “Seja dos eventos, esportes, encontros, trabalho, quanto para a volta de tudo. As pessoas são a essência do nosso negócio, e é ótimo poder ter essas trocas de forma presencial”, argumenta.

Luiz Fernando Musa (Divulgação)

Ele acha que esse retorno será simbólico também para reforçar o sentimento que sempre existiu em Cannes, de ser e fazer melhor. “E ainda de promover uma semana boa de ‘revisão interna’ dos nossos próprios compromissos e desafios profissionais”.

Para Musa, a questão do modelo híbrido é uma realidade, principalmente para a dinâmica de trabalho e também para eventos. “É uma forma de trazer maior acesso, e uma participação ainda mais ativa da indústria como um todo”. Ele torce para que o festival seja ainda mais amplo, que as “indústrias e os profissionais possam sair de lá acreditando ainda mais na força e beleza da criatividade”.

Sleyman Khodor, diretor executivo de criação da Lew’Lara\TBWA (Divulgação)

Já Felipe Andrade, diretor-executivo de criação da Cheil, fala que a volta do festival é importante para toda indústria. “Não apenas pela premiação, mas pela troca genuína entre o mercado, novidades, workshop e principalmente sobre a experiência da maior premiação da indústria. Ter isso de volta, aquece o momento em que estamos vivendo. É claro que, com todo cuidado e zelo, tenho certeza que será muito rico para todos”, relembra o criativo.

Sleyman Khodor, diretor executivo de criação da Lew’Lara\TBWA, diz que “é impossível não comemorarmos”. Primeiro, porque o networking é parte fundamental do festival, independentemente da premiação. Segundo, porque os julgamentos ganham com a discussão ao vivo entre quem está avaliando os trabalhos. Terceiro, porque isso significa um reencontro presencial com a criatividade, base fundamental do negócio.

De acordo com o executivo, do formato híbrido, virá a entrega de parte da experiência com uma fatia bem menor do investimento para quem tem vontade de participar. “É uma forma de deixar o festival acessível e espalhar ainda mais o mantra da criatividade como peça-chave na nossa indústria”, complementa. 

Alê Alves, sócio e CEO da agência CL (Divulgação)

“O formato híbrido de festivais veio pra ficar. É mais dinâmico, aberto e abrangente. Mas a pergunta é como trazer atrativos para a parte presencial. Cannes, há muitos anos, deixou de ser uma exposição de trabalhos e vem, cada vez mais, trazendo eventos que valorizam a troca e o encontro”, pondera Danilo Janjacomo, CCO da Dentsu.

Ele acredita que, com marcas e agências criando experiências, o festival deve se basear mais em informação relevante, custos acessíveis online e experiências únicas ao vivo, capazes de estimular trocas. “Uma barreira enorme sobre isso é o respeito e educação de dedicar seu tempo no mundo virtual igual fazemos no real, e nisso acredito estarmos ainda pouco orientados, pois a percepção de quem participa de eventos online ‘também está disponível para outras pautas’ prejudica demais a experiência”, acredita.

Mesmo assim, Janjacomo deseja ver uma nova direção do festival ao vivo, com tempo dedicado e compartilhamento de conhecimento, “pois somos seres sociais e o contato físico nos traz imensos benefícios da nossa própria evolução e respeito ao outro”, lembra.

Danilo Janjacomo, CCO da Dentsu (Divulgação)

Jairo Anderson, diretor de criação da Publicis Brasil, engrossa o coro. “Mais que os prêmios, mais que as tendências, a essência do festival, para mim, é celebrar trocas e conexões entre a comunidade global da nossa indústria. E poder voltar a viver essa efervescência de perto, com certeza, é uma excelente notícia”. 

João Passarinho Netto, sócio e vice-presidente de planejamento criativo da Jotacom, destaca o “alívio de ver que a vida está, de certa maneira, voltando ao normal”, diz. Mas ele também aponta a preocupação em saber como, de fato, o público vai se comportar com as regras de segurança. Para ele, a vantagem do formato híbrido é disseminar  conhecimento.

Jairo Anderson, diretor de criação da Publicis Brasil (Divulgação)

“Esse retorno é super esperado. Acho que a troca presencial é de extrema importância para a geração de ideias, e definitivamente, o Cannes Lions proporciona um ambiente ideal para isso”, declara Alê Alves, sócio e CEO da agência CL.

Os ganhos estão na globalização. “O criativo não precisa mais estar presente para colaborar em um job de uma marca fora do país. Essa troca e a cocriação entre criativos de outras culturas vai gerar uma nova geração de criativos”, prevê Alves. 

João Passarinho Netto, sócio e vice-presidente de planejamento criativo da Jotacom (Divulgação)

Para Alan Strozenberg, sócio e coCCO da Z515, o entusiasmo passa por características inerentes ao ser humano. “Somos seres energéticos e, por isso, o presencial faz toda a diferença. A mágica acontece quando as pessoas se encontram”, resume.

Mas é do online que vem o poder de democratizar o acesso. “Penso que o festival poderia ter um formato semelhante ao Ted Talks, que além de ter um evento principal todo ano, também faz centenas de eventos locais, ao vivo, levando o seu conteúdo para os mais diversos países e cidades”, sugere Strozenberg. 

A Z515 já planeja a sua participação presencial.

*Colaborou Janaina Langsdorff