Franco: gráficas procuram outras fatias de impressos comerciaisRenovação, adaptação, pensamento amplo, novas formas de comunicação. As palavras que têm perseguido os veículos e investimentos publicitários em todo o mundo nos últimos anos também permeiam as atividades recentes da indústria gráfica brasileira. Enquanto a demanda por produtos promocionais se mantém estável, como afirmam profissionais do setor, a crise do meio impresso e a mensagem ecológica sobre o real aproveitamento do papel desafiam empresas a criar novos mecanismos e formatos.

De 2004 a 2012, segundo a Abigraf (Associação Brasileira da Indústria Gráfica), os maiores investimentos no setor foram feitos em 2008 (US$ 1,8 bi). Entre 2011 e o ano passado, houve recuo de 14%. Ainda assim, empresários do meio classificam 2013 como positivo e veem boas oportunidades no próximo ano. “No primeiro semestre, tivemos um incremento de 21% em relação ao mesmo período no último ano. Apesar de 2012 ter sido difícil, esse crescimento é considerável e bem importante. Parte do que vivemos hoje na empresa é reflexo de novos contratos fechados no ano passado, que agora começam a maturar; outra parte pode ser relacionada aos grandes eventos esportivos que o país vai sediar (Copa do Mundo e Olimpíadas)”, diz Pedro Henrique Camiloti, diretor de vendas e marketing da Laborprint, localizada em Barueri (SP).

O executivo, no entanto, salienta que a empresa começou a se preparar para a atual realidade do mercado ainda em 2007. “Cada vez mais o uso do papel tem sido questionado. As empresas que não pensarem em agregar valor neste canal vão passar por grandes dificuldades a curto prazo”.

Presidente da Stilgraf, com unidades em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Porto Alegre, Antonio Sergio Franco compartilha a opinião do colega de mercado. “Nos últimos dois anos, a indústria gráfica brasileira recebeu muitos investimentos, geralmente aplicados na aquisição de novos equipamentos e tecnologia. O resultado foi o aumento da capacidade produtiva do setor, independentemente do tamanho da empresa. Acredito que todo esse otimismo tenha sido gerado pela política econômica do país, que, mesmo a passos não tão rápidos, apresenta um aquecimento. Todas essas conquistas, no entanto, trouxeram um novo desafio: como fazer a diferença em um mercado onde as condições de produção são cada vez mais homogêneas?”, questiona.

Camiloti: parte do que vivemos hoje é reflexo de novos contratos fechados no ano passadoA visão de Adilson Roberto da Silva, diretor comercial da Pancrom na capital paulista, é um pouco menos otimista. “Este ano começou meio que como um espelho de 2012 e acredito que assim deva se manter, sem grandes quedas ou avanços. Não vejo nada que possa impactar e fazer com que haja um crescimento expressivo. A verdade é que o volume de trabalhos diminuiu e continua diminuindo, tanto por perder espaço para outras mídias, quanto pelo cliente, que passou a gastar menos. O parque gráfico no Brasil hoje é maior do que a demanda de projetos”, frisa.

Franco afirma que, mesmo com redução detectada na demanda, a Stilgraf mantém-se estável na atividade promocional, que responde por 70% do que é produzido na empresa, o que inclui peças como materiais para os pontos de venda, relatórios e catálogos. “Jornais e revistas tiveram uma redução nas tiragens e gráficas que atuam com estes meios estão à procura de outras fatias de impressos comerciais”, diz. Camiloti, da Laborprint, complementa: “Promocional e embalagem são setores de grande movimentação. O consumo sempre existirá, principalmente aquele relacionado aos produtos de primeira necessidade, e isso alimenta as duas áreas”.

Apesar da crise do meio impresso, editoriais (livros, revistas, manuais e guias) ainda ocupam a segunda posição no ranking produtivo divulgado pela Abigraf em 2012, com valor de produção avaliado em R$ 10,9 bilhões, número equivalente a 29,2% do total da indústria. O segmento perde apenas para a produção de embalagens, que acumulou R$ 15 bilhões e respondeu por 40,2% da atividade. Em seguida vêm os impressos promocionais, com R$ 3,3 bilhões e 8,8%. Na Laborprint, 80% do faturamento é proveniente de mala direta com conteúdo variável.

O aumento da competitividade, parcialmente resultante dos avanços tecnológicos mais acessíveis, e as muitas importações somam-se a outro desafio para o setor. Alguém ainda duvida dos impactos causados pela internet em todos os mercados do mundo? “Investimos em um software que agiliza o envio de arquivos entre a empresa e os clientes, tanto para trabalhos em premedia como para gráfica. Temos ainda um aplicativo para execução de publicação digital, que permite a criação de catálogos virtuais para visualização em tablets, atrelando o material impresso ao virtual”, conta Franco. Camiloti finaliza: “Apesar das transformações, o meio impresso nunca deixará de existir. É preciso que as mídias impressas reinventem e se integrem às mídias online, mas isso já vem acontecendo”.

Empresas se mantêm competitivas*

Com cerca de 20 mil empresas atuando, sendo mais de 80% de pequeno porte, a indústria gráfica brasileira continua sendo uma das mais competitivas do mundo. Segundo Fabio Arruda Mortara, presidente da Abigraf e do Sindigraf (Sindicato da Indústria Gráfica no Estado de São Paulo), mesmo apresentando uma pequena retração nos últimos anos, cerca de 4% em média, o setor vem conseguindo se modernizar, acompanhar as tendências e se manter atuante. Mortara lembrou que o Brasil está entre os países que mais investiram em equipamento, cerca de R$ 1,2 milhão, no último ano, um número bastante significativo para um setor que faturou R$ 44 milhões no mesmo período.

Mortara: setor deve voltar a crescer em breveDe acordo com o executivo, esse cenário de retração é fenômeno mundial e vem acontecendo por conta das novas tecnologias e demandas do mercado, mas a indústria tem trabalhado forte para reverter a situação e se manter competitiva. O executivo contou que, para alavancar o mercado, a associação lançará, até o final do ano, uma campanha que tem como objetivo valorizar a comunicação impressa e mostrar que ela não é só reciclável, mas também renovável. Segundo ele, é uma iniciativa que já existe em vários países e pretende ressaltar que uma mídia não substitui outra, que ambas podem caminhar lado a lado. Mortara disse que a ação pretende mostrar a importância do setor. “Temos vários estudos que mostram, por exemplo, que a fixação de um texto lido em um material impresso é bem maior do que em qualquer outro dispositivo”.

O executivo contou que, além da própria mudança do mercado, o setor também vem discutindo com o governo algumas alterações que podem auxiliar na retomada do crescimento. Entre os pontos estão a isenção do IPI (Imposto sobre Produto Industrializado) para todos os materiais escolares; alíquota “zero” do PIS/Cofins para as gráficas brasileiras que imprimem livros; reestabelecimento do Imposto de Importação de seis tipos de papel de imprimir, que tiveram seus valores elevados; criação de mecanismos que proporcionem competitividade às indústrias gráficas de embalagens e livros, já que as mesmas vêm sendo atacadas de maneira predatória por concorrentes estrangeiros, especialmente da China; fim da bitributação do ICMS e ISS. Além disso, ele acredita que um dólar mais fortalecido também deve impulsionar ainda mais a competitividade.

Para Mortara, essas medidas são essenciais para o bom andamento da indústria, de uma forma geral, e a associação vem trabalhando para colocá-las em prática. O executivo contou que a expectativa para este ano ainda é de retração, cerca de 2,4%, mas a meta é que, em breve, o segmento volte a crescer, como vem acontecendo com alguns setores. No caso de embalagens impressas, por exemplo, responsável pela maior parte da produção gráfica, a estimativa é de um avanço de 1,7% em 2013, em relação ao ano passado.

*por Andréa Valerio