A cada ano temos observado o crescimento de pautas e ações voltadas para diversidade & inclusão dentro das companhias, agências e anunciantes. E isso é ótimo, espero que cada vez mais saia das discussões e se torne prática.
Mas dentro deste contexto, a acessibilidade tem sido deixada de lado e, o pior, muitas vezes nem é considerada. Com isso, uma importante parcela da população também. E o reflexo dessa exclusão pode ser observado em todas as camadas da sociedade, incluindo a publicidade.
A acessibilidade é lei no Brasil, mas as regras e normas ainda são desconhecidas por boa parte da população. Garantir soluções de acessibilidade deveria ser prioridade. E, aqui, falo além das rampas, elevadores e banheiros adaptados. O site da sua marca é acessível?
Você considera legenda, Libras e audiodescrição nos vídeos e publicações? Ou textos alternativos e descrição nas imagens.
Tudo isso é o que chamamos de acessibilidade comunicacional, que considera a ausência de barreiras na comunicação interpessoal, na comunicação escrita e na comunicação virtual.
Em todo o mundo, mais de um bilhão de pessoas têm alguma deficiência, uma população que, de acordo com a Accenture, equivale à terceira maior potência econômica mundial, com um poder de compra de 8 trilhões de dólares ao ano.
Atualmente, o Brasil possui 18,6 milhões de pessoas com deficiência, o que corresponde a 8,9% da população, segundo dados do IBGE e da Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (SNDPD/MDHC).
Imagine a sua marca desenvolvendo uma mensagem acessível para aumentar o alcance potencial, criando novas formas de impacto e gerando uma relação entre a marca e estas pessoas?
Aproveito para te convidar também a pensar na representatividade. Você considera pessoas com deficiência na sua comunicação? Uma pesquisa divulgada pela Aliança Sem Estereótipos com apoio da agência Heads identificou que, dos anúncios analisados no Brasil, apenas 1,2% mostrava pessoas com deficiência.
Um histórico que sempre fica entre 0,5% e 1,5%. Isso é alarmante, não acha? Continuar dessa maneira significa a manutenção da exclusão.
A falta de representatividade não é uma realidade apenas brasileira, mas vocês podem começar a mudar a história. Aqui, falando com especialistas de comunicação, proponho essa mudança.
Ao considerar acessibilidade e representatividade nas campanhas, vocês ganham oportunidades incríveis de alcançar ainda mais consumidores e chegar a lares, famílias e pessoas de absolutamente todas as classes sociais e lugares.
Deixo o convite para que você e sua agência/marca considerem a acessibilidade desde o planejamento. Ainda dá tempo de incluir o tema no budget para 2024.
Mas não faça de qualquer jeito, é importante ter ao lado uma consultoria especializada no tema. Acredite, se for bem feito e, principalmente, considerado desde o início, vai melhorar e muito o trabalho de todos.
Por isso, busque a orientação e participação de profissionais especializados e envolva pessoas com deficiência (esse ponto é importantíssimo, pois garante legitimidade) durante todo o processo, desde a concepção da ideia até a publicação.
Além de ser importante de forma estratégica, é relevante também de forma financeira: é mais barato considerar a acessibilidade no início do processo do que precisar ajustar no meio do caminho.
Além de contribuir para o direito legítimo das pessoas e consumidores com deficiência, considerar a representatividade e acessibilidade na publicidade é uma estratégia de negócio, que gera somente benefícios para marcas e agências.
Ana Clara Schneider é fundadora e diretora-executiva da Sondery
anaclara@sondery.com.br