O desejo de imortalidade é tão antigo quanto a consciência da morte. E a celebridade se transformou, nesta era, no santo graal da imortalidade, segundo diz o psicólogo e filósofo israelense Carlo Strenger em seu livro O medo da insignificância. Isso explica, ao menos em parte, o sucesso mundial dos reality shows, que são, por sua vez, pela atenção que despertam, caminho certeiro para o santo graal das emissoras de TV: a audiência.
Strenger descreve os reality shows como a maior transformação ocorrida no cenário da TV neste milênio, desde quando Survivor e American Idol explodiram em atenções nos Estados Unidos, colocando esse formato de programa como prioridade na grade da maioria dos canais de maior audiência naquele mercado. E no Brasil não é diferente.
As principais emissoras de TV aberta tiveram ou têm em sua grade programas que mostram o milagre da transformação de pessoas comuns em celebridades – seja por seu talento para cantar, cozinhar, dançar, sobreviver em condições adversas ou encantar as pessoas no confinamento de uma casa acompanhado por câmeras 24 horas por dia.
Em muitos casos, a maior audiência vem da forte repercussão nas redes sociais, a chamada “Social TV”. Segundo dados da Kantar Ibope Media referentes aos realities transmitidos em TV aberta no ano passado, a final do Masterchef Brasil, exibido na Band, foi o episódio de maior repercussão nas redes sociais naquele ano, seguido de alguns episódios do Big Brother Brasil (Globo) e a estreia de A Fazenda. Outro dado, da SEMrush.com posiciona o MasterChef como reality show mais buscado na internet em fevereiro deste ano, acumulando mais de 733,5 mil pequisas; seguido de A Fazenda, que teve 673 mil buscas; e do Big Brother Brasil, procurado 200 mil vezes. Em quarto e quinto lugares ficaram The Voice (Globo), com 165 mil consultas; e o The Voice Kids, com 135 mil. O Dancing Brasil, da RecordTV, teve 74 mil buscas. Segundo o Kantar Ibope Media, o público predominante dos realities é o das classes A/B/C, 63% mulheres, 70% com imóvel próprio, 61% dos homens e 57% das mulheres trabalham.
“O brasileiro tem a peculiaridade de buscar a participação em sociedade. Somos o segundo maior mercado das redes sociais no mundo. Acho que os desafios da convivência dos realities de confinamento chamam a atenção do público brasileiro, especialmente entre os jovens e aqueles conectados justamente nas redes sociais”, diz Marcelo Silva, vice-presidente artístico e de programação da RecordTV.
A emissora exibe os chamados realities de confinamento A Fazenda, A Casa e Power Couple Brasil, que misturam convivência com provas divertidas, e realities que mostram desafios de dança e habilidades culinárias como Dancing Brasil e Batalha dos Confeiteiros.
A Fazenda já teve nove temporadas, e a terceira temporada de Power Couple estreia em abril com apresentação de Gugu Liberato. A Casa retorna em breve como programa diário apresentado por Marcos Mion. Por sinal, Marcelo Silva conta que no ano passado a experiência de A Casa – com o confinamento de 100 pessoas em uma casa com suprimentos e infraestrutura para apenas 4 pessoas – foi uma grande inovação em realities. Já Dancing Brasil está em sua terceira edição. Batalha dos Confeiteiros, com o “astro” Buddy Valastro, retorna em breve nas noites de quarta-feira.
O fenômeno Big Brother Brasil, em sua 18ª edição, o The Voice Kids, o The Voice e o Pop Star são os programas exibidos na Globo, sendo que o último é um formato original criado pela emissora em 2017. Com menos fôlego em outros países, mas ainda popular nos EUA, o BBB se transformou em sucesso no Brasil pela renovação constante e a dinâmica de criar enredos, novelinhas e quadros novos. O olhar sobre os candidatos, suas histórias e características mantém a audiência atenta. Este ano, a emissora criou os “grupos de WhatsApp”.
INOVAÇÃO
A possibilidade de inovar é essencial. No caso do The Voice, por exemplo, a Globo criou uma fase exclusiva, que é a Batalha dos Técnicos. Por sinal, a versão da Globo do BBB foi a única no mundo indicada a um Emmy Internacional. O The Voice Kids este ano concorre ao Emmy Kids. A Globo conta com uma equipe especializada e uma infraestrutura completa, com estúdios exclusivos para a produção de seus realities musicais.
Já o SBT exibe vários programas do gênero: Fábrica de Casamentos (estreia dia 17), Bake Off Brasil e Júnior Bake Off, BBQ Brasil – Churrasco na Brasa, Duelo de Mães, Hells Kitchen e Cabelo Pantene 2, além de programas fixos na grade também com formato de reality, como Esquadrão da Moda e alguns quadros nos programas de auditório da casa. A emissora foi pioneira em realities no Brasil ao lançar, em 2001, a Casa dos Artistas, que rendeu na época a maior audiência da emissora.
“O brasileiro gosta de programas que geram identificação e empatia. E é justamente essa a essência dos realities, que trazem histórias, pessoas e desafios reais”, analisa Marcelo Parada, diretor comercial e de marketing do SBT.
Parada fala que o sucesso comercial, combinado à performance da audiência, torna o formato interessante para a emissora. Cacau Show, Colgate e Danone são os principais anunciantes das temporadas mais recentes da emissora. Em temporadas passadas Bake Off já teve como patrocinadores Extra, Heinz, Friboi, Seara, Nivea, Hellmann’s e Mania de Churrasco. Uma novidade é o programa-proprietário da marca Cabelo Pantene 2.
“Os realities possuem muitas possibilidades comerciais além do break, sobretudo na área de branded content, com uma entrega multiplataforma que ajuda a aprofundar a conversa das marcas. Pacotes de patrocínio negociados preveem esta entrega completa e pensada para cada plataforma”, conclui. Silva, da RecordTV, fala que como o gênero reality show é muito abrangente, permite uma infinidade de oportunidades comerciais e de merchandising.
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