Este texto foi inspirado num email que eu recebi. Atribuído a mim, olha só! Quem me conhece sabe que eu não escreveria tão mal como está no original. Mas a ideia é boazinha.
Tanto que eu resolvi reescrevê-la e assumi-la. Não se trata de plágio nem de apropriação indébita, pois a única pessoa que poderia me processar seria eu mesmo.
Caso inédito de colunista que se autoprocessa por plágio. Mas o risco não seria muito grande, já que eu, me conhecendo, sei que acabaria propondo um acordo pra mim mesmo.
Eu iria relutar um pouco, mas acabaria cedendo. Este é, portanto, um texto que não fui eu que escrevi, mas fui eu que adaptei, embora na internet atribuiu-se a mim a autoria.
Dois amigos estão no bar. O garçom apresenta o vinho para um deles provar. O outro observa com um pouco de nojo. São velhos colegas de faculdade, moraram juntos numa república de estudantes, no tempo que isso existia.
O primeiro gira o vinho no copo, examina a cor, cheira, bochecha, revira os olhinhos. O outro passa a mão na garrafa, enche a taça, engole tudo, limpa os lábios com as costas das mão.
– Hum…
– Humm….
– Eca!
– Eca? Você disse eca?
– Disse, porra. Esta merda tá com um gosto estranho.
– Que é isso? Ele lembra frutas secas adamascadas, com leve toque de trufas. O retrogosto é persistente, sua otência tânica é relativamente alta, sugerindo acompanhar algo mais forte como caça, por exemplo. A estada no carvalho lhe deu também uma sutil presença nas papilas posteriores…
– Putaqueopariu! Você cheirou tudo isso nesse copo aí?
– Claro. Fiz um curso de enologia. Digo mais. Essa combinação de Cabernet Sauvignon com Merlot trouxe o melhor dos dois mundos, tanto em sabor como na própria presença de elementos voláteis. Você não é enólogo?
– Cebesta! Sou macho. Esse vinho me lembrou cheiro de cachorro molhado.
– Que heresia! O Parker considerou uma das melhores relações custo-benefício deste ano. Levou 93 pontos, dentro da sua faixa de preço. É uma das melhores pontuações entre os de terras novas. Você não pratica degustação?
– Não, só engolição. Na verdade a gente também olha, mas é pra ver se tem barata dentro, dá um tiquim pro santo e manda ver. Quando bate no bucho e dá aquele arrepio a gente estala os dedos, balança a cabeça e diz uma palavra apropriada.
– Como?
– Alguma coisa especial, adequada ao momento. Como: “Caralho” ou então “Putaqueopariu”! Ou, quando tem senhoras por perto, algo bem mais fino: “Porra!”.
– Se você quiser eu introduzo você nesta área de degustar vinho. Na falta de assunto dá para passar a noite toda falando de uvas, safras e colheitas.
– Introduzir você não vai introduzir nada, pois se bem me lembro, quem já tomava desde jovenzinho era você. Além do mais, na minha turma a gente tem assunto para várias noites: futebol e mulher.
– Venha até o grupo de discussão que eu faço parte que hoje nós vamos degustar o Beaujolais.
– Seria capaz de jurar que tinha um francês nessa parada.
– Tudo bem, não vamos discutir. Já que você não gostou desse vinho vou pedir outro. Que tal um mais bruto e mais duro?
– Que tal uma porrada nos cornos?
* Para entrar em contato com o autor, escreva para ulavieira@grupo5w.com.br