É estranho como na vida, de um dia para o outro, tudo vira de cabeça para baixo. O inexorável e o inesperado podem mudar o nosso dia a dia muito rapidamente. Está sendo assim com a pandemia da Covid-19, que afeta a tudo e a todos os negócios, cujos efeitos nocivos são comparados a uma guerra mundial. Enquanto enfrentamos esse vírus altamente contagioso, o mundo empresarial continua na batalha diária para se recuperar do baque da crise financeira causada pela pandemia e tentar uma retomada neste segundo semestre. Torcemos para que isso ocorra rapidamente.
Até então, a nossa geração nunca havia enfrentado uma pandemia mundial como essa. Só tínhamos notícias de algo parecido nos primórdios do século passado, com a gripe espanhola, ou na literatura, como na obra Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago, que narra a história da epidemia de cegueira branca que se espalha por uma cidade, causando um grande colapso na vida das pessoas. O livro, aliás, está em alta e é o mais procurado nesse período de isolamento social – inclusive, está em falta nas livrarias.
Enquanto a vacina não chega, as autoridades sanitárias e os governos do mundo todo continuam na luta contra o vírus, com a adoção de protocolos para a reabertura gradual da economia, entre outras ações. As empresas também começaram a alinhar o protocolo de retorno presencial de seus funcionários. Mas quando vamos voltar à normalidade? Isso ninguém sabe ainda. Até lá, viveremos o chamado ‘novo normal’ e tentando nos adaptar a ele e a todos os desafios que essa pandemia terrível nos impõe.
Imagino que, guardadas as devidas proporções, o jornalista César Tralli enfrentou dias de tempestade na última semana com o surgimento de um vídeo de uma reportagem que ele fez em 1994, daqueles descobertos pela internet que ninguém sabe como. A matéria que fala sobre “gente comum” na propaganda teve grande repercussão no Twitter e gerou discussões. O tom de Tralli chocou os mais jovens. Em dado momento, ele diz: “A baixinha gordinha, 80 kg com cara de bolacha, descobriu na própria feiura a sua fonte de renda”. A “baixinha” é Shahar Boyayan. À época, a atriz ganhou destaque por abrir uma agência especializada em pessoas fora do padrão. Hoje, Shahar mora nos Estados Unidos e dirige uma empresa de live streaming que transmite cursos variados.
“É muito bom a gente olhar isso com choque e ver que não vai acontecer mais. Na época estava dentro do contexto, não foi nunca assunto. Ao contrário, recebíamos telefonemas do tipo: ‘Aí é a agência dos feios?’ E era. Tínhamos fila na rua de gente querendo aparecer na TV. Ela cumpriu o propósito dela na época. É bom ver hoje que você olha e fala: como uma pessoa pode se dirigir a outra dessa maneira? Então, as coisas mudaram e mudaram para melhor”, disse a profissional em entrevista ao editor do site do PROPMARK, Leonardo Araujo, que a encontrou pelo LinkedIn.
A Globo e o César Tralli não se manifestaram pelo episódio. Claro que o contexto e a época em que a reportagem foi feita eram outros, e, como disse Shahar, ainda bem que as coisas mudaram e mudaram para melhor. Creio que o mercado como um todo avança em quesitos como inclusão social, igualdade racial e de gênero, em busca de uma sociedade livre de preconceitos, mas todos devem estar vigilantes. E a propaganda, que é o retrato da sociedade, precisa espelhar essa visão cada vez mais e mais.