O não jornalista, que tem audiência de um grande jornal e trata de assuntos que um grande jornal trataria, mas que faz isso como se estivesse batendo um papo
no boteco, nós já temos. E não dá certo. Falta formação de jornalista, falta faculdade, educação suficiente para que se entenda coisas como ética, responsabilidade, estética, língua portuguesa, dialética, e a sutil e perigosa
diferença entre opinião, liberdade de expressão e crime.

O não político, que chegou lá fazendo a não política e prometendo a não política e depois de um tempo em vez do toma lá da cá faz o toma toma, toma, toma lá dá cá, já temos também. E, também não deu certo. Não tem como dar certo, pois o não político uma hora cai justamente porque falta política. O difícil é quando todo um país sofre anos para aprender isso.

O não político é sedutor no início e por isso é bem votado, pois ninguém acredita, afinal, que alguém vai ser idiota em fazer todo absurdo que fala. Mas eles fazem.

Precisamos de políticos bem formados, decentes, que façam uma coisa apenas a vida inteira: política. E, claro, sejam honestos.

O não publicitário, que profetizou o fim da publicidade como conhecíamos, o fim da mídia como conhecíamos, o fim da filmagem de alta qualidade como conhecíamos... bem, você já entendeu, e que, depois de prometer mudar tudo, abre uma agência que faz tudo menos comunicação de boa qualidade, isso também já temos.

E essa distração com o nome pomposo de disrupção nos custa muito caro a reputação do mercado. Comunicação requer formação, ética, estética, antropologia, técnica, talento, estudo, tentativas, erros, acertos e humanidade. Requer 10 mil horas de treinamento
no mínimo para quem se dispõem a tentar. Nada na natureza brilha sem fricção. Dá trabalho, mano.

Vamos voltar para as faculdades, para os centros educacionais, para as aulas de arte e até para o autodidatismo, desde que haja dedicação e talento envolvidos. Entender de gente voltou a ser hype.

Os não veículos de comunicação, que prometem a liberdade,  voz a todos, a não interrupção, a defesa das minorias mas que vivem de receita publicitária veiculadas em conteúdos de ódio, também já temos.

O mundo já tem isso demais.  É a nova nicotina e não é legal.

É hora de anunciantes saberem exatamente onde suas marcas são vistas. Ao lado de quais notícias ou conteúdos. E as notícias precisam vir de Folhas, Estadões, Globos etc. Veículos de comunicação que são discutíveis, que têm gente que gosta e gente que não gosta, que pisam na bola, mas que têm CNPJ e endereço fixo para pagar por isso. Informação é importante demais e perigosa demais para custar barato e ser fornecida por qualquer um.

O não alguma coisa cansou. O não da cultura, o não do meio ambiente, dos direitos humanos, da saúde, o não presidente.

É, amigo, o poder da comunicação convenceu milhões de pessoas a nos trazer até aqui. E será a comunicação que vai nos tirar daqui. E que seja urgente, pois tá osso.

Flávio Waiteman é CCO/Founder da Tech and Soul flavio.waiteman@techandsoul.com.br