1. Entramos definitivamente no clima do futebol, tão esperado pelos brasileiros e um pouco mais por todos os players do mercado publicitário (com maior ansiedade pelos meios). Afinal, futebol e propaganda são velhos parceiros no mundo dos negócios e não é só no Brasil. Esse casamento já contaminou o planeta e o Cannes Lions 2013, em andamento, provará uma vez mais que se trata de uma parceria duradoura, porque a paixão das pessoas pelo futebol só tende a aumentar como válvula de escape às agruras da vida em um mundo sempre mais ambíguo.
O aperitivo em que se transformou a Copa das Confederações esquentará o ambiente em todo o país para a grande atração de 2014, com o Brasil sediando pela segunda vez uma Copa.
O muito que se falou sobre o aumento da intensidade dos negócios publicitários em nosso país e que deveria ter se iniciado, de acordo com as previsões dos profetas do mercado, já em fins de 2012, passa a se confirmar agora. O futebol colaborará para que as agências, a mídia, as produtoras e os fornecedores do mercado melhorem os seus rendimentos, amenizando de certa forma as consequências da crise econômico-financeira que assola o mundo ocidental no hemisfério norte, com reflexos inevitáveis abaixo da linha do Equador.
Portanto, viva o futebol!
2. Palmeirenses que nos leem, e são muitos, pedem um registro da homenagem do Globoesporte.com aos 20 anos da conquista do título de campeão paulista pelo Palmeiras, em uma final histórica contra o arquirrival Corinthians.
Entrevistando grandes personagens daquela partida, a equipe de jornalismo do Globo Esporte fez justo reparo ao árbitro José Aparecido de Oliveira, crucificado na ocasião pela suspeita de ter beneficiado o vencedor. Ouvido pela reportagem, Oliveira não só explicou os lances polêmicos do jogo que decidiu o título, como revelou que, a partir daí e durante um bom tempo, sua vida virou um verdadeiro inferno, inclusive com quebra do seu sigilo bancário.
Firme a sua confissão de que, se tivesse que apitar os mesmos lances em outro jogo, faria tudo exatamente como fez, explicando os detalhes técnicos de cada jogada contestada. Ao mesmo tempo, porém, Oliveira deixa claro no vídeo do Globo Esporte que aquele jogo não voltaria a apitar, caso o tempo retrocedesse, por todo o mal que lhe fizeram.
Essa é mais uma história a enriquecer o fantástico mundo do futebol e a paixão que desperta nas pessoas, muitas vezes impedindo-as de ver com clareza a realidade.
3. É tão inebriante esse esporte, que produziu outra história surpreendente, muitos anos atrás. Seu protagonista foi Cícero Pompeu de Toledo, cujo nome batiza o estádio do S. Paulo, no Morumbi, clube do qual foi presidente por várias gestões. Ele teve quatro filhos homens, orientando-os (o que hoje seria mais difícil) a torcer cada qual por um dos grandes: São Paulo, Palmeiras, Corinthians e Santos.
O palmeirense Brício Pompeu de Toledo chegou a ser presidente do Palmeiras. O santista chegou a ser vice-presidente do Santos (Simas).
Quando perguntavam ao pai, Cícero, por que havia orientado cada filho para torcer dessa forma heterogênea, tinha a resposta na ponta da língua: “Porque eu quero que todo domingo haja festa na minha casa”.
Só o futebol produz essas coisas.
4. O que o país ainda é bom em futebol – pelo menos nos gramados – ele deixa a desejar na política. O que estamos vendo ocorrer nas grandes capitais, com destaque para São Paulo, sobre os movimentos de rua que em nome de um aumento tarifário dos transportes coletivos, abaixo dos índices inflacionários, sobressaindo-se ainda o fato do último aumento ter ocorrido somente em 2011, sobre esses movimentos, dizíamos, que vandalizam os logradouros públicos e o que há de privado pelo caminho, é de estarrecer.
Talvez estejam querendo que se produza um cadáver para a manifestação ampliar-se. Foi exatamente o que aconteceu em outras crises agudas.
O destempero de parte dos manifestantes provoca a mesma reação nos agentes de segurança, que deveriam se conter e manter a ordem.
Estão ali para isso. Mas sabemos como isso funciona quando a temperatura sobe.
Fez bem a ANJ em distribuir um comunicado recriminando a repressão policial, com destaque para os jornalistas agredidos. Este é outro absurdo dentro do cenário caótico: insurgir-se contra quem está no teatro de operações apenas para exercer o seu ofício.
A democracia deve conviver com esses movimentos de rua, mas o limite para a ação dos mesmos nem sempre é possível de se estabelecer.
Já há outro protesto prometido para a próxima terça (18) em São Paulo. Vamos aguardar para ver se retornaremos à civilidade, ou se optamos pela barbárie.
Como indagaria o inspetor Poirot, a quem interessa tudo isso?
Este editorial foi publicado na edição impressa de Nº 2453 do jornal propmark, com data de capa desta segunda-feira, 17 de junho de 2013