Marianna Souza, presidente-executiva da Apro, fala ainda sobre as tramitações em Brasília que a associação acompanha, parceria com a Apex, entre outros temas

Prestes a completar 50 anos, a Apro (Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais), que conta hoje com 120 associadas, atua em diferentes frentes para defender os interesses do mercado de produção. O primeiro eixo é voltado a toda parte de conteúdo, capacitação e qualificação das produtoras. O segundo é a promoção do audiovisual publicitário brasileiro para o mercado internacional.

O terceiro é dedicado às questões de marcos regulatórios e ao trabalho de advocacy junto aos poderes Executivo e Legislativo. “Hoje temos algumas pautas que estamos acompanhando de perto, entre elas os PLs de Regulamentação do VOD (streaming). Regulação necessária para que a indústria brasileira seja fortalecida”, ressalta Marianna Souza, presidente-executiva da Apro.

Ela também destaca a defesa por práticas alinhadas com os princípios ESG, como sets mais sustentáveis, carga horária adequada e pagamentos no prazo.

Como foi o desempenho do mercado de produção brasileiro no primeiro semestre do ano?
Com relação ao que tange à parte internacional, sabemos que até o momento as nossas produtoras juntas faturaram US$ 28,5 milhões. Estados Unidos representam hoje o principal destino dos nossos filmes, cerca de 23% de participação nas nossas exportações. Com relação ao mercado nacional, ainda não temos dados, pois só desenvolvemos balanços anuais.

Qual foi o faturamento? Teve crescimento em relação ao mesmo período de 2022?
Estamos otimistas com relação ao mercado internacional, observamos uma onda crescente desde 2021 nas exportações das nossas produtoras. Com a retomada dos esforços de promoção comercial em parceria com a ApexBrasil, somada à taxa cambial favorável aos projetos internacionais, nossa expectativa é superar o faturamento de 2022, que foi um total de US$ 34 milhões. Obviamente, sabemos que tradicionalmente o primeiro semestre é sempre mais positivo para o mercado Internacional, pois coincide com o inverno do Hemisfério Norte. Mas seguimos otimistas para fechamento de ano superior ao de 2022.

Quais foram os fatores que contribuíram para essa performance?
O cenário político e econômico mais estabilizado, o câmbio favorável às exportações e, sem dúvida nenhuma, a retomada dos trabalhos de promoção comercial feito em parceria com a ApexBrasil.

Marianna Souza, presidente-executiva da Apro: olhar atento às pautas que envolvem ESG (Divulgação)

E como está o desempenho das produtoras nesses dois primeiros meses do segundo semestre?
Não temos essa informação.

Já tem uma previsão de como as produtoras vão fechar o terceiro trimestre do ano?
Ainda não temos.

Historicamente, o segundo semestre do ano é melhor para as produtoras? Por quê?
Quando a gente fala de mercado interno sim, por esse motivo optamos por acompanhar o fechamento anual das produções locais. No entanto, quando falamos de mercado internacional, não. Tradicionalmente, temos um volume maior de produções internacionais vindo para o Brasil no primeiro semestre, pois coincide com a temporada de inverno no Hemisfério Norte.

Quais são as frentes em que a Apro atua hoje em dia?
Hoje a Apro atua em três grandes eixos temáticos. O primeiro voltado a toda parte de conteúdo, capacitação e qualificação das nossas produtoras. Temos a Plataforma Objetiva, criada especialmente para isso, onde disponibilizamos cursos e materiais didáticos gratuitos em formato EAD, voltado para novos entrantes no mercado. Para as empresas mais maduras, temos outras iniciativas como os Apro Talks, onde tratamos de temas mais relacionados às questões do dia a dia de produção, e a Plataforma do Whext, que é onde concentramos as principais discussões e debates de produção do ano. Um segundo eixo temático é a parte internacional. Temos hoje uma parceria com a ApexBrasil, Plataforma FilmBrazil, que tem como foco a promoção do audiovisual publicitário brasileiro para o mercado internacional. Estimulamos a presença das nossas produtoras e seus talentos nos principais eventos do calendário internacional e promovemos a vinda de potenciais clientes e formadores de opinião para o Brasil. Por fim, e não menos importante, temos o terceiro eixo-temático que chamo de “defesa dos interesses dos nossos associados”. É o braço da Apro dedicado às questões de marcos regulatórios; trabalho de advocacy em Brasília junto aos poderes Executivo e Legislativo; trabalho de articulação e diálogo com os stakeholders do nosso mercado. Dentro desse espírito de trabalhar em colaboração, desenvolvemos o Fórum da Produção Publicitária, que busca atuar de forma eficaz e constante para atualizar e formalizar as melhores práticas no mercado publicitário. Além disso, proporcionamos assessoria jurídica.

Que projetos a entidade está realizando no momento?
Além dos trabalhos mencionados, temos um olhar muito atento às pautas relacionadas ao ESG. No ano passado, desenvolvemos a cartilha, assim como o Pacto Antiassédio. Já fizemos uma cartilha voltada para parte de Governança, em parceria com a ABA (Associação Brasileira dos Anunciantes). Para este ano, estamos trabalhando na construção de uma cartilha voltada para a pauta de sustentabilidade, inspirada em iniciativas bem-sucedidas nos EUA (Greenthebid) e no UK (Adgreen). Fora isso, também estamos desenvolvendo um novo projeto especial em comemoração aos 50 anos da Apro.

Há projetos de lei que a Apro está acompanhando em Brasília? Quais são eles e que melhorias vão trazer para o mercado?
Sim. Parte das entregas da Apro está ligada ao trabalho de advocacy em Brasília. Hoje temos algumas pautas que estamos acompanhando de perto, entre elas os PLs de Regulamentação do VOD (streaming). Regulação necessária para que a indústria brasileira seja fortalecida, garantindo que as produtoras sejam proprietárias das obras que produzem no país, gerando com elas divisas para o Brasil. Os serviços de vídeo por encomenda se tornaram, em poucos anos, a principal janela para o conteúdo audiovisual no mundo. Movimento que vimos sendo acelerado nesses dois anos de pandemia. O mercado brasileiro, com mais 200 milhões de consumidores, é estratégico e comercialmente um dos mais relevantes para as plataformas, ocupando, em algumas delas, a segunda ou terceira posição mundial. Dito isso, a Apro vem trabalhando na defesa de alguns pontos-chaves. Entre eles, estão: 1) propriedade Intelectual e patrimonial das obras para os produtores brasileiros independentes que as realizam; 2) investimento direto na produção de conteúdo brasileiro independente; 3) proeminência e cotas para conteúdos brasileiros; 4) criação da Condecine VOD – recursos que serão destinados ao desenvolvimento de políticas públicas, inclusive na regionalização, capacitação, infraestrutura, difusão e preservação, além da criação de mecanismos que ajudem na valorização do patrimônio cultural brasileiro.

O que a Apro defende hoje para o mercado?
Defendemos práticas cada vez mais sustentáveis, de acordo com diretrizes do ESG, que olhem para os profissionais e o meio ambiente, com sets mais sustentáveis, carga horária adequada, pagamentos no prazo e um olhar para a saúde mental, entre outros. Também buscamos um mercado mais igualitário, em que mulheres, pessoas pretas e da comunidade LGBTQIAPN+, entre outros grupos que são marginalizados, possam fazer parte de fato, que sejam buscados pelas agências, clientes e produtoras. Buscamos um mercado ético, com práticas saudáveis de mercado. Com concorrências justas e condizentes com melhores práticas. Saindo um pouco disso, buscamos apoio junto aos parceiros e ao governo para que nosso mercado não sofra tanto com mudanças em leis ou a falta delas.

Leia a entrevista completa na edição do propmark de 25 de setembro de 2023