1. Guardadas as proporções, objetivos e métodos, São Paulo lembrou nos últimos dias – e promete lembrar ainda mais até o início ou o fim da Copa da Fifa – o festejado (como filme) “Gangues de Nova York”, de Martin Scorsese, concluído em 2001.
No longa, cuja história se passa entre 1846 e 1863, as gangues de italianos e irlandeses disputam as vantagens do submundo da corrupção na cidade, nascendo dessa rivalidade a máfia.
Não sabemos se estamos muito distantes dessa história romanceada pelo filme de Scorsese, tendo como pano de fundo a Guerra Civil que abalou os Estados Unidos naquele período.
Mas, podemos sentir não só em São Paulo, como em outras regiões do país, a imposição do crime sobre a população que trabalha e se esforça por uma vida melhor, dentro dos padrões de comportamento no mínimo civilizado.
Pois essa população, que inclui todas as camadas sociais, raças e credos, vem sendo massacrada por determinados novos mafiosos, pertencentes a diversas gangues (e não apenas a duas, como na época em Nova York) dispostas a conquistar e manter privilégios escusos, sob os olhares complacentes das autoridades.
Fica-nos a impressão, mesmo que sem a certeza absoluta, de que essas batalhas interessam sobremaneira aos grupos políticos no exercício atual do poder, porque se transformam em armas e argumentos usados uns contra os outros.
Isso, é claro, quando alguns membros das gangues não coincidem em ser também políticos, como fica cada vez mais fácil perceber, com a atenção um pouco mais refinada e somando situações de interesses comuns.
A verdade é que estamos despencando para o fim de um abismo que não sabemos quando e como chegará. A perspectiva não é boa diante da repetição e aumento crescente dos fatos negativos que proliferam em todas as regiões de São Paulo (para ficarmos somente por aqui), sem que o poder público diga um basta ao descalabro reinante. A greve dos ônibus que atormentou milhares de trabalhadores nos últimos dias em São Paulo é uma consequência desse estado de coisas.
Se as leis são frouxas, corrijam-se as leis, enquanto é tempo. Se os homens que comandam são os piores, que sejam trocados por melhores. O que não podemos mais tolerar é essa convivência pacata com o crime que nos vitima, transformando as nossas vidas em um verdadeiro inferno.
Que exemplo estamos dando para as nossas crianças? Qual o legado que lhes deixaremos, a não ser o de um país que perdeu o rumo e precisará ser redescoberto por navegantes desta vez de outra galáxia, para uma esperança de conserto?
Afinal, que diabos fizemos para merecer tanto castigo?
2. A última edição do Jornal ANJ (abril) reafirma a credibilidade nos jornais, como o atributo mais reconhecido por uma pesquisa de opinião pública, realizada pelo Ibope no final de 2013 e sobre a qual já nos manifestamos anteriormente neste espaço.
O resultado não nos surpreende, pois pela própria essência desta mídia, que não comporta excesso de frivolidades no preenchimento do espaço destinado ao leitor, o que deve sempre ressaltar é a boa informação, quando possível analisada com igual seriedade, oferecendo ao consumidor do meio qualidade noticiosa e interpretativa.
Em resumo, conteúdo com credibilidade.
Todas as plataformas são capazes de alcançar esse resultado, com raríssimas exceções tendo em vista determinada natureza destas. O que ocorre, porém, é que, mesmo podendo, muitas enveredam por outro caminho, mais confortável comercialmente, que se traduz em oferecer ao consumidor o que ele quer ler, ver e ouvir, em vez de também o que ele precisa ler, ver e ouvir.
Desse desencontro, vence a qualidade, prima-irmã (ou mãe?) da credibilidade.
3. A Jovem Pan AM – que mais uma vez foi a vencedora, na sua categoria, do Prêmio Veículos de Comunicação promovido pela revista Propaganda (ver cobertura da entrega nesta edição) – costuma se destacar, além de todo o mais da sua rica programação, por campanhas cívicas de sua responsabilidade.
A do “Brasil, país dos impostos”, por exemplo, trouxe à discussão pública um tema que o poder público quer sempre ágil, porém não falado.
Neste momento, a campanha em evidência nessa emissora é a que indaga “O que faz o Brasil melhor?”, abrindo o microfone para lideranças civis opinarem.
O que mais se ouve, dentre as muitas opiniões que surgem e no meio delas algumas ideias inéditas e que bem poderiam ser aproveitadas pelas autoridades, é investir na educação.
Parece lógico para o cidadão até minimamente informado, que se trata de um lugar-comum, que até dispensaria esse tipo de consulta radiofônica. Mas, se essa necessidade não fosse colocada dessa forma, aumentada pelo poder de transmissão da Jovem Pan e retransmissão por outros meios que têm aderido à campanha, correríamos o risco de ser considerada apenas mais um assunto de rotina.
E, na verdade, não o é. Trata-se da necessidade básica do país, que fará com que, no futuro, com maior educação em todos os sentidos, saibamos escolher melhor nossos representantes nos Executivos e Legislativos de todo o Brasil e, especialmente, acabemos com os milhões de infelizes que, em troca de pífias mensalidades, optam por uma vida de carneiro recusando um possível dia de leão.
4. A boa, querida, criativa e eficiente DPZ, que muito contribuiu e prossegue contribuindo para a crescente valorização da comunicação do marketing brasileiro – o que hoje é reconhecido inclusive fora das fronteiras do país –, anunciou a composição da sua nova diretoria, comandada por Tonico Pereira.
Os fundadores José Zaragoza e Roberto Duailibi, juntamente com Flavio Conti, há 42 anos na direção operacional da agência, onde ocupava também o cargo de CEO, deixam suas funções executivas e passam a atuar como conselheiros da DPZ.
Em encontro com a imprensa, na última semana, desfez-se o boato da fusão da agência com outra do Grupo Publicis. Sua atuação permanecerá independente das demais que integram o Grupo Publicis, passando o seu comando a responder a Roberto Lima, chairman da rede Publicis Worldwide.
Este editorial foi publicado na edição impressa de Nº 2499 do jornal propmark, com data de capa desta segunda-feira, 26 de maio de 2014