As redes sociais estão coalhadas de vídeos em que meninas e meninos menores de idade cantam e rebolam, ao som de funks com letras “indecentes”. Todos muito à vontade na prática de sua “arte”, sem qualquer tipo de constrangimento ou receio por estarem fazendo coisas, em tese, incompatíveis com a sua idade.

Em alguns casos, parentes prestigiam as performances que rendem, muitas vezes, boa monetização.

Não faltam, inclusive, patrocinadores. Isso causa escândalo em uma parcela mais conservadora da sociedade, que denuncia essa liberalidade, como resultado do pensamento permissivo, que tem orientado os maiores influenciadores de nossos jovens.

Seriam esses, vítimas de um processo de estímulo à erotização de seus corpos, em benefício da satisfação de taras diversas. Pode ser.

Merece alguma reflexão, no entanto, o quanto esse comportamento seria ou não uma “evolução” na exploração sensual de crianças e adolescentes, se comparado com tempos passados, em que, encoberta por um manto de hipocrisia, a prática de abusos ocorria em níveis alarmantes, nos lares, nas igrejas, nos clubes esportivos, enquanto a sensualidade precoce era rigorosamente vetada à exposição pública.

O fato é que a moralidade e os seus dogmas nunca protegeram crianças e adolescentes de coisa nenhuma e, de preferência, alimentaram discursos que mascaravam verdadeiros pedófilos.

O escancaramento da erotização, ou de atitudes e gestos que remetem a um erotismo precoce, não deixa de jogar luz sobre uma condição, então, proibida, que convinha a oportunistas, que se valiam da ingenuidade de crianças e adolescentes para suas práticas criminosas. Precoce não se torna apenas a erotização, mas a consciência de um eventual poder de erotizar e suas consequências, já bem cedo na vida dos jovens.

A naturalização dessa percepção, acompanhada dos devidos alertas, revelados por uma educação sexual responsável e suficientemente isenta, no sentido de livre de conceitos moralistas tradicionalmente hipócritas, deve formar uma juventude de pensamento mais independente e mais preparada para identificar e se proteger de seus predadores.

Afinal, sempre será muito mais seguro rebolar num estúdio iluminado, ainda que ao som de letras despudoradamente bizarras, do que foi um dia o estímulo à erotização precoce, em ambiente privativo, lúgubre, sob a trilha de algum canto sacro.

Em vez de proibir, abrir e iluminar, explicar as coisas às claras, jogar limpo, educar para a realidade.

Controlar o instinto sexual ou os excessos de uma exibição de cunho libidinoso não é uma questão a ser tratada como se estivéssemos diante de uma tragédia antinatural.

Pelo contrário: deve ser conduzida com sabedoria e serenidade, através de um processo paralelo de conscientização.

Sexo e arte se confundem ao longo da história, como demonstraram nossos mais emblemáticos talentos artísticos de todos os tempos.

Explicar isso, o tempo todo, às nossas crianças e adolescentes, através de expressões de bom senso da nossa parte, é a melhor forma de conduzirmos o inevitável pelo caminho mais adequado.

Stalimir Vieira é diretor da Base de Marketing
stalimircom@gmail.com