Eu queria que o Brasil fosse gerido como o evento de abertura das Olimpíadas. Eu queria o Abel Gomes da administração, o Fernando Meirelles da economia, o Andrucha Waddington da saúde, a Debora Colker da mobilidade urbana, a Daniela Thomas da educação, a Rosa Magalhães da infraestrutura…

Queria que as pessoas mais competentes fossem convocadas para as posições mais importantes, sem concessões. Que todos estivessem engajados e comprometidos com o melhor resultado.

Que a criatividade prevalecesse e os recursos fossem otimizados. Que se valorizasse a diversidade sexual, racial, artística.

Como seria bom se todos os que liderassem esse país tivessem noção de conjunto para um resultado global, de timing para não se perder oportunidades, de respeito, de bom gosto, de beleza e de comprometimento.

E aí nós teríamos um Brasil moderno como o vídeo mapping, o parkour virtual e os lindos efeitos visuais da cerimônia. Um país respeitoso com as suas origens, como a representação dos índios e da migração.

Orgulhoso dos seus inventivos Santos Dumonts. Um país elegante como Paulinho da Viola e glamouroso – por que não? – como Gisele.

Com gente vibrante e dançante, orgulhosa por viver num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza. Gente que respeita a convivência de Anittas com Caetanos e Gils.

De Jorges, Ludmilas, Elzas e Reginas. Tudo junto e misturado, num belíssimo balaio de diversidades. Um país que aplaude seus ídolos de todos os esportes, sejam eles do tênis, do basquete, da corrida. Que aplaude também o garoto da comunidade, escolhido para acender a pira da esperança.

Um país que recebe os estrangeiros na sua casa com a simpatia de um alegre desfile, intercalado por representantes das mais diversas etnias ou opções sexuais, montados sobre ingênuos veículos que simbolizam as expressões pela sustentabilidade.
Um país que convoca voluntários para ajudar, mas também seus visitantes para proteger o futuro, convidando-os a plantar sementes por um mundo melhor.

Um país que provoca sorrisos e faz o mais sisudo dos seus convidados balançar ao som de um ritmo irresistível. Alguns dos que chegaram até esta parte deste texto um tanto quanto piegas devem estar me achando uma Poliana, um ingênuo sonhador, que confunde a festa de um momento único com a dura realidade do nosso país.

Pode ser, mas – acredite – não sou o único. Ao contrário, há milhares de brasileiros que acreditam que esse Brasil existe de verdade. Que, assim como ocorreu na cerimônia de abertura das Olimpíadas, só espera uma oportunidade de se manifestar e demonstrar toda a sua capacidade, mesmo diante de toda a adversidade.

Eu realmente acredito que esse Brasil utópico está aí, escondido atrás da amargura e da perplexidade perante tantos desmandos de gente que não o reconhece.

Você dirá: daqui a pouco, acabam os Jogos Olímpicos e a vida volta ao normal, como numa chuvosa Quarta-Feira de Cinzas. Pode ser…

Mas pode também se iniciar um período mágico, catalisado por outros fatos importantes que estão por vir. Até o momento em que finalizo este texto, o Brasil havia conquistado apenas duas medalhas, uma por um tal de Wu e outra por uma tal de Silva.

Nada mais emblemático. Um atleta de origem asiática e outra de origem humilde, criada com dificuldade numa comunidade carente.

Esse é o Brasil que eu sonho: um país plural, representado pelos mais de 5.000 voluntários que ajudaram a fazer a fantástica cerimônia de abertura das Olimpíadas.

Um país tão criativo quanto a nossa propaganda. Um país capaz de atrair e juntar os melhores talentos em torno de um objetivo comum.

Parafraseando John Lennon, você poderá dizer que eu sou um sonhador, mas, repito, não sou o único…

Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional de Agências de Propaganda)