Hugo Veiga, CCO global da AKQA SP, é um dos jurados de Entertainment Lions for Music, na edição deste ano de Cannes. Ele ficou sabendo que iria participar como jurado do festival no início de 2020 e foi difícil guardar o segredo. Ele afirma que desde o primeiro ano da AKQA SP estabeleceram relação próxima com artistas, que “nasceu da crença que a ‘música vai além da expressão artística e cultural’”. Veiga acredita que a área terá projetos inovadores, porque as limitações, provocadas pela pandemia, podem também ser inspiradoras. Ele diz não ter visto todos os trabalhos brasileiros, mas o que viu trazem um misto de inovação e criatividade. Veja os detalhes a seguir.

Hugo Veiga, da AKQA SP, que será jurado em Cannes (Divulgação)

SEGREDO
Não sei como consegui guardar esse segredo por um ano. Quando recebi o convite em janeiro de 2020 fiquei superempolgado, ainda mais, por saber que iria passar uns dias com o Wyclef Jean, presidente do júri da categoria.

CRENÇA
Desde o primeiro ano da AKQA SP estabelecemos uma relação próxima com artistas, criando ideias capazes de potencializar o alcance ou amplificar as suas mensagens. Essa relação nasceu da crença que a música vai além da sua expressão artística e cultural, música tem um importante poder transformador para a sociedade, que pode ser potencializado por marcas e criatividade.

DIFERENÇAS
Cannes focou a sua seleção de júris em líderes da
indústria musical. Apenas eu e Amani Duncan, presidente da BBH NY, somos de agências de comunicação. Vai ser interessante de perceber a diferença de critérios sobre o que torna um projeto relevante ou não para o panorama musical.

EXPECTATIVA
A indústria musical foi uma das que foram mais afetadas pela pandemia, mas, pela sua natureza artística, com certeza, as limitações inspiraram projetos inovadores, que exploraram novas formas de relacionamento com as suas comunidades.

PERFORMANCE
A performance do Brasil em 2019 foi muito boa. Com o país conquistando um GP e um ouro num ano em que o videoclipe gravado no Louvre – Apeshit, de Jay Z e Beyoncé – apenas ficou na shortlist. Ainda não conheci todos os projetos brasileiros, mas os que vi possuem um misto de inovação e criatividade que não fica atrás de projetos das grandes mecas do entretenimento global.

PANDEMIA
Além de cancelar inúmeros projetos, a pandemia também teve um forte impacto financeiro em empresas e artistas ligados à música. Mas se o volume e o craft de projetos podem ter sido impactados, acredito que as limitações foram combustível para a criatividade. No contexto brasileiro, acho que a desvalorização do real perante o euro faz com que o número de peças e inscrições possa diminuir.

FUTURO
Entertainment for Music é o ponto de encontro dos projetos de artistas e marcas. Com a indústria da música sofrendo profundas transformações, aceleradas pela pandemia, os artistas têm procurado novas formas e canais para se relacionar com os seus fãs e gerar rendimentos. Já as marcas têm procurado se associar a artistas para exponenciar o seu impacto social e cultural. Acredito que o futuro terá mais artistas se comportando como marcas e marcas procurando se expressar com os códigos de artistas.

HÍBRIDO
Cannes é um dos festivais mais esperados do ano e aquele que mais atrai público presencial. Todo mundo vai sentir falta do evento físico, mas a volta em formato digital é um grande serviço à criatividade. Acredito que no futuro, Cannes passará a ser um festival mais híbrido.

ENCONTRO
Com certeza. As pessoas não veem a hora de estar na Côte Azur, pagando 15 euros por uma cerveja morna. Cannes é e continuará sendo um importante ponto de encontro de talentos, referências e tendências que moldam o futuro da indústria. Versões digitais trazem muitas vantagens, mas a experiência de estar lá, e viver de perto aquela semana, não tem videochamada que compense.