A primeira vez que desembarquei em NYC com a família todos estavam mais que cansados. Começo de noite, tudo o que queriam era banho, cama e alguma comida qualquer. Desci ao Deli ao lado do hotel e pedi comidinhas, café e chocolate quente – nevava. Foi quando o atendente latino urrou: “tostayortogo?”. Literalmente, paralisei. Não entendi absolutamente nada. Quando repetiu pela terceira vez entendi, e, aliviado, respondi: “to go!”.

Houve um tempo em que só existia o “to stay”. O “to go” era a exceção. Mas depois o delivery foi se multiplicando, as ruas entupindo-se de automóveis, as distâncias físicas, as mesmas, mas o tempo para se percorrer dobrando, duplicando, impossibilitando.

Do alto de sua sabedoria, Peter Drucker alertou, há 50 anos: “De que adianta investir uma fortuna para trazer para o centro das cidades corpos pesando 80 quilos, se tudo o que vocês querem são seus cérebros, que pesam, no máximo, 3,8 quilos?”.

O mundo não ouviu e sequer entendeu a pergunta. Por outro lado, faltavam régua e compasso capazes de induzir uma nova cultura e forma de trabalhar. Com o digital tudo se tornou possível. Mas chegaremos lá, em vez de “to stay” nas empresas, as pessoas receberão “to go” tudo o que têm a fazer em suas casas. E como pessoas não mais vão – “to go” –, permanecerão – “to stay” – no conforto de seus lares.

O mesmo vem ocorrendo em outros territórios, especialmente no da saúde. É mais fácil, rápido, econômico, eficaz, humano e saudável atender os pacientes em suas casas do que superar todos os desafios do trânsito para os entregar a hospitais onde existem mais e melhores recursos e as mais perigosas bactérias e vírus, também. Só que o Ministério Público do Trabalho não pensa assim.

Chega um dia e envelhecemos. Velhos, mas vivos. E os planos de saúde e demais novos players do território começam, finalmente, a raciocinar. E assim, quase que do dia para a noite, o tal de home care vem prevalecendo.

Hoje são mais de 500 empresas que atuam nesse território – internação e atendimento domiciliar – e essa oportunidade converteu-se num negócio bilionário e, acima de tudo, especializado. Um faturamento estimado, até 2020, de R$ 6 bilhões e a consciência de que as soluções e tratamentos jamais podem se restringir ao enfermo, mas na preparação e indução de uma nova cultura a toda a família. Passam a conviver com um ente querido – mas doente e necessitando de cuidados e medicações recorrentes – em suas casas.

Leio agora na revista Exame de número 1.116 a história de uma dessas empresas que cresce e prospera nesse território. Trata-se da Home Doctor, de três amigos que se conheceram no batente, dando plantão e operando num hospital de São Bernardo do Campo, os cirurgiões Ari Bolonhezi, Emilio de Fina Junior e José Eduardo Ramão. Nas horas de folga, conversavam sobre o que fazer com os pacientes que já tinham superado a cirurgia, não precisavam mais de todo o arsenal de equipamentos dos hospitais, mas lá permaneciam correndo riscos desproporcionais, sem o menor sentido, e ainda ocupando espaço.

Depois de algumas caminhadas, perguntas e pesquisas concluíram sobre a existência de uma megaoportunidade de mercado, já atendida exemplarmente em outros países, mas ignorada no Brasil. Nascia a Home Doctor: em dezembro de 1994, foi atendido o primeiro paciente de internação domiciliar.

Hoje, 12 anos depois, a empresa está presente em 73 cidades de São Paulo, Rio, Bahia e Distrito Federal, com um faturamento de R$ 200 milhões.

Por incrível que pareça, uma solução que faz a felicidade dos pacientes, de suas famílias, dos planos de saúde, dos hospitais, da sociedade – de todos! – corre o risco absurdo de se inviabilizar por uma legislação trabalhista podre, carcomida e fascista. O MPT (Ministério Público do Trabalho) exige que os atendentes sejam contratados, impedindo-os de se organizarem em cooperativas, como ocorre atualmente, inviabilizando a solução e encarecendo os tratamentos.

“Tostayortogo”? “To go”! Em direção ao futuro e à modernidade, à inovação redentora que contempla todos os interesses e partes. Se o Estado balofo, paquidérmico e corrupto não atrapalhar.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing