Amigo meu chega em casa com a mulher e encontra a filha, na sala, vendo televisão com o namorado, cada um do seu lado no sofá, discretíssimos, acompanhando interessados um jogo de futebol. Coisa assim de Canto do Rio versus XV de Piracicaba. Ou Brasil e Peru, o que vem a ser quase a mesma coisa.
Gerente de marketing de uma importante empresa (porra, como eu estou escrevendo mal ultimamente… “gerente de marketing de uma importante empresa”, além do lugar comum, que falta de graça!)
Perdão, leitores, voltando, o cara é gerente de marketing de uma puta de uma multinacional e imediatamente comentou com a mulher o fato de a menina estar assistindo jogo de futebol.
Concluiu que no dia seguinte chamaria o pessoal de mídia da sua agência para discutir em que números de pesquisa eles se baseavam para afirmar que esporte tinha uma audiência tipicamente masculina.
Até que ouviu a televisão ser desligada, o jovem casal ir embora e o silêncio descer sobre a sala. Um pouco depois ele e a mulher resolveram assistir um filmezinho pelo pay-per-view.
Foi só entrar no canal de filmes pagos que pintou o maior sexo explícito, daqueles com dupla penetração anal, 18 mulheres, cinco anões, quatro jumentos e um senador, coisa da maior baixaria, tudo aos gritos de yes, yes, yes (aliás, eu nunca entendi para que legenda em filme de sacanagem, mas que tem, tem).
Ou seja, a filha e o namorado tinham comprado o tal filme e a chegada deles interrompeu o momento cultural.
Na pressa de disfarçar, trocaram para qualquer outro canal, o que explicava o súbito interesse pelo torneio de acesso do campeonato potiguar ou algo do gênero.
Bem, pensou ele depois de desistir de matar o genro: “Já que está pago vamos ver no que isso vai dar”. Como se ele (ou ela) não soubessem.
Minutos depois (como ser delicado?) a investigação empírica começou a produzir efeitos e eles começaram a pensar bobagens.
Evidentemente não com a mesma competência dos da tela, tanto da parte dele como da parte dela, mas, pelo menos com muito entusiasmo. Amador, mas com entusiasmo.
Estavam nessa e não repararam que a porta se abriu e o outro filho do casal, de 15 anos, acompanhado de boa parte da galera entra na sala.
Meu amigo confessa que a brochada foi tão definitiva, a vergonha tão fundamental que ele até hoje fica sem graça só de ouvir a palavra sexo. Imagine só, a cena.
Ele semipeladão, no meio da sala, envergonhadíssimo, explicando para uns quatro adolescentes que tudo tinha começado com a irmã assistindo XV de Jaú contra Anapolino. O que, por si só, já é uma tara difícil de ser explicada.
Tão difícil como o diretor de mídia que me confessou numa madrugada de bar que a maior vergonha que ele tinha passado na vida foi quando a mãe dele o tinha encontrado masturbando-se na sala.
Eu, para consolá-lo, jurei que todo mundo tinha passado por essa.
Todo adolescente um dia já tinha pagado esse mico. Daí ele, meio bêbado, confessou quase chorando: “adolescente tudo bem, já aconteceu com todo mundo. Mas isso que te contei foi ontem!”
Daí era fogo.