O telemonitoramento é uma engenharia médica cada vez mais segura para emitir alertas de riscos iminentes (Rawpixel/Freepik)

A ciência de dados e a inteligência artificial são responsáveis diretos pela criação de 20 vacinas da Covid-19, feito inédito na história da ciência imunológica. Outro progresso sem precedente está na expectativa de vida, que aumentou 60% graças aos avanços da tecnologia e ciência verificados na última metade do século.

“Em qualquer parte do mundo, nesse momento, alguma inovação tecnológica está sendo iniciada. Milhões de indivíduos estão utilizando em sua saúde uma tecnologia que não existia há 12 meses”, situa Guilherme Hummel, coordenador científico do HIMSS Hospitalar Fórum e da Digital Journey by Hospitalar e head mentor do eHealth Mentor Institute (EMI).

Na revolução dos healthcare consumers cada indivíduo será capaz de utilizar ferramentas para gestão de suas patologias, principalmente as enfermidades crônicas, que representam 60% de todos os gastos com saúde no mundo. Nanotecnologia, biossensores, inteligência artificial e massificação dos smartphones explicam o sucesso dos dispositivos na saúde.

Os elementos médico-assistenciais contidos em mHealth (mobile health), Telehealth (telemedicina) ou Healthcare Wearables direcionam a expansão da Saúde 4.0 com produtos, serviços e procedimentos ancorados nos preceitos da predição, prevenção, personalização e participação.

Pulseira inteligente Halo é a aposta da Amazon para ajudar as pessoas a controlarem os movimentos do corpo (Divulgação)

Mãos estendidas
Das bigtechs vêm ajuda para distúrbios que dispararam durante a pandemia da Covid-19. Com Alexa’s Burnout, a Amazon distribui informações sobre a síndrome que afeta cada vez mais executivos em todo o mundo. Criada pela Africa, a ação feita em parceria com a Associação Brasileira de Psiquiatria ganhou Leão de Bronze em Radio & Audio no Cannes Lions 2021.

“Foi um trabalho em equipe que resultou numa campanha educacional pela saúde dos brasileiros. A Alexa está pronta para responder sobre a síndrome de Burnout a qualquer momento, com informações alinhadas com a ABP”, comenta Tiago Maranhão, editor sênior de Alexa, assistente de voz da Amazon, que também aposta na pulseira inteligente Halo, capaz de controlar os movimentos do corpo.

Já a computação em nuvem consegue aumentar o ritmo de inovação, revelar o potencial dos dados e personalizar a jornada dos serviços de saúde, aprimorando a experiência de pacientes e provedores ao longo de todo o processo. Expoente desse mercado, a AWS (Amazon Web Services) também atua junto a clientes da área de genômica para potencializar a medicina de precisão.

“O objetivo é harmonizar conjuntos de dados multiômicos para transformar big data em descobertas clinicamente relevantes”, diz Paulo Cunha, diretor de vendas para o setor público da AWS no Brasil. Parcerias, trabalho colaborativo e inovação ajudam a enfrentar a pandemia. Hospitais, por exemplo, aproveitaram machine learning e a nuvem para implantar serviços de telemedicina e chatbot com orientações sobre o coronavírus.

Alexa, assistente de voz da Amazon, ajudou a disseminar informações sobre a síndrome de Burnout (Divulgação)

A nuvem pode ainda apoiar a previsão clínica, o envolvimento personalizado e a pesquisa, além de acelerar a descoberta de medicamentos. Agilidade e escalabilidade também protegem os dados dos pacientes, permitindo a interoperabilidade conforme os padrões globais.

A plataforma Varstation, do Hospital Israelita Albert Einstein, cliente da AWS, é um exemplo de manipulação de tecnologia e democratização do conhecimento em saúde. “Ela suporta o processamento e a análise de amostras genéticas humanas com um ambiente personalizável, baseado em nuvem, seguro, centralizado e clinicamente validado”, esclarece Cunha.

Além disso, oferece conhecimento tecnológico em medicina de precisão e serviços de alta qualidade, permitindo que as instituições de saúde prestem o melhor tratamento aos seus pacientes e tenham mais recursos para os pesquisadores da área.

A partir deste projeto, foi criado um teste genético para detecção em larga escala do coronavírus usando a técnica de Next Generation Sequencing (NGS) com 100% de especificidade – ou seja, não apresenta casos de falso positivo.
Com acurácia equivalente ao método RT-PCR, padrão em diagnóstico, a metodologia é capaz de analisar até 16 vezes mais no mesmo intervalo de tempo. Este novo recurso aparece como uma opção viável para testes em massa, representando um passo à frente no combate à pandemia.

Apple WatchOS8 traz leitura de oxigênio (Divulgação)

Lado a lado
Empatia e tecnologia trazem soluções transformadoras “a começar pela Apple, que se vê no futuro como uma empresa de saúde”, lembra Mauro Arruda, co-managing director e ECD da FCB Health Brasil. Com o Apple WatchOS8, a marca coloca no pulso das pessoas leitura de oxigênio sanguíneo e frequência cardíaca, sinais que podem ajudar a detectar um infarto antes mesmo que ele aconteça.

“O telemonitoramento é uma engenharia médica cada vez mais segura. Pode servir para o diagnóstico em tempo real e alerta quando existem riscos”, confirma Hummel. Smart watches e smartbands, entre outros dispositivos IoT – da sigla em inglês para Internet of Things, ou internet das coisas – fornecem dados captados por modelos de machine learning treinados para oferecer suporte a organizações de saúde.

Têm ainda potencial para criar uma visão completa do histórico médico do paciente, facilitando a obtenção de parâmetros comparativos com o restante da população. No México, a Roomie IT Services, parceira da AWS, já monta robôs autônomos capazes de auxiliar no diagnóstico da Covid-19.

“Mas tecnologia não cura. Quem opera as transformações são as pessoas. Sem elas, nenhum algoritmo ou inovação digital traz resultados”, adverte Hummel. Da mesma forma, pessoas que ignoram as soluções digitais não produzem avanços em escala civilizatória. “Empatia é o éter que envolve pessoas e tecnologias”, crava.

O Google também vem desenvolvendo projetos baseadas em inteligência artificial e machine learning para apoiar o diagnóstico de doenças como câncer e tuberculose. Outro exemplo é o projeto DNA do Brasil, realizado em parceria com o Google Cloud e pesquisadores, para apresentar o DNA brasileiro ao mapa genético global.

O buscador soma 15 healthtechs no programa Google for Startups, entre elas Portal TeleMedicina e Vittude. Durante a pandemia, forneceu acesso de dados às autoridades de saúde pública e disponibilizou recursos para a comunidade de epidemiologistas, analistas e pesquisadores. A inteligência artificial também guia as iniciativas empenhadas pelo Facebook AI Research. As iniciativas abrangem soluções para doação de sangue, ressonâncias magnéticas e medicamentos para doenças complexas.