Quando falamos de negócios e consumidores, há uma enorme variedade de possibilidades de comunicação. São inúmeras variáveis que dialogam entre produto, propósito de marca e uma série de dados de segmentação de públicos. Cada maneira de criar um relacionamento deveria ser única. No entanto, no Brasil, 5º país mais conectado do mundo à internet, muitas marcas ainda se comunicam com o consumidor com a mesma linguagem dos anos 1980 e perdem oportunidades de negócio ao não se conectarem com seus consumidores.
Um olhar para as prateleiras nos supermercados revela uma padronização no design e na linguagem. Supermercados usam paletas de cores similares e visuais idênticos em cartazes de ofertas; embalagens de alimentos com as mesmas paletas de cores e fotografias genéricas; muitos produtos de marcas diferentes, mas sem diferenciação. E quando não há diferenciação de produto o que resta é a cruel briga pelo preço.
Mas alguns números demonstram que o consumidor está interessado em saber mais dessas empresas. 83% dos brasileiros têm interesse em saber o que as empresas estão fazendo para gerar valor real para a sociedade, além de apenas obter lucro, e 79% querem que as empresas e marcas se posicionem em relação a assuntos importantes em áreas como sociedade, cultura, meio ambiente e política. É a grande maioria da população, todas as classes sociais. Os dados são da pesquisa "O que quer o Consumidor de 2023", realizada pela Inteligência de Mercado Globo.
Ou seja, é possível entender que empresas com um propósito claro na mente do consumidor têm mais engajamento e são mais valorizadas. E é aqui que entra o design. O logotipo, a identidade visual e a embalagem são canais diretos de comunicação com o consumidor e são custos inevitáveis. Não usar estes meios estrategicamente é desperdiçar o investimento. E, no final, uma marca que não se diferencia, perde consumidor.
Em tempos de ESG, o consumidor, especialmente o mais jovem, está cada vez mais atento ao propósito das marcas. E propósito não precisa ser necessariamente sustentabilidade, ou ativismo político, pode ser a continuidade de uma tradição, ou proporcionar momentos especiais aos seus clientes. Mas precisa ser autêntico, real. A necessidade de as marcas expressarem seus valores com clareza é cada vez mais premente; as grandes já trabalham nesse sentido, chegou a hora (e a vez) de os pequenos se movimentarem.
Há oportunidade. Enquanto 68% dos consumidores globais acreditam nas pequenas empresas, no Brasil, esse número chega a 75%, de acordo com dados da "Morning Consult". É o momento ideal para os pequenos saírem das sombras e expressarem sua história, sua razão de existir e seus diferenciais.
Este processo de construção da estratégia que vai gerar a criação da identidade da marca é o que se chama branding. Que o resultado seja bonito e autêntico, é a obrigação de um bom designer, mas para ser efetivo precisa ter fundações sólidas. Se você não sabe para onde vai, qualquer caminho é válido. As pessoas criam relações emocionais com marcas verdadeiras.
Renata Alcantara é designer e fundadora do Nata Design Estúdio