Schroeder, ao lado de Valente: temos buscado um espaço mais moderno, abrir nosso gênero e nosso portfólio para surpreender o público'

 

A Globo quer uma cara mais contemporânea. No lançamento de sua nova programação, na semana passada, a palavra de ordem era “movimento”. Carlos Henrique Schroder, diretor-geral da Rede Globo, abriu o evento com um discurso sobre a volatilidade das coisas. “O mundo está em movimento, você está em movimento. A Globo está em movimento para acompanhar o mundo, a vida e você”, disse.

O executivo, que assumiu a gestão da Globo no ano passado, fala em flexibilidade e renovação para a emissora, que continua na liderança da TV brasileira, mas vem sofrendo com quedas consecutivas na audiência. No ano passado, ela registrou a sua pior média no Ibope, de 14,3 pontos. “Temos buscado um espaço mais moderno, abrir nosso gênero e nosso portfólio para surpreender o público”, afirma.

A emissora criou cinco fóruns dentro de casa para repensar seus principais produtos, nas áreas de seriados, variedades, humor, formatos brasileiros e novela. Os fóruns são formados por grupos de oito a dez pessoas, entre profissionais de fora e da casa, e atuam de forma independente. “Estamos tendo uma discussão de conteúdo”, explica Schroder. O objetivo é manter a relevância do produto, mais que debater índices de audiência, afirma. “O produto é o fundamental para mim. Se a relevância for conquistada, a audiência vem.”

Reuniões semanais com cineastas e profissionais da casa levaram a decisões como temporadas mais curtas e à adoção do arco do tempo nas narrativas dos seriados. Produtos já desenhados nessa configuração são “A teia” (de dez capítulos, encerrada semana passada) e o drama criminal “O caçador”, que estreia dia 11. “Estamos testando esse tipo de formato porque o brasileiro não está acostumado a ele. A sensação que temos é que ele está muito habituado com a narrativa da novela”, diz. A produção de séries também contará com nomes de fora. Fernando Meirelles já está cotado para produzir “Felizes para sempre”, série com estreia prevista para 2015.

No caso dos folhetins, os núcleos ainda não começaram, mas algumas decisões já foram tomadas. A novela das 18h, por exemplo, foi encurtada. “Estamos discutindo que tipo de novela queremos, o enfoque, se é mais contemporânea, qual o tempo do capítulo, sua duração”, aponta. Outra decisão é a abertura para autores mais jovens. “Estamos vindo com um novo grupo e isso fatalmente chegará à novela das 21h”, assegura.

Quando o assunto é meta de audiência, Schroder desconversa e reforça que a discussão atual dentro da Globo é a qualidade do conteúdo. “O desejo de audiência não pode ser imposto como meta. Outras questões norteiam as decisões. Nossos produtos precisam ter relevância, qualidade, capilaridade nacional.”

Nova marca

A renovação dentro da Globo atingiu a logo da emissora, que estreou no último domingo (6). É a 11ª evolução dele desde que a companhia foi criada, em 1965. Entre as últimas seis alterações, esta pode ser considerada a mais radical, apesar de manter o mesmo formato e conceito adotado em 1988, com “o globo dentro do globo” e os tons coloridos.

Agora, os elementos externos perdem o tom metálico e brilhante, tornando-se mais neutros. A representação da tela também fica mais “wide” e as linhas coloridas internas, mais definidas. De acordo com a emissora, “a nova marca revela uma emissora que, prestes a completar 50 anos, está atenta ao mundo à sua volta, em rápida transformação”.

Os estudos para a nova marca foram conduzidos por Sérgio Valente, que chegou à companhia no ano passado para assumir a Central Globo de Comunicação. O desenvolvimento ficou mais uma vez a cargo de Hans Donner, que idealizou o primeiro conceito para a identidade da emissora.

On demand

Com o consumo concomitante de televisão e internet crescendo, a Globo prepara-se para lançar uma estratégia de segunda tela, com aplicativos para dispositivos móveis sincronizados aos programas da emissora. Os apps funcionarão conectados às redes sociais e abrem automaticamente no celular ou tablet do usuário quando uma transmissão começa. É a primeira vez que a emissora investe numa estratégia assim.

O objetivo é capturar uma audiência cada vez mais fragmentada. Pesquisa do Terra Digital divulgada no ano passado mostra que 64% dos brasileiros que assistem à televisão navegam na internet de forma simultânea. “Acreditamos em aproximação”, diz Carlos Henrique Schroder, diretor-geral da Rede Globo. “Um ambiente não rejeita o outro. Queremos trazer de volta o telespectador perdido. É um ganha-ganha”, analisa.

O primeiro programa a utilizar o serviço é o SuperStar, que estreou no último domingo (6). Também estão programados aplicativos para as novelas e para o futebol. O app para este último está em teste e será lançado no início do Campeonato Brasileiro, em maio. Ainda não há detalhes se ele poderá ser utilizado durante a Copa do Mundo. “Há questões de direitos com a Fifa que precisam ser checadas”, esclarece Schroder.

Outra aposta da emissora é uma plataforma on demand. Desde o ano passado ela vem testando o serviço GloboTV+, no estado de Minas Gerais. Ele permite ao telespectador acessar conteúdos da própria Globo em horários alternativos à programação. De acordo com ela, o produto mais visto são as novelas. A plataforma funciona por meio de assinatura mensal, a exemplo do Netflix, e custa R$ 12,90.

A emissora irá lançar a plataforma nacionalmente, mas ainda não tem data de quando deve fazê-lo. “Discutíamos dentro da empresa os hábitos de consumo de mídia dos telespectadores. Esse serviço é para oferecer experiência para quem não pode estar em casa numa hora determinada, mas quer ver a programação”, explica Schroder. A iniciativa marca uma flexibilização da emissora com a ideia de que a sua programação precisava ficar condicionada à grade da TV aberta.