Com o avanço de seis regiões de São Paulo, incluindo a capital, para a fase verde (4) do Plano SP, que orienta a flexibilização da quarentena, algumas portas passam a ser reabertas e diferentes setores se movimentam para retomar suas atividades.
Entre as mudanças, o período de funcionamento subiu para até 12 horas, com até 60% da ocupação. Na fase amarela, eram oito horas, com até 40% da capacidade. Desde 10 de outubro corre o prazo de 28 dias de mudança para esse estágio. Seguindo bem, eventos, convenções e outras atividades culturais poderão ser feitos com o público em pé – mas ainda sem “grandes shows”, segundo o governo.
Alexis Pagliarini, presidente-executivo da Associação de Marketing Promocional (Ampro), avalia que para eventos corporativos, de até 600 pessoas, espera-se um bom aquecimento, embora a falta de previsibilidade antes da liberação tenha inibido o planejamento e a efetivação no último trimestre. “Não temos números concretos, mas a expectativa é que tenhamos cerca de 30% dos eventos em comparação ao mesmo período do ano passado, neste último trimestre de 2020. Quanto aos eventos de maior porte – feiras e exposições -, o número deve ficar em aproximadamente 20% do total do mesmo trimestre no ano anterior.”
Num primeiro momento, ele avalia que hotéis e espaços para eventos corporativos devem caminhar mais rapidamente, com as convenções, os congressos e as programações de conteúdo voltando ao presencial e com streaming para ampliar audiência.
Um dos exemplos foi a Expo Retomada, idealizada por Paulo Octávio Pereira de Almeida, diretor da Live Marketing Consultoria, realizada na semana passada. Além de 40 expositores e mais de 100 empresas participantes, o evento foi transmitido ao vivo no Facebook e no YouTube. “Após sete meses completamente paralisados, os eventos com foco na geração de negócios puderam demonstrar, ao vivo, que conseguem ser realizados com muita segurança, respeitando os protocolos”, diz Almeida.
A essencialidade do digital é destacada por Wilson Ferreira Jr., diretor-executivo da Agência Spice. Ele lembra que depois de uma absoluta parada, em que da noite para o dia todos os projetos viraram pó, o mercado mostrou uma grande capacidade de adaptação. “Temos grandes eventos virtuais ocorrendo. E começam a aparecer os primeiros eventos híbridos, misturando presencial e virtual. É o momento de tomar partido dessa janela que foi aberta. É uma tendência que ganhou impulso. Essa situação demonstrou como o live marketing reagiu de forma rápida e inteligente”, afirma.
Para ele, a grande inflexão nesse momento é “essa possibilidade de ter pessoas de novo”. Sua agência está à frente do Expo Forum Visit SP 2020, que tem programação voltada ao trade e ao público final. Está prevista uma feira física com estandes e correspondentes virtuais. “É um evento símbolo do que vem daqui para frente. Os eventos devem ficar mais dinâmicos e intensificar a busca por conteúdo mais interessante que prendam a atenção do público”, conta.
Maurício Aires, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Venda de Ingressos (Abrevin), comenta que a expectativa, baseada até na comparação com outros países, é que o público está ávido para consumir eventos ao vivo, sessões de cinema e atividades externas. “Entendemos que eventos em locais controlados e com público reduzido, como cinema, teatros e casas de espetáculo de menor capacidade, servirão até de termômetro para esta reabertura. Por outro lado, temos os grandes eventos, em estádios ou mesmo grandes festivais. Estes são eventos mais dependentes de uma vacina. A exigência de um público reduzido torna a grande maioria desses eventos financeiramente inviável. Com isso, os grandes eventos estão se concentrando no segundo semestre de 2021, prevendo que uma vacina esteja disponível no início do próximo ano”, indica.
Ele lembra que o impacto no setor é sem precedentes. Na área de shows e espetáculos em geral, foram oito meses sem receita. “É um momento muito complexo e, infelizmente, ainda não há uma data certa para terminar. Estimamos que o mercado se recupere em dois anos, após a retomada total dos eventos. Estamos retornando pelo menos aos números de 2017”, observa.
Desejo e portas abrindo
A Holding Clube e o instituto de pesquisa Inovyo fizeram uma pesquisa sobre os impactos da pandemia no mercado de eventos e entretenimento. Para 72% dos entrevistados, os efeitos da pandemia só terminarão em 2021 e apenas 25% dos participantes voltariam a frequentar shows, bares e locais públicos de entretenimento imediatamente quando for liberado.
Cerca de metade dos respondentes se mostram muito preocupados com a pandemia. No cenário atual, 65% dos entrevistados disseram não ter interesse em passar a virada de ano em um grande evento. Para o Carnaval, esse percentual é de 56%.
Marcio Esher, diretor de operações da Holding Clube, comenta que as pesquisas da empresa mostram que, até agosto, a insegurança das pessoas em voltar a frequentar os eventos ainda era muito forte. Porém, com o passar do tempo, o interesse foi aumentando. “Acreditamos que há uma tendência forte de retomada, principalmente, para encontros menores. Os eventos – mesmo que em formato híbrido – voltaram aos planejamentos das pessoas e das marcas. Só em outubro, a Holding assina nove projetos corporativos. Esse é o maior número desde o início da crise. O controle da pandemia e as medidas dos governos vão favorecer esse movimento positivo”, diz.
O festival De Volta Para o Cinema, que faz parte do projeto #JuntosPeloCinema e marca a reabertura das salas, que foram liberadas por autoridades municipais e estaduais, está ampliando seu circuito. Segundo o crítico Érico Borgo, curador do festival, a versão de Harry Potter em 4k e os filmes De Volta Para o Futuro, Matrix e E.T. têm sido os mais buscados. “O Festival foi concebido para ser uma opção de grandes filmes aos exibidores, pensando no retorno das salas sem o apoio de novos blockbusters. Está sendo cumprida a nossa expectativa, que é apresentar tais filmes com baixo custo para quem deseja retornar ao cinema, enquanto o circuito exibidor os aproveita para treinar as suas equipes e afinar sua operação com os novos protocolos”, conta.
Entre as telonas que voltam a funcionar estão as da rede UCI, que reabriu seus complexos UCI Anália Franco, UCI Jardim Sul e UCI Santana. A empresa também fez campanha para mostrar as medidas adotadas como um sistema de purificação do ar-condicionado que usa polarizadores de íons que destroem microrganismos.
Outro setor que dá novos passos é o de shoppings centers, que já vem de um período reaberto com regras e horários especiais. A Multiplan apresentou uma campanha para a nova fase, destacando os reencontros entre familiares e amigos, mas reforçando os cuidados adotados para receber o público.
Criado pela agência Lápis Raro, o filme retrata a transição dos encontros apenas por videochamadas para o momento de sair de casa. Rodrigo Peres, co-head de marketing, inovação e negócios digitais (MIND) da Multiplan, comenta a estratégia. “Estamos preparados para ser palco de novas histórias e fazer parte da rotina dos nossos clientes novamente. As pessoas aguardaram muito por esse momento de reencontro e estamos prontos para recebê-las. Sempre seguindo à risca as orientações dos órgãos de saúde, o público encontrará os nossos shoppings ainda mais seguros”, afirma.
A música também começa a subir o volume novamente. O Espaço das Américas, famoso pelos shows e diversos eventos em seu portfólio, prepara uma reabertura com o projeto Edição Limitada. A iniciativa segue as recomendações dos órgãos públicos e atende aos protocolos de segurança e prevenção ao Covid-19, publicados no último decreto válido para a cidade de SP.
A ideia é reunir artistas da música brasileira em shows para público reduzido. O primeiro será em 14 de novembro, com Nando Reis no estilo voz e violão e com a participação de Sebastião Reis, seu filho. No dia 21 é a vez do samba, com Thiaguinho, e no dia 28 com a banda Capital Inicial.
Mesmo “depois” da pandemia e com a disponibilidade da vacina, diversos profissionais não acreditam que eventos voltem a ser “somente” físicos. Para eles, o caráter híbrido seguirá forte pela possibilidade de alcançar mais pessoas e amplificar a mensagem – e os resultados – com o online.
Aires, da Abrevin, dimensiona o poder crescente do virtual daqui pra frente. “O setor de venda de ingressos já vem passando por uma transformação digital há alguns anos. Mas a pandemia acelerou esse processo para uso em experiências com realidade virtual ou aumentada, por exemplo. As tecnologias de VOD e live streaming passarão a fazer parte dos eventos, pois se mostraram muito eficazes e com o poder de aproximar ainda mais os fãs de seus artistas preferidos. O conteúdo continuará sendo sempre o diferencial na indústria do entretenimento, seja de forma presencial ou online. Acreditamos na força dos eventos híbridos, mas também temos a ciência que, com o retorno da vida social, o uso destas plataformas deverá ser reduzido, mas não esquecido.”