Nascido em 2006 nos Estados Unidos e há pelo menos dois anos consolidado no Brasil como uma das opções mais aceitas de mídia social, tanto para usuários comuns como para empresas, o Twitter, finalmente decidiu abrir uma operação local no país, inaugurada oficialmente nesta quarta-feira (5). A prática não é tão comum, o que demonstra a relevância que a empresa está dando para o mercado brasileiro. Fundado Jack Dorsey, Noah Glass, Evan Williams e Biz Stone nos Estados Unidos, em seus já quase sete anos de existência, esta é apenas a terceira base da rede social fora de seu território de origem, somando-se a Reino Unido e Japão.
A apresentação da chegada do Twitter ao Brasil trouxe Shailesh Rao vice-presidente internacional da empresa, para contextualizar o atual momento da ferramenta no mundo e também localmente. Em sua análise, o executivo destacou a integração atual da rede com a TV, exaltando sua força no fenômeno intitulado “2ª tela” — conceituado como a utilização de celulares ou tablets junto ao hábito de se assistir televisão. “Em nossos acompanhamentos, é possível ver claramente grandes picos de tweets sobre um determinado assunto assim que ele é relacionado com uma hashtag, por exemplo, durante um programa”, garante, estendendo a abordagem para aquela que, em sua concepção, é uma das principais funcionalidades da rede social: “Não é o fato isolado de adicionar conversação a um fato ou acontecimento específico, mas sim como essa conversação pode aprofundar e transformar aquela experiência. Acreditamos poder levar as pessoas para mais perto dos eventos, dos assuntos e das discussões, não importa quais sejam”.
Nomeado como diretor geral do Twitter no Brasil, Guilherme Ribenboim apresentou uma série de dados para comprovar o posicionamento, além de reforçar a aceitação do brasileiro em relação à ferramenta por questões culturais. “O brasileiro gosta de se comunicar por natureza e, nesse sentido, o Twitter se adéqua perfeitamente ao público local”, enfatiza Ribenboim. Como exemplo dessa necessidade e da relevância que o Twitter pode gerar para diversos casos, ele levantou cases como a concepção do último livro de Paulo Coelho, “Manuscrito encontrado em Accra”, o qual o próprio autor declarou ter sido concebido com auxílio de seus seguidores; a despedida de Mano Meneses da seleção brasileira, confirmada “em primeira mão” pelo perfil do ex-técnico; e a postura recente de Romário convocando seus seguidores a pressionarem, também via Twitter, os deputados para a instauração da CPI da CBF.
Via dupla
Ainda em dados relativos à ligação entre Twitter e TV, Ribenboim trouxe pesquisas que indicam que a rede social é cada vez mais um canal de discussão daquilo exibido na “primeira tela”, enquanto a TV também, em muitos casos, tem no Twitter um reforço de divulgação e consolidação. “Nos EUA, 41% dos usuários de tablet ou smartphone utilizam os dispositivos na frente da TV ao menos uma vez ao dia, sendo que 35% desses conectados às redes sociais. Uma pesquisa da TVGuide.com aponta que 17% dos presentes em mídias sociais procuraram um programa de TV após ele ser muito divulgado por seus contatos, com 35% deles permanecendo como audiência fiel. A TV, em seu nascimento, já era uma ferramenta de interação social, mas restrita à casa, unindo a família. Com o Twitter e outros canais, isso foi amplificado a nível mundial”, detalha Ribenboim.
Focado no mercado brasileiro, o diretor geral revelou que o último jogo da final da Libertadores, disputado no Pacaembu (SP) e que sagrou o Corinthians como campeão, gerou o maior índice de TPM (Tweets Por Minuto) do ano no país: 3.548. O segundo lugar ficou com o último capítulo da novela “Avenida Brasil”, 3.031, com o primeiro jogo da final da Libertadores em terceiro (2.745), a morte de Chico Anysio em quarto (2.226) e um dos últimos episódios do programa “The Voice Brasil”, da Rede Globo, em quinto (2.068). E para ampliar o contato do público local além dos grandes eventos, Ribenboim promete, a longo prazo, a disponibilização de Trending Topics — lista dos assuntos mais discutidos divididos por regiões — para cidades além de São Paulo e Rio de Janeiro, como Belo Horizonte, Fortaleza, Recife e até algumas fora das capitais, como as paulistas Guarulhos e Campinas. “Isso ajudará o usuário a encontrar e participar de conversas cada vez mais próximas a ele”, acrescenta.
Força publicitária
A abertura de um escritório do Twitter no Brasil, porém, tem a intensificação do potencial publicitário como base de sustentação. “Estamos sim focados na venda de publicidade, assim como no início de parcerias estratégicas e na divulgação do nosso conteúdo. Com sucesso nesses quesitos, poderemos em breve intensificar nossa presença no país”, indica Rao.
Hoje, a rede social oferece três formas de participação das marcas além de um perfil comum de conteúdo: Promoted Twetts, que oferece mensagens patrocinadas para um público específico; Promoted Trends, com a figuração de um assunto entre os Trending Topics; e Promoted Accounts, divulgação especial de perfis para turbinar a quantidade de seguidores.
Até então, a participação dos anunciantes brasileiros era extremamente tímida, principalmente por não existir um canal oficial que facilitasse a contratação e negociação desses serviços. Porém, Ribenboim indica que a aceitação e vontade das empresas de participar desse processo vai alavancar exponencialmente a utilização por aqui. “Era difícil participarmos do plano de mídia por que não havia ninguém do Twitter para dar suporte a ele. E isso será solucionado com nossa presença física no Brasil. Os anunciantes estão buscando oportunidades para estarem em todos os pontos de contato possíveis, e o Twitter é um canal de grande relevância nesse planejamento. Já existem agências muito bem estruturadas em relação a ações para mídias sociais, além de ser notável o grande interesse delas e dos anunciantes”, assegura.
Rao sublinha, como argumento principal para a atração, os diferenciais de segmentação e abordagem que as ferramentas publicitárias do Twitter proporcionam. “Nossa abordagem é muito diferente. Desenvolvemos uma forma de publicidade muito semelhante com a experiência geral do usuário. Não temos banners ou outros formatos invasivos, já que não queremos que nosso público veja a publicidade dividindo a audiência com o conteúdo que ele busca por vontade própria. As mesmas mensagens que podem ganhar divulgação organicamente, podem ganhar mais visibilidade de forma promovida — mas sempre claramente identificada. Além disso, respeitamos as preferências dos usuários, graças às oportunidades de segmentação. Com isso, uma mensagem sobre roupas esportivas deve chegar àqueles que demonstram interesse na prática esportiva, sendo muito mais pertinente e potencializando a divulgação”, detalha Rao.
Os executivos do Twitter não abrem números específicos para cada um dos mercados, mas já colocam o Brasil como o quinto país mais relevante em termos de usuários ativos, líder absoluto na América Latina. Pela importância mostrada com as novas investidas da empresa localmente, não deve demorar para, na parte comercial, o país demonstrar a mesma relevância em faturamento.