Enquanto não somos vacinados contra a Covid-19, poderíamos adiantar outras vacinas que seriam muito bem-vindas em 2021.
Vacinas contra o preconceito, a soberba, a presunção, a prepotência, o mau humor, a arrogância, o mau gosto, a grosseria, a indiferença, o egoísmo, a insensibilidade, o sadismo, o mau-caratismo, a desonestidade, o cinismo, a hipocrisia, o machismo, a homofobia, a falsidade, o radicalismo, a malandragem, o oportunismo, a covardia, a agressividade, a mediocridade, a boçalidade, o pernosticismo, a empáfia, a subestimação, a superestimação, o vitimismo, a injustiça, a intolerância, a negligência, a irresponsabilidade, o fanatismo, o negacionismo, a crendice, o ceticismo, o desânimo, a ignorância, a simploriedade, o ódio, a leviandade, a abusividade, a perversidade, a crueldade, a teimosia, a aleivosia, a mesmice, o desrespeito, a insegurança, a obtusidade, a vaidade, a veleidade, a parvoíce, a pavonice, a canalhice, a inveja…
Você consegue imaginar um mundo livre de todas essas pragas? Consegue imaginar um ambiente familiar, um local de trabalho, suas relações contratuais, como cliente ou fornecedor, como empregado ou empregador, como eleito ou eleitor, como palco ou plateia, como amigo, colega, sócio, sem precisar se prevenir o tempo todo contra as ameaças de todos esses males?
Se a taxa de letalidade da Covid-19 anda pela casa dos 1%, qual será a de todos eles juntos? Quantas vezes quanta gente terá adoecido, foi parar no hospital ou acabou perdendo o juízo ou cometendo suicídio por conta dos efeitos provocados por uma ou mais daquelas palavras que listei? Quantos de nós contaminamos ou fomos contaminados pelos outros com esses vírus, às vezes sem querer, às vezes por querer?
No fundo, todos tememos o coronavírus por uma única razão: não temos controle sobre ele e dependemos dos cientistas para nos salvaguardarmos nos resultados de seu experimentos. Precisamos da orientação de campanhas que dizem como devemos agir para não causar-nos mal nem aos outros, em razão de uma inevitável interdependência que se criou.
Não é interessante? A pandemia nos obriga a ingressar num mutirão para a nossa proteção individual. Ainda que contrariados, não temos alternativa: somos obrigados a proteger a todos se quisermos nos salvar. E, com relação a todas aquelas outras ameaças, o que fazemos? São tão mais fáceis de lidar, não precisamos de cientistas, nem de laboratórios, nem de campanhas. Precisamos apenas das nossas consciências.
É lá que está a vacina que neutraliza o potencial de dano que podemos causar aos outros e a nós mesmos. É lá que ela pode ser produzida, a custo zero e de aplicação imediata. Por que, então, sob inspiração da pandemia, não começamos esse programa de vacinação logo?
As consequências são facilmente previsíveis: relações de trabalho mais saudáveis e amigáveis, relações familiares conduzidas pelo amor, relações de mercado mais respeitáveis… Enfim, um ambiente propício, mesmo que ainda seja apenas uma boa intenção, para que possamos ter um feliz ano novo de verdade.
Stalimir Vieira é diretor da Base Marketing (stalimircom@gmail.com).