Uma menina de barriga de fora devorando um churrasquinho no palito ilustra bem o clima da abertura do Festival de Gramado. Ônibus e mais ônibus enfileirados exibem placas de diversas cidades brasileiras, de vários estados. O auditório ferve, enquanto ocorrem a abertura da festa e as homenagens programadas. Na sala de imprensa, o clima é de tranqüilidade, o evento ainda rende poucas notícias. O acontecimento de hoje foi a reunião da ABAP, onde se encontrou pela primeira vez a diretoria nacional recém eleita e renovada em 11 dos 18 capítulos. Depois da apresentação dos novos presidentes regionais e daqueles que foram reeleitos fiquei com uma impressão muito positiva. Há um clima de otimismo no ar, embora o discurso não deixe de ser realista e denuncie as diversas anomalias que a atividade experimenta pelo Brasil. Mas tem uma coisa interessante: estamos contando uns com os outros como nunca se viu. Parece que cansamos de tentar resolver as coisas sozinhos ou compor com inimigos poderosos, mesmo à custa do enfraquecimento do negócio. E nos voltamos todos para dentro, retomando a consciência de que só unidos e disciplinados em torno de uma bandeira voltaremos a ser encarados como uma atividade digna de respeito. Sim, vivemos uma espécie de cansaço de suportar abusos de toda sorte e resolvemos trabalhar juntos para desmontar, calculadamente, uma a uma as bombas que colocarem no nosso caminho. Inteligência e experiência não faltam a esse grupo para enfrentar a má-fé, o oportunismo e as malandragens dos adversários e dos falsos parceiros. É interessante perceber essa disposição em personagens oriundos de lugares tão díspares e eleitos sob as mais diversas circunstâncias. Acredito que o estilo da gestão do presidente da ABAP, Dalton Pastore, é o inspirador desse novo modelo de comportamento. Misturando uma vocação conciliadora, que tem promovido aproximações impensáveis entre os seus, e uma firmeza surpreendente frente àqueles que trabalham pelo enfraquecimento da publicidade, Dalton Pastore inaugurou na ABAP uma era de transparência desconcertante. Não há segredos sobre inimigos, não há espaço para fofocas, não há dúvidas sobre metas a serem alcançadas. O Código de Ética talvez seja o documento mais emblemático da sua gestão. Simples e objetivo, não deixa margem à dúvidas sobre o que se espera de cada agência associada em termos éticos. É suficientemente simples para quem ninguém alegue não ter entendido uma única linha; é suficientemente objetivo para não disfarçar intenções. É, em seu minimalismo elegante, absolutamente completo.

Stalimir Vieira

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