“É a última e derradeira fotografia?”. É a pergunta que se faz sobre a frota de veículos dos países, incluindo o Brasil, e muito especialmente, em relação aos automóveis? “Sim, é!” Em dezembro de 2020 despedimo-nos do primeiro capítulo do business de automóveis em nosso país. E, de certa forma, em todo o mundo.

Agora, começa o segundo. Última foto de um período da história, desde que Henry Ford, há mais de 100 anos, conseguiu fazer seu fordinho preto rodar em termos econômicos.

Especificamente em relação ao tamanho da frota, o Brasil possuía em dezembro de 2020 38 milhões de automóveis em circulação. E no conjunto dos veículos de quatro ou mais rodas – automóveis, caminhões e ônibus –, a frota era de 46 milhões, a sexta maior do mundo.

E a primeira e grande e radical mudança no tocante a relação entre veículos e pessoas acontecerá com os automóveis, mesmo porque, com caminhões, caminhões leves e ônibus, as mudanças serão muito mais na melhoria e aperfeiçoamento dos veículos do que na relação.

Repetindo, batendo nos 46 milhões, o Brasil tem a 6ª maior frota mundial. Perdendo para os Estados Unidos, 264 milhões; China, 172 milhões; Japão, 77 milhões; Rússia, 51 milhões; e à frente de uma Alemanha, 8 milhões.

O melhor momento da década passada foi o ano de 2012. Talvez a derradeira fotografia de uma suposta prosperidade, onde as montadoras construíram seus planejamentos e investiram muitas dezenas de bilhões de reais, que foi quando Dilma Rousseff decidiu escancarar as porteiras, reduzindo juros e aumentando prazos, artificial e irresponsavelmente, na patética e constrangedora Nova Matriz Econômica, fazendo com que se vendesse 3,7 milhões de automóveis no Brasil.

E assim, naquele momento, tomadas pela euforia e irracionalidade, as empresas olharam para 2020 e cravaram: “vamos produzir e vender sete milhões de automóveis”!

E de lá para cá quedas atrás de quedas até culminar com 2020, em que se pensava em sete milhões de unidades, e mal bateu nos três milhões. Menos da metade do previsto…

Assim, os sete milhões dos sonhos ficaram para trás, e até mesmo os 3.160 milhões da previsão de março de 2020 não foram alcançados…

Portanto, amigos, não seria exagero afirmar-se ser essa, de dezembro de 2020, a derradeira fotografia de uma indústria automobilística que cumpriu um longo ciclo de mais de 100 anos, e que agora mergulha em uma revisão, mais que revisão, reinvenção radical em busca da relevância e da sobrevivência.

Em maiores ou menores proporções, e na medida em que mergulhamos num mundo absolutamente novo e desde a criação do microchip, no ano de 1971, todos os setores de atividades, todos os negócios, todas as empresas, mais dia ou menos dia, mergulharão inexoravelmente num processo de renovação, reposicionamento, ou reinvenção mesmo, radical.

E é por onde começa a se escrever o segundo capítulo da história da indústria automobilística, e do negócio do automóvel.

O tal do ciclo da vida, como nos ensinou O Rei Leão…

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)