E o tiozão, já com idade pra se aposentar, não se entrega. O Cannes Lions Festival completará 67 anos em 2021 resistindo bravamente às agruras da pandemia, partindo para a segunda experiência unicamente virtual. E lá vamos nós acompanhar mais essa iniciativa, certos da qualidade sempre impecável do seu conteúdo e da importância única da sua premiação.
Mais uma vez, o conteúdo e a premiação estarão ancorados em nove vertentes: Communication; Craft; Entertainment; Experience; Good; Health; Impact; Innovation e Reach. Distribuídas entre esses campos, são 28 categorias de premiação, sendo uma delas criada este ano: Creative Business Transformation.
Desde junho do ano passado, quando precisou cancelar o evento presencial, o festival tem procurado estender sua presença ao longo do ano, criando o Lions Live, uma plataforma de conteúdo contínuo oferecida gratuitamente aos seus seguidores.
Não há dúvida de que o conteúdo oferecido é de grande valor, graças à qualidade da curadoria dos organizadores. Acho que essa iniciativa de se transformar em plataforma de conteúdo era inevitável, mas eu tenho cá minhas dúvidas se isso não enfraquecerá a importância do “momento” do festival.
Há 67 anos, os profissionais da indústria criativa esperam ansiosamente o momento do festival para vivenciar uma experiência única, especial, incomparável. E isso se dá não somente com a premiação, mas também com o conteúdo superaguardado. É como se fosse um marco de revisão, um ponto de inflexão, no mundo da inovação criativa.
AC/DC: antes e depois do Cannes Lions. Era assim que o mercado era pautado. O conjunto de insights e informações gerado durante o evento era determinante para se alinhar tendências e rever modelos de atuação.
Com a geração contínua de conteúdo, esse “momento” se dilui e, na minha opinião, perde força. Seria como se realizássemos pequenos carnavais além de fevereiro… Ou festas juninas além de junho… Mas, vamos lá (ou melhor, vamos cá), não sejamos reacionários: vamos acompanhar atentamente o que o festival tem para oferecer dentro desse novo modelo híbrido. Eu, que sou um rato do festival, estando presente em mais de 20 edições, espero sempre ansiosamente esse momento e confesso que a experiência totalmente virtual do ano passado me frustrou.
Ir ao festival é muito mais do que acompanhar o conteúdo das palestras e das premiações. É o momento de uma parada na louca roda-viva que vivemos para uma imersão disruptiva no mundo da criatividade. O festival vai muito além dos momentos formais das apresentações e premiações.
É nos corredores e na interação com representantes de mais de 90 países nas múltiplas salas do Palais e nas ruas do entorno que a experiência fica muito mais rica. É também a oportunidade de um networking que pode resultar em mais businesses ou parcerias.
Sem falar na riqueza da experiência de uma semana na Riviera Francesa. Ficar aqui e acompanhar tudo pelas telas de um computador não é, nem de longe, a mesma coisa. Até porque já estamos cansados da overdose de telas nas nossas vidas.
As intermináveis video calls e lives a que somos submetidos, diariamente, nos fazem ansiar por novas experiências, se possível longe das telas. Mas sabemos que ainda não dá. Então, se não tem outro jeito, que seja esse mesmo.
Independentemente dessas ressalvas, a expectativa pelo maior festival de criatividade do mundo é sempre alta e não será diferente este ano. Outros festivais surgiram, mas nenhum representa tão bem a indústria como o velho e bom Cannes Lions.
Então, em vez de pesquisar hotéis e companhias aéreas, preparemos as nossas máquinas para acompanhar o festival, na mesma terceira semana de junho, pelas telas mais uma vez.
Fica a torcida para que voltemos à Côte D’Azur, ao Palais de Festivals, ao buxixo da Croisette e ao Pelorãn em 2022.
Alexis Thuller Pagliarini é presidente-executivo da Ampro (Associação de Marketing Promocional) (alexis@ampro.com.br)