Em meio a negociações com trabalhadores, demissões à vista e queda de vendas, a GM trabalha na renovação de sua marca no Brasil. Nos últimos dez meses a montadora lançou sete modelos, parte de um reposicionamento da companhia para renovar a marca Chevrolet. Já no último mês, a empresa anunciou o fim da produção de três veículos no país: Zafira, Meriva e Corsa Hatch. Os modelos foram retirados porque suas vendas estavam em queda e eram antigos. A empresa já havia descontinuado outros modelos anteriormente, como Vectra e Astra, que saíram de linha. Em contrapartida, iniciou uma série recorde de lançamentos para renovar a linha Chevrolet, que soma 20 modelos. Os lançamentos começaram em setembro do ano passado com a chegada do Cruze Sedã e do Cobalt, este em novembro.
Desde janeiro foram apresentados mais cinco veículos: a picape S10, o Cruze Sport6 hatchback e, em maio, dois modelos de Sonic — hatch e sedã — entraram para a lista. Em junho chegou o Spin para substituir Zafira e Meriva. No final do ano mais um modelo será lançado, esse da plataforma Ônix, produzida na fábrica de Gravataí (RS). O complexo na cidade gaúcha está sendo duplicado, expansão que consumirá R$ 1,4 bilhão. O montante faz parte de um ciclo de investimentos de R$ 5 bilhões da montadora que se encerra neste ano.
Com os novos modelos, a GM também está alterando o mapa de produção no país. Dos lançamentos, apenas a picape S10 continua sendo produzida em São José dos Campos (90 km de São Paulo). O restante é montado em São Caetano do Sul, no ABC paulista, e na gaúcha Gravataí (RS). O Sonic é importado da Coreia do Sul. A transferência de produção atinge diretamente a fábrica em São José, com o corte de 1.500 funcionários, segundo estimativas do sindicato local. A companhia está esvaziando seu complexo industrial na cidade, alegando impossibilidade de negociar com os trabalhadores.
De acordo com ela, por falta de novo acordo, a fábrica de São José dos Campos “perdeu” a produção dos modelos Cruze e Spin em negociações que se estendem desde 2008, e os modelos foram transferidos para outras fábricas. Os pontos críticos na negociação são detalhes envolvendo banco de horas e a proposta da montadora de salários menores para novos contratados.
O que a GM está procurando com as mudanças é o custo competitivo — estima-se que 70% do custo da montadora com o complexo industrial em São José seja em mão de obra. O Brasil é o terceiro maior mercado da montadora no mundo. A análise é que a GM no país não pode ter dificuldades para ter lucro e que precisa ser competitiva. No ano passado as suas vendas de automóveis no país caíram 3,9% no comparado com 2010, segundo números da Fenabrave (federação dos distribuidores de veículos). O resultado em 2012 não foi mais animador: a GM também registrou queda de 6,8% entre janeiro e maio, de acordo com dados da Anfavea (associação dos fabricantes de veículos).
A montadora, no entanto, não é a única que teve desempenho negativo no ano passado. As grandes empresas Fiat, Ford e Peugeot também tiveram retração nas vendas. Em contrapartida, os importados tiveram forte crescimento. O número de licenciamentos de carros estrangeiros aumentou 30%, enquanto o de nacionais caiu 2,8% no período.
Na semana passada a GM divulgou seu balanço financeiro referente ao segundo trimestre. O lucro da GM no mundo teve forte queda no período, com retração de 41% no comparado com o ano anterior. A empresa registrou lucro líquido de US$ 1,5 bilhão, bem abaixo dos US$ 2,52 bilhões alcançados no mesmo período do ano anterior. As perdas, segundo o seu relatório financeiro, se devem à queda de vendas na subsidiária da Europa, que deve operar de forma deficitária até pelo menos o final do ano.
Demissões
A possibilidade de demissões chegou ao governo federal, que está mediando as negociações entre a montadora e os metalúrgicos por meio do ministério do Trabalho. Durante coletiva de imprensa na semana passada o ministro da Fazenda Guido Mantega afirmou que a GM “está contratando”. “No conjunto das fábricas no país, há um aumento de empregos”, disse. Mas em carta à presidente Dilma Roussef os metalúrgicos avaliaram como “desastrosas” as declarações de Mantega. “Não é verdade que a GM contratou mais do que demitiu desde que está recebendo incentivos fiscais do governo. Dados do próprio ministério do Trabalho mostram que já há saldo negativo de cerca de 1.200 postos de trabalho”, destacam.
No final de maio as montadoras que produzem no país foram beneficiadas com a redução do IPI (Impostos sobre Produtos Industrializados) e, em troca, prometeram a manutenção de empregos. O governo tem dado declarações enfáticas de que “não irá tolerar demissões”. Na última semana, Mantega afirmou que o IPI não será prorrogado e deve vigorar até o final de agosto.
A queda do IPI beneficiou a indústria nacional, que teve o melhor mês de julho em vendas de sua história, apontam números do mercado. Foram 351,5 mil licenciamentos de automóveis e comerciais leves no período, 3,1% a mais que julho do ano passado.