Eu sempre fui um apaixonado pela propaganda. Paixão mesmo. Tesão, tara. Fogo. E me entristece ver que, nas novas gerações de criativos, essa paixão está ficando cada vez mais rara. Não estou falando de falta de talento, muito pelo contrário: aqui nasce criativo “bão” em tudo quanto é canto, tal qual craques de bola surgem todos os dias nos terrões Brasil afora. Não é esse o caso.

Falo daquela paixão arrebatadora que passa por cima dos defeitos (a nossa profissão tem muitos, como qualquer outra).

Falo daquele brilho nos olhos ao se deparar com a grande ideia. Da eletricidade de buscar o diferenciado.

Falo do orgulho de fazer o que faz. De ser o que é.

Meu romance com a propaganda começou como uma espécie de “blind date”.

Eu não tinha a menor ideia do que fazer no vestibular. Eu só sabia o que eu não queria fazer: medicina. Sou filho de médico e, muito sutilmente, na visão dele, meu pai dava indiretas, às vezes diretas, sobre o orgulho de ser médico, de nos ver médicos e coisa e tal.

Acho a medicina uma profissão muito nobre e apaixonante, mas não era pra mim.

Gente, eu sinto um ‘gelado na bunda” quando vejo sangue!!!!

Aliás, minha filha sente a mesma coisa nessas ocasiões. Prova de que, se muitas vocações são hereditárias, as não-vocações também são.

Eu me inscrevi no vestibular de comunicação social, com tanta convicção, SQN, que no dia da inscrição eu saí da fila e liguei de um orelhão pra minha mãe, na busca de uma confirmação de que estava fazendo a coisa certa. Não lembro do que ela disse, colocada nessa situação. Mas fui em frente.

Comecei meu curso na UFRJ, Praia Vermelha, a famosa ECO. E, logo de cara, peguei uma greve de professores e funcionários. Seriam várias nos quatro anos que passei ali.

Saí da URFJ especializado em greves, não em propaganda.

Lembro-me que vagavam pelos corredores vários veteranos, que já tinham teoricamente acabado o curso, mas perambulavam por ali. Eu pensava: esses caras não trabalham não? Isso me deu aquele “gelado na bunda”, mesmo sem estar vendo sangue.

Caramba, vou ser mais um desempregado!!! Não é possível que eu percorra 60 km todo dia pra isso. Se é pra ser desempregado, era melhor eu ficar em casa. Pelo menos economizava as passagens!

Para tentar mudar meu suposto destino trágico, cheguei a fazer faculdade de direito, profissão séria, mas isso é uma outra história.

E como eu vi a luz? Comecei a estagiar na Artplan, como redator, numa equipe incrível. Eu criava, criava, mas nada era aprovado. E, no dia seguinte, fazia tudo de novo.

Só toco. Até que um dia, emplaquei uma ideia. Gente, foi uma revelação: ah, é isso??!!!! Entendi.

Naquele dia eu não fui à UERJ, onde fazia direito à noite. Aliás, nunca mais voltei lá, para o desgosto da minha mãe. Naquele dia eu me transformei num publicitário.

Eu tinha, e tenho, um orgulho louco de ser publicitário. Enchia a boca pra contar o que estava fazendo. Ficava horas e horas atrás da melhor ideia. Às vezes, como gato e rato, ela fugia de mim. Mas eu ia atrás, onde quer que ela fosse. Eu me sentia importante. Vaidoso mesmo, confesso.

E a vida me levou a trabalhar, depois daquele começo, com vários e vários profissionais completamente apaixonados por propaganda. Incansáveis nessa caça de gato e rato sem fim. Não vou citar nenhum, porque gostaria de citar todos.

Hoje, em vários papos com criativos mais jovens, é recorrente essa analogia: “Mas você chegou na propaganda no auge da festa… A gente chegou não tinha mais salgadinho e estavam varrendo as latinhas de cerveja amassadas!”.

É, o ritmo da música mudou radicalmente. Bora soltar a cinturinha e curtir.

Rodolfo Sampaio é sócio e CCO da Moma Pro (rodolfo@momapro.com.br).