De todas as transformações que vêm acontecendo na mídia impressa brasileira nos últimos tempos, uma das mais impactantes foi o novo projeto editorial anunciado pelo jornal O Estado de S. Paulo, que chega às mãos dos leitores mais compacto a partir desta segunda-feira (22). O diário, que tem 134 anos e é considerado um dos mais influentes do país, passa a circular com apenas três cadernos e mais um suplemento diário, sendo que, aos domingos, será ampliado.
Sinal dos novos tempos? A alegação é de que o Estadão foi reorganizado para tornar a leitura mais eficiente, uma vez que as pessoas não têm mais tempo para ler tanta coisa. “Temos um ciclo a cada três anos de debates e pesquisas em torno do produto. O último foi em 2009, que resultou no desenho de 2010. Naquela época, ficou claro que a mídia impressa tinha que ir para o analítico. Avançamos muito em tornar o jornal mais reflexivo sem perder a notícia, que é sempre a âncora do jornalismo. Mas, desde lá, ficou um debate sobre o jeito de organizar o jornal e a pergunta: será que as pessoas têm tempo de ler tudo isso? Aprofundamos a questão no segundo semestre de 2012 e um novo ciclo de estudos confirmou que os leitores nos admiram pela consistência, aprofundamento, mas estão expostos, principalmente nos dias úteis, a um ritmo de vida muito frenético”, conta Ricardo Gandour, diretor de conteúdo do Grupo Estado.
A nova configuração é a seguinte: no primeiro caderno, o jornal trará notícias políticas, internacionais e de metrópole; no segundo, de economia e negócios; e no terceiro, o Caderno 2. Os suplementos diários são: Esportes, na segunda-feira; Viagem, na terça; Jornal do Carro, na quarta; Paladar, na quinta; Divirta-se, na sexta; e Classificados, no sábado. “No domingo, a gente mantém e amplia os cadernos. É quando as pessoas têm mais tempo. O Aliás, por exemplo, será ampliado com a nova seção Olhar Estadão, com edição das melhores imagens da semana”, destaca Gandour.
O executivo explica que nos dias que o suplemento Esportes não circular, notícias sobre o tema serão incorporadas ao primeiro caderno e, sempre que houver um grande campeonato, o suplemento será publicado. Para ele, o pilar do projeto é bem interessante e o resultado final será um jornal mais editado. “É apostar e jogar energia realmente nos fatos que merecem reflexão. Será um jornal mais difícil de fazer. É mais editado, porque tem mais pensamento, por isso nós mexemos no horário de fechamento, que se estendeu”, detalha.
O projeto gráfico continua o mesmo, apenas com a inclusão de algumas vinhetas e formatos novos de anúncios. “Estamos levando para o mercado formatos inéditos dentro do jornal, com encartes diferentes e selos patrocinados por editorias. É uma combinação boa e perfeita, de melhoria do produto com aumento de potencial de anúncios”, diz Rogério Gabriel Comprido, diretor de mercado anunciante do Grupo Estado, que fez um road show para as agências apresentando o novo projeto editorial. “A repercussão no mercado está sendo muito boa”, garante.
Consequentemente, a revisão do projeto editorial do diário conduzida pelo Grupo Estado levou a cortes na redação. Segundo Gandour, de um universo de 600 profissionais, entre São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, foram feitas 31 demissões. “Foi uma ação de gestão, necessária para investir em novos talentos, no digital, novas tecnologias e inclusive em novas habilidades. Tínhamos uma estrutura dimensionada para um jornal com assuntos espalhados”.
Uma novidade que vem acompanhada do “novo” Estadão impresso é a também nova versão do mobile site. “Simplesmente abandonamos a versão anterior e estamos lançando outra”, conta Gandour. Uma campanha criada pela WMcCann vai apresentar as novidades, na TV e no jornal. O mote da fase teaser foi: “Em breve, um Estadão como você nunca viu, mas sempre leu”.