Nascido em Sorocaba, interior de São Paulo, Danilo Dabague dedicou grande parte de sua carreira às agências de publicidade. Entre os muitos jobs de design decidiu se aventurar no universo do YouTube.
Criou em 2015 o então canal “Para Tudo” onde, montado como a drag queen Lorelay Fox, conversava com o público sobre preconceito, amor, comportamento, além de dar dicas e tutoriais de maquiagem e trazer curiosidades sobre o universo Drag Queen.
O canal cresceu, somando hoje 775 mil inscritos, mudou de nome e de público. Os vídeos passaram a trazer não somente Lorelay, mas também Danilo falando sobre temas sensíveis ao público LGBT e à sociedade de forma geral. As marcas se interessaram, assim como a Globo e o GNT, que o convidaram a integrar seus elencos em programas como Amor & Sexo e Superbonita.
Agora, criador e criatura anunciam a chegada do podcast que ganhou o nome do antigo canal. A ideia é falar desde assuntos corriqueiros vistos no Twitter até poesia. Confira o bate papo com Danilo Dabague, a Lorelay Fox, nesta nova edição do #papoPROPMARK.
Você é publicitário, como começou a sua carreira? Chegou a trabalhar em agência?
Me formei em publicidade, mas sempre trabalhei como designer gráfico. Trabalhei muito mais como publicitário do que como youtuber. Comecei a trabalhar na área antes de me formar, ainda em Sorocaba. Meu último emprego foi em uma agência em que eu fazia home office. Trabalhei quase seis anos lá.
O que você traz da publicidade e do design para o seu trabalho como criador de conteúdo?
Não consigo imaginar como alguém pode fazer um canal se a pessoa não tiver um repertório dentro de alguma área de comunicação. Vejo que todo o meu trabalho sempre foi pautado na minha experiência como publicitário. Quando eu criei o canal estava trabalhando em agência e fiquei muito empolgado porque era a chance de eu fazer um job que era meu, de criar uma marca minha.
Eu encarei no início como um trampo bem publicitário, de eu vender a minha imagem e é assim que eu imagino até hoje. Sou eu quem faço todos os layouts do meu canal, quem pensa na proposta de comunicação. Eu não consigo me ver longe disso, é uma profissão que eu amo muito.
Quando foi que você deixou de trabalhar com publicidade para se dedicar exclusivamente ao universo drag/influenciador?
Você sabe que não fui eu quem deixei, né? (risos). Eu fui mandado embora. Foi bem triste, eu chorei porque eu gostava muito de trabalhar naquela agência. Eu gostava muito da minha chefe. Ela cuidava dos clientes e eu fazia a produção e os layouts. Fiquei anos lá e gostava muito, minha relação com ela era boa, eu gostava do meu trabalho, só que criei meu canal. Ela viu essa criação, sempre apoiou muito, entendia quando eu tinha que viajar. Mas chegou uma hora que não dava mais e tudo passou a acumular. Isso foi no início de 2018, eu já estava morando em São Paulo e eu tinha muito medo de tentar viver só do canal porque realmente dá muita insegurança.
Seu canal está fazendo cinco anos. De forma geral como você se sente, mudou muito de cinco anos para cá?
Eu estava falando sobre isso com a Maíra Medeiros, ela é publicitária também e gostamos de falar sobre essas coisas. Uma das principais mudanças é a exigência do público sobre a quantidade de conteúdo que estamos criando.
Fui revisitar os vídeos desde o começo e, tanto para mim quanto para a Maíra, era um vídeo por semana de três ou quatro minutos e já era o bastante. À medida que o tempo foi passando, as pessoas foram pedindo mais conteúdo, não só no Youtube, mas nas outras redes sociais, podcasts, a demanda cresceu demais. Acho que a relação com as marcas também se transformou bastante.
Hoje elas já entendem muito mais como é trabalhar com influenciador, que precisamos sinalizar uma publi, o que hoje é óbvio, mas não era nada óbvio naquela época, e entendem o valor que temos no mercado. Que os números que temos são diferentes de quantos inscritos temos, para quanto engajamento a gente gera.
Tomou um rumo muito legal no sentido de clientes e marcas que a gente conquista, mas realmente uma sobrecarga muito grande na demanda de conteúdo que o público pede e que as próprias plataformas pedem.
Tem equipe trabalhando com você, como é sua estrutura para criar e publicar conteúdo?
Eu fiz tudo sozinho durante os últimos quatro anos e 10 meses. Agora estou com um editor. No início da pandemia eu chamei um rapaz para editar os vídeos, mas sempre tive muito apego a tudo que faço no canal, porque você sempre acha que vai fazer melhor. Só que é uma ilusão, porque sempre outras pessoas vão conseguir agregar e podem não fazer igual você, mas até melhor. Comecei a trabalhar com ele e isso foi uma revolução na minha vida. Agora tenho uma folga mental para criar. Faltava inspiração, agora que estou com essa folga da edição consigo ler muito mais, assistir outros canais, ver mais filmes, séries, ler muita revista, adoro ler revista. E estou numa fase bem criativa e gosto muito desse processo de pesquisa.
Com quais marcas você já trabalhou e o que elas querem quando vão atrás de você?
Já trabalhei com mais de 20 marcas. A última coisa bem legal que eu fiz foi para Avon, queria muito fazer campanhas para eles. Já fiz para O Boticário, para Quem Disse Berenice.
Sou embaixador da Smirnoff agora. Está cheio de vodka aqui em casa (risos). Foi uma campanha bem legal, que gravamos com a Iza, em que éramos agentes secretos. E são coisas diferentes que eu não me imaginava fazendo.
É legal quando o cliente chega com outra coisa, tipo a Stabilo. Eu sempre gostei de desenhar e lembro que juntei dinheiro por três meses para comprar um pacote dessas canetas. Quando eles me chamaram para fazer a publi a primeira vez, fiz por dois anos, eles queriam que eu fizesse um desenho, é algo bem diferente do que as pessoas imaginam que vão pedir para uma drag.
Acho muito legal isso das marcas quando elas me procuram, porque elas entendem que não estou aqui só para falar de LGBT, embora a maioria me procure para isso. Elas entendem que o LGBT pode estar inserido em qualquer contexto, pois somos pessoas normais. Sou representante dessa parcela, mas posso fazer qualquer publi que outra blogueira faria e isso é muito legal.
Entendo que as marcas também me procuram muito por eu ser um dos maiores canais LGBT do Brasil, para elas se posicionarem. Então a Smirnoff entende que eu não vou vender milhares de vodkas como se ela anunciasse com o Leo Picon, por exemplo, mas ela entende que se estiver comigo é uma bandeira que ela levanta e está se inserindo numa militância.
Você já fez algum anúncio sendo Danilo e não Lorelay?
Fiz para All Star numa campanha de Dia dos Namorados, mas quando é coisa de Instagram eu sempre falo para fazer desmontado, porque se não perde a veracidade. Já que é uma coisa do meu dia a dia e no meu dia a dia eu não estou montado, prefiro ser Danilo e as marcas são super de boa a respeito disso.
Quais são os seus critérios para fechar essas parcerias comerciais?
Às vezes estamos numa fase que não entra publi nenhuma e parece que é nessas horas que surge a tentação. Vem uma marca que já deu close errado, só que não dá para fechar por vários motivos. Claro que nem todas as marcas a gente consegue fazer uma pesquisa. Quando são marcas maiores a gente consegue ter uma maior noção. Acho que não custa nada eu abrir mão de algumas coisas porque tem tanta marca fazendo coisas legais, faz parte a gente filtrar. O meu público cobra e já aconteceu de eu estar em um lugar que era patrocinado por uma marca X, que tinha uma história de close errado e eu não sabia e o público avisar.
Quem é o seu público? Mudou ao longo desses anos?
Mudou bastante. Não sei mudou, ou eu que tinha outra imagem quando comecei. Eu achei que meu canal seria para gays que queriam se maquiar, afinal o canal começou por eu ser drag, não imaginava que seria um canal militante. E o canal hoje é 60% público feminino e sei que a maioria dessas mulheres são hétero, de fora da minha bolha. É bem legal isso. Só que, por exemplo, quem vem me falar da militância LGBT, neste caso das marcas close errado, são as gays novinhas.
Você já participou de programas da Globo, do GNT, além de realities como o Corrida das Blogueiras. Como foram essas experiências? E como chegaram até você?
Eu acho muito chique (risos). Esse é o tipo de coisa que nunca fui atrás. Eles vieram até mim. A primeira vez, em 2015, meu canal não tinha nem um ano ainda e houve a gravação do Amor & Sexo, que foi o primeiro programa nacional que participei. Fiz uma temporada lá com eles.
Para o GNT foi a mesma coisa, chegaram até mim porque já me conheciam do Amor & Sexo, mas meu canal já era bem maior. A primeira temporada do Super Bonita gravamos em 2018. O que eu achei legal foi que eu estava lá para falar sobre maquiagem. Foi a primeira vez que a TV me chamou para falar sobre um tema que não era militância. Isso é muito legal para mostrar que a gente não precisa estar o tempo todo se reafirmando, levantando bandeira. É claro que durante o programa a gente tocou em diversas questões sobre diversidade, mas eu estava lá para ser a pessoa que entendia de maquiagem.
Agora você anunciou um podcast. Me conta um pouco sobre este projeto.
Por enquanto está no Deezer e no Spotify, mas também quero levar para outros agregadores. É aquele tipo de projeto que eu queria fazer sair do papel porque sou muito fã de podcast, escuto vários para me divertir e porque as pessoas sempre falaram que gostavam de ouvir minha voz.
Eu pensei no podcast também porque à medida que essa ideia foi tomando corpo e comecei a colocar em prática, vi que estava muito ansioso, animado e com medo, como não ficava há muito tempo. Não ter o vídeo, que conta demais para mim por eu ser uma drag, me tirou muito da minha zona de conforto.
Quero falar sobre temas bem aleatórios. No Twitter eu sou muito aleatório e achava que lá sempre surgia um tema legal para conversar e se perdia porque não renderia um vídeo de 15 minutos no YouTube. Quero que seja algo divertido e quero ler poesia. Pela minha experiência, o formato que eu tenho agora não é definitivo, a coisa vai se transformando e quero experimentar tudo o que eu puder.