Começo de ano é sempre tempo de renovação, planos e olhares para o futuro. Um dos nossos deveres de casa como pessoa jurídica é entender como será o comportamento do novo consumidor e as novas formas de conversar com ele. E, em meio a tudo isso, a expressão “estar na cabeça do consumidor” nunca teve um significado tão literal.

Elon Musk é conhecido por ser o dono da Tesla e da SpaceX. Porém, a maior megalomania do empresário não é fazer carros elétricos ou o sonho de levar a humanidade à Marte e sim uma terceira empresa chamada Neuralink e seu projeto de acoplar computadores nos nossos cérebros. 

Registrada com o caráter médico, a companhia tem como objetivo principal ajudar na cura de doenças como Parkinson e Alzheimer, a partir de chips implantados na cabeça (o que, até aí, é algo que já é implementado por outros centros de pesquisa e vem dando certo). Porém, Elon já deixou claro que deseja ir além, fazendo com que o computador aumente a nossa capacidade cognitiva.

O novo serviço estará no ar em 4 anos e, quando estivermos perto do deadline, a novidade estará em todos os canais da mídia. Teremos o clássico “um monte de gente contra” versus “outro tanto a favor” e seu primo aparecerá no bar dizendo: “fiz uma assinatura do chip ontem e os caras instalaram no mesmo dia”. Nem preciso dizer que ele será a diversão da mesa do bar:

– Qual a capital da Noruega?

– Oslo.

– Quanto é 1527 x 63?

– 96.101

A primeira grande mudança é que seu cérebro vai estar plugado no Google e, com o passar do tempo, você não saberá se respondeu “Oslo” porque aprendeu com a tia da escola ou foi o computador que soprou a resposta para seu neurônio. Você simplesmente sabe. E sabe tudo: dados, fatos e números.

Até então, nada mal. Perderemos menos tempo correndo atrás da informação e mais no que podemos fazer com tantos dados. O objetivo estará no poder de transformação humana a partir da matéria prima. Great? Talvez. Também perderemos aquele papo de bar onde as conversam se somam a partir de layers de informação que um sabe e o outro não (afinal, todo mundo já vai saber tudo). Ah, e não teremos mais os programas de perguntas e respostas aos Domingos na TV.

Um segundo passo nesse nosso exercício de futurologia é o que faz com que a realidade virtual chegue ao seu ápice, fazendo com o que o seu cérebro veja aquilo que você quer. Chega de brigas de casais por causa da cor do sofá. Uma vez comprado o móvel, ele vai ter a cor cinza chumbo pra você e bege para sua esposa. Ponto. E assim será com tudo, desde os objetos de decoração da sua casa até a cor do céu pela manhã.

Enganar o cérebro será a maior arma contra o calor, o frio, a obesidade e por aí vai. É só clicar na opção “quero ser enganado, obrigado” e esta é a terceira grande mudança. Você vai terminar de almoçar e sentir uma vontade imensa de tomar um sorvete de macadâmia. Sua cor favorita passará a ser o azul e suas próximas férias serão no Kilimanjaro (logo você, que nunca foi de se aventurar). Rapidamente, veremos correr o boato de que a Neuralink e suas concorrentes estão vendendo pacotes de indução neural para marcas com a certeza de consumo projetado por impulso. Elas irão jurar sob a bíblia do Vale do Silício que trata de uma mentira e que todos os seus clientes mantêm seu livre arbítrio. Menos para os patrocinados, é claro.

Feliz Ano Novo.

Ps.: 1527 x 63 = 96.201. Nunca confie cegamente no sistema.

Rodolfo Barreto é diretor executivo de criação da BETC/Havas