Como no mercado, na guerra, a propaganda tem a função de conquistar corações e mentes, vender narrativas e induzir escolhas. Enquanto o poderio bélico dispara tiros e bombas, a propaganda dispara informações, em forma de textos, fotos e vídeos. Como na publicidade convencional, na propaganda da guerra também muito material é criado e produzido para alcançar as metas.
Nem tudo o que se diz e mostra é verdade ou, melhor dizendo, quase nada do que se diz e mostra é absolutamente verdade. O importante é que sirva de ilustração para o discurso de um lado ou de outro.
Quanto mais dramático, escandaloso e chocante for o registro, melhor. E aí, como tem de ser, sempre entra a sensibilidade criativa. Essas grandes campanhas de propaganda unem veículos de comunicação diversos na difusão de conceitos importantes para os interesses a que representam, sejam políticos ou econômicos.
O presidente da Ucrânia, Volodymir Zelensky, é um profissional de comunicação, e tem se mostrado bom no que faz. Suas falas são carregadas de uma emocionalidade calculada e recheadas de formulações com muito poder de comoção. Responder a Biden que “queria armas, não uma carona”, foi uma bela sacada. Assim como a indumentária que usa para os discursos, que remete a jogos de aplicativo, e os cenários de que se utiliza. Tudo muito pensado, limpidamente espartano. A ideia é “vender” um herói do bem enfrentando o gênio do mal.
A mídia ocidental entendeu o recado e comprou a ideia. A produção de fotos e vídeos complementa a campanha com muita eficácia na escolha das histórias, sempre que possível envolvendo lágrimas e crianças. Do outro lado, Vladimir Putin, menos popular do lado de cá, oferece um show de poder e riqueza, com seus mármores espetaculares, e uma expressão segura, tranquila, mas firme. Naturalmente inabalável, em contraste com um adversário cuidadosamente abaladíssimo.
A reunião do presidente russo com as comissárias da Aeroflot gerou imagens irresistíveis para a mídia. Quem acompanha o cotidiano da guerra na Ucrânia, lendo e assistindo meios de comunicação de um lado e de outro, tem uma boa oportunidade de compreender os movimentos da guerra da mídia.
O mesmo fato tem duas versões, uma que inflama o horror às agressões russas, outra que justifica a ação, exatamente contra os horrores que ali se praticava.
No Brasil, ocorre um fenômeno curioso. A Globo, inimiga declarada de Bolsonaro, centra fogo em Putin, a fim de que a sua completa demonização atinja e desmoralize o alinhamento do presidente brasileiro com a Rússia.
A CNN Brasil segue a mãe, americana, aliada de Biden desde pequeninha. Já a Band, talvez por seus acordos com a China, se apresenta com alguma independência, o que torna sua cobertura mais interessante, no meu entendimento. Com a Jovem Pan acontece um negócio interessante: como “anticomunista” de carteirinha, não pode perdoar Putin, mas, como bolsonarista convicta, busca justificar Bolsonaro. Enfim, se a guerra de verdade é uma tragédia em si, a guerra na informação pode ser uma importante aula de propaganda.
Stalimir Vieira é diretor da Base de Marketing - stalimircom@gmail.com