Estou com saudades do tempo que fazia propaganda política. Não são saudades do dinheiro que se pagava antigamente para quem criava e produzia campanhas.

Claro que uma graninha extra cairia bem nos meus bolsos mirrados, mas posso afirmar sem soberba que dá para viver sem essa fonte de renda.

Tenho mais saudade do clima de uma campanha, da produção de materiais, das noites esperando para gravar material para TV, das fofocas políticas.

Os bastidores de uma campanha são deliciosos, desde que você tenha o privilégio que eu tive. Só trabalhar com amigos.

Amigos que me escolheram e amigos que eu escolhi. Tenho muito orgulho em dizer que jamais fiz campanha para alguém que não teria votado.

Alguns degeneraram mais tarde, pois o poder é grande destruidor de caráter. Outros, para minha alegria, continuam sendo da banda boa, daqueles que mesmo os adversários respeitam.

Mas eu falei de bastidores, e é deles que pretendo falar. Das histórias vividas que guardei nas cabines da saudade.

Lembro o dia que numa campanha para o Ronaldo César Coelho, Bob Feith e eu resolvemos ir jantar.

Avisamos à equipe de produção de TV que o candidato a vice-governador, Carlos Lessa, iria gravar, mas que não haveria nenhum problema.

Professor, diretor do BNDES, acostumado a se expressar com clareza, seria apenas maquiá-lo e abrir a câmera.

O resto podia deixar com ele. Foi uma grande surpresa quando a produtora nos chamou pelo celular dizendo que provavelmente o Lessa enlouquecera, pois estava falando há dez minutos uma inacreditável coleção de sandices e pelo jeito iria continuar ainda por muito tempo. A diretora de plantão sugeriu, antes do início da gravação, que ele desse ênfase à educação.

E foi o suficiente para que se iniciasse um verdadeiro show de opiniões esdrúxulas. A mais normalzinha era que desde o primário os garotos fumavam maconha. E os culpados eram os pais e os vendedores da Kibon.

Os primeiros porque não tomavam conta dos filhos e os segundos porque a Kibon pagava muito mal, obrigando seus representantes a completarem o salário vendendo maconha.

Interrompemos o jantar e corremos para a produtora, para descobrir que o tal Carlos Lessa – que a esta altura já estava dizendo que o ensino brasileiro incentivava a viadagem – não era a versão Damares do verdadeiro Carlos Lessa, mas um entregador de correspondência xará do professor, encantado com a oportunidade de expor suas ideias sobre educação.

Uma outra vez um candidato a deputado, sendo avisado que tinha apenas 10 segundos para falar seu nome e uma frase que resumisse seu ideário político, bateu com a mão aberta nos dedos que formavam um anel e disse seu apelido e resumiu sua filosofia de trabalho: “pra fudê com os corruptos”.

Infelizmente não pudemos permitir que essa joia fosse gravada. Ele não teve dúvida, trocou para “Fulano de Tal, pela saúde e pela educação”.

Pessoalmente acho até hoje que perdemos a oportunidade de consagrar um político, pois trabalhar pela saúde e educação todo mundo faz. Mas fudê com os corruptos é o que estamos precisando.

Lula Vieira é publicitário, diretor do Grupo Mesa e da Approach Comunicação, radialista, escritor, editor e professor (lulavieira.luvi@gmail.com)