Wayra, aceleradora do Grupo Telefônica: apoio para operações digitais, com investimento e consultoria

 

O mercado de startups no Brasil é considerado um dos mais dinâmicos do mundo. De acordo com a firma de investimento norte-americana Siguler Guff, o país deve ser um dos dez maiores destinos para fundos de private equity nos próximos anos e o fluxo de capitais para cá é o que está na mola do crescimento de startups – empresas pequenas, sobretudo de base tecnológica.

As companhias dividem-se entre diversas áreas, mas os setores de mídia e de e-commerce são os que mais chamam a atenção dos fundos de capital. De acordo com a Abstartups (Associação Brasileira de Startups), o país tem hoje uma média de dez mil startups. Entre as capitalizadas, 20% são empresas com soluções para o setor de mídia, que abrange, por exemplo, empresas de mobile, portais e companhias de conteúdo.

“Um dos focos é esse porque o Brasil tem segmento reconhecidamente forte”, explica Gustavo Caetano, presidente da associação. “Os investidores estão apostando em negócios com alta taxa de retorno. No Vale do Silício, o investimento vai para companhias disruptivas, das quais ninguém sabe o futuro. Aqui, são preferidos projetos mais palpáveis. Por isso o foco em e-commerce e mídia, porque o mercado já tem grandes agências de publicidade, altas taxas de consumo e dinheiro circulante”, diz.

Pimenta: Vale Presente levantou R$ 30 milhõesNa esteira de exemplos bem-sucedidos como Peixe Urbano, Netshoes e Buscapé, nascem empresas que conquistam alto volume de capital com ideias inovadoras. Uma delas é a Vale Presente. Lançada em outubro do ano passado, nasceu com capital de R$ 30 milhões, viabilizado pelo fundo de Carlos Wiser, do grupo Multi, dono de escolas como Wizard e Yázigi.

Hoje, a Vale Presente é a maior startup independente do país. Ela foi inspirada no modelo norte-americano de cartões de presente, onde o segmento movimenta US$ 200 bilhões anualmente, apontam números do Nielsen. Seis meses após chegar ao mercado, ela tem contrato com 70 marcas, como Shoestock, Kopenhagen e Fast Shop, e é certificada pela Mastercard. Ela oferece soluções para que as marcas vendam cartões pré-pagos de R$ 50 a R$ 1,5 mil, em lojas físicas e online, e gerencia a plataforma de vendas. A meta é, até dezembro, faturar R$ 100 milhões. “Geramos lead para a marca e ela sabe que o montante será sempre gasto na loja”, aponta Marcelo Pimenta, gerente-geral de marketing da Vale Presente.

A companhia começou a ser desenhada em 2003, mas apenas em 2011 conseguiu o montante necessário para operar. Para Rodrigo Borges, fundador e CEO da empresa, há “com certeza” um mercado para startups no país. “Há oportunidades para arriscar. Isso está ligado ao enriquecimento do Brasil como um todo, o que permitiu sobrar capital para investir em boas ideias”, analisa.

Borges: Brasil tem capital para investir em boas ideiasLevantamento da consultoria internacional Startup Genoma mostra que São Paulo hoje é a 13ª cidade mais ativa no mercado de startups e já emprega o mesmo número de pessoas que o Vale do Silício. “O mercado está muito mais aquecido do que há dez anos. As empresas estão preparadas para investir e há muito mais investidores, tanto pessoa física quanto fundos estruturados, algo que é recente no Brasil”, avalia Carlos Pessoa, diretor da Wayra, aceleradora trazida ao Brasil pela Telefônica em julho do ano passado.

A empresa presta consultoria para startups em 11 países e ajuda as novas operações para que possam se desenvolver no mercado. Ela financia soluções que podem ser utilizadas por empresas do grupo, como Vivo e Terra, além de virar sócia minoritária nos negócios, que podem ser vendidos no futuro ou abrir capital na Bolsa de Valores. A primeira leva de 16 startups apoiadas pela Wayra será formada em maio. Cada uma recebeu R$ 100 mil em investimento e R$ 200 mil em serviços de consultoria.

Varejo e mobile

Dados da ABVCAP (Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital) mostram que o varejo recebeu 22% dos aportes dos fundos em 2012. Soluções em mobile para gerar vendas no mundo físico têm recebido atenção especial. A DotLegend, especializada no desenvolvimento de apps para mobile shopping, percebeu o interesse do mercado. Ela lançará no próximo mês o aplicativo Belezuca, cujo foco é levar consumidores para dentro do ponto de venda. A companhia foi capitalizada por investidores-anjo e recebeu aporte de Hugo Bethlem, que até 2012 respondia pela vice-presidência executivo do Grupo Pão de Açúcar.

“Desenvolvemos tecnologia de geopresença que identifica o consumidor quando ele entra numa loja. O lojista pode dar ofertas especiais, incentivar o consumidor a aderir ao seu cartão fidelidade ou mesmo dar moedas virtuais, que podem ser trocadas por produtos e servem de incentivo”, explica Fabio Freitas, fundador da empresa. O serviço é inspirado no app Shopkick, dos Estados Unidos, que registrou, em dezembro de 2012, o maior tempo médio de uso durante as compras, segundo o Nielsen.

Há pilotos do projeto Belezuca rodando desde o início do ano no Rio de Janeiro, em pontos como a Gelateria Amarena, na praia de Copacabana e na adega e restaurante Cavist, localizado em Ipanema. Mas a startup negocia com cinco varejistas de capilaridade nacional para levar a solução para outras cidades.

Segundo Freitas, o crescimento da base de celulares com acesso à internet fez crescer o interesse por soluções de mobile shopping. “Temos pouco mais de 30 milhões de smartphones e esse número deve dobrar nos próximos 12 meses, devido à série de desonerações dadas pelo governo”, aponta. “O problema número um do varejo é levar o consumidor para dentro da loja. Se ele entra e é impactado, sempre existe a probabilidade de conversão”, diz.