A plataforma de conteúdo Influência Negra se uniu à Dove para lançar o documentário “Olhares Cruzados”.

Promovida pelo eixo Dove Pela Autoestima, a campanha traz três mulheres negras de diferentes perfis, sendo uma preta retinta (Preta Rara), uma trans (Kiara Felippe) e uma mulher idosa (Cris Mendonça).

Para ouvir detalhes sobre a comunicação, PROPMARK conversou com Robson Rodriguez, CEO da agência Freakout e cofundador da Influência Negra. O publicitário é formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, especializado em branding pela Troiano Branding e com iniciação em Neurociência do Consumidor.

Robson Rodriguez, CEO da agência Freakout (Divulgação)

Como surgiu a parceria com a Dove?

A parceria surgiu de maneira bastante inusitada. De maneira recorrente, postamos mensagens focadas no público feminino com o intuito de fortalecer a autoestima das nossas seguidoras mulheres e pretas, que diariamente, enfrentam a opressão estética e racial. A princípio o projeto era algo mais simples, apenas séries de publicações a partir de curadorias de conteúdo. Porém, rapidamente compreendemos que seria uma oportunidade de desenvolver algo maior e de maior impacto. Foi assim que a Dove abraçou a ideia de maneira linda, acatando todas as nossas colocações com muito respeito, para que pudéssemos ser os protagonistas da produção audiovisual e executiva. 

Como foi feita a escolha do elenco da campanha? O Influência Negra participou desta escolha?

Toda a produção, direção e estruturação do projeto foi liderado pelo time do Influência Negra. Nós fizemos essas escolhas muito cuidadosamente, tendo como principal pilar a intersecção de realidades. Já estamos cansados da reprodução de histórias tristes das nossas mulheres pretas e quisemos resgatar o empoderamento através de um olhar cruzado de gerações e de vivências. Nosso time de pesquisa se desdobrou em identificar histórias que conversassem com a proposta, a partir da curadoria e de entrevistas com diversas personalidades.
Sabemos que para além das questões de raça, as questões de gênero, sexualidade e geracional, estão presentes na sociedade e por isso quisemos pautar essas intersecções para construirmos uma perspectiva fundamentada na pauta da autoestima, conceito base da Dove em suas campanhas. Assim, selecionamos três mulheres pretas: Cris Mendonça, mulher preta, empresária e sexagenária; Kiara Felippe, mulher preta, DJ e travesti e, Preta Rara, mulher preta, rapper, historiadora, escritora e gorda. O resultado foi muito sensível e nos deixou muito felizes e orgulhosos, pois fugiu da narrativa dos testemunhos tristes, mas trouxe verdades avassaladoras sobre a vivência de mulheres pretas. 

Qual a importância de uma campanha deste tipo em 2020? Especialmente em novembro, mês em que o Brasil celebra o Dia da Consciência Negra?

Quando uma das maiores marcas do mundo – que pautam questões da autoestima da mulher – abraçam um projeto como o nosso, isso tem um valor quase que imensurável para nossa comunidade. O Dia da Consciência Negra aqui no Brasil é feito para os brancos. Em geral, pauta-se temas que já são intrínsecos em nossa realidade, como práticas de enfrentamento ao racismo ou reflexões sobre letramento racial. Isso é importante, claro, mas é extraordinário quando conseguimos dar vazão e trazer uma entrega para os nossos. A campanha “Olhares Cruzados”, proporciona exatamente isso. Nós, pessoas pretas, estamos num momento de reconexão muito profundo com a nossa história e nossa ancestralidade, e isso faz parte de um processo lindo de reconstrução da autoestima coletiva. Num ano tão conturbado, em que as discussões raciais ganharam holofotes como não se via há muito tempo, trazer este outro espectro é muito necessário. Isso vai para além de trazer representatividade, é trazer o senso de pertencimento. 

Na sua visão, as marcas estão acertando na contratação de influenciadores negros? Ou só se preocupam com isso em novembro?

As marcas ainda precisam aprender muito. O processo de nos acionarem em épocas fracionadas ao longo do ano e nos classificarem pelos nossos números de seguidores é latente. A influência digital para pessoas pretas não pode e não deve ser medida na mesma régua das pessoas não-negras. Mas, à medida que essas pautas ganham maior amplitude e protagonismo social,  vejo as marcas se movimentando para transcender essas crenças. Dove foi um exemplo disso, nos dando voto de confiança, e conseguimos mostrar para o que viemos, numa produção feita em meio a uma pandemia, mas que não deixou nada a desejar. Somos potências e queremos ter a devida chance de aparecer falando não apenas sobre racismo, mas sobre toda pluralidade de assuntos que cerca os seres humanos. 

Há algo que não comentamos que você queira ressaltar?

Queremos deixar um recado para as marcas: contratem e confiem no trabalho de influenciadores pretes. Nesse projeto específico, foi muito importante, que pudéssemos ter sido responsáveis por todo conceito, processo criativo, captação e edição. Dá um orgulho danado saber que “Olhares Cruzados” é um projeto feito 100% por pessoas pretas.