O festival de inovação e tendências SXSW, que acontece anualmente em Austin, no Texas, desde 1987, é uma aula de fritação da mente para nerds - e uma vitrine para aumentar o engajamento dos posers.
Este ano, o evento tomou conta da capital da música ao vivo, título que Austin adora ostentar, entre os dias 8 e 16 de março com um público pagante na casa das centenas de milhares de pessoas, entre as quais, muitos, mas muitos brasileiros.
Com média anual de público na casa dos 300 mil visitantes - os números de 2024 ainda não foram divulgados - o South By Southwest figura entre os maiores eventos do planeta.
Para quem desembarca na cidade com o intuito de aprender, se renovar, mergulhar de fato na programação, antes de mais nada, é preciso meditar e entender que não vai dar pra ver tudo o que você marcou no aplicativo do festival.
Os números já dão aquele aperto no peito e embolam o fluxo natural da respiração: são mais de 3.000 atividades e quase 2.000 palestrantes multidisciplinares ao longo de uma semana, contemplando o que há de mais atual nas áreas de tecnologia, inovação, cinema, música, comédia e negócios.
E como isso tudo se materializa? O Austin Convention Center, bem no centro de Austin, é o coração da parte de painéis, entrevistas e palestras. Uma espécie de Anhembi vertical, o prédio abriga quatro andares de salas, algumas gigantescas, com capacidade para mais de mil pessoas (os “Ballrooms”) e outras menores.
Simples na cenografia e na configuração de cadeiras, mas quase sempre muito rebuscado e grandioso no conteúdo, nesses painéis estão desde milionários CEOs e CMOs de multinacionais até grandes estrelas da música e do cinema.
Em 2024, entre os nomes que provocaram enormes filas nos “ballrooms” estavam Jon Bon Jovi, Jane Fonda, Amy Webb, John Oates, a dupla Black Keys, Selena Gomez e uma infinidade de pensadores estrelados falando de Inteligência Artificial, termo que recheou uns bons 30% dos painéis.
Pelo festival de cinema do SXSW, o segundo maior dos EUA, só ficando atrás de Sundance, passaram big stars como Emily Blunt, Nicolas Cage, Kirsten Dunst, Anne Hathaway e Ryan Gosling, entre muitos outros nomes que provocaram tumulto em frente ao cinema Paramount na Congress Street.
A parte de música do SXSW é o lugar para quem quer conhecer novidades vindas do mundo todo. Por isso é comum que artistas praticamente paguem para se apresentar no festival.
Por ser uma vitrine importantíssima, o South by Southwest se torna o palco perfeito para ver também artistas consagrados, que topam se apresentar em configurações mais simples, como o rapper Marcelo D2, que este ano se apresentou num showcase do Tropiclub no Speakeasy, pequena casa de shows que se soma a outras dezenas de venues que são utilizadas como palco para o SXSW. Outros brasileiros que tocaram nesta edição do festival foram Bia Ferreira, o DJ João Brasil, Thiago Pantaleão e Papisa.
Entre os nomes internacionais bombados, a lista era bem menor: teve Black Keys, Bootsy Collins e Zapp Band, a banda veterana indie Mogwai, a dupla de DJs Red Axes e o showcase do selo Italians do It Better, por exemplo. O forte da parte de música do festival é se embrenhar no desconhecido.
A delegação brasileira este ano teve um ponto de encontro, a Casa São Paulo, organizada pelo Governo do Estado em parceria com a ONG Criando Falcões. Foi lá que mediei um painel com mulheres líderes do mercado da música brasileira, emulando uma pequena célula da plataforma Women’s Music Event, da qual sou co-criadora. A Casa SP atraiu filas de brasileiros, uma das maiores delegações de visitantes estrangeiros do SXSW - nos bastidores se falava em 3.000, mas pelo português que se ouvia pelas ruas da cidade a sensação era de que quase um quarto dos participantes vinha do Brasil.
Não à toa um dos patrocinadores do evento, pelo segundo ano consecutivo, é o banco Itaú, que investiu seus esforços em acessibilidade, oferecendo a tradução de mais de 100 palestras do SXSW do inglês para o português, além de patrocinar a Casa São Paulo.
Para quem trabalha com marcas, seja criando conteúdo ou na publicidade, ou ainda para quem precisa de patrocínio para fazer seus negócios girarem, o SXSW é sim um lugar para botar no roteiro, pela oportunidade de fazer networking e, claro, para dar uma renovada no repertório. Só não desanime ao se deparar com budgets inflacionados de pacotes com hotéis de luxo e tours guiadas. A não ser pelo alto valor dos badges, que vão de US$ 945 (música, que dá acesso às palestras e shows) até US$ 2095 (platinum, com acesso a tudo), existem alternativas razoáveis para hospedagem um pouco mais longe do centro e, com certeza, é possível fazer o seu próprio roteiro.
Cheguei em Austin ansiosa, pensando em Fomo (“fear of missing out”), o tal "medo de ficar de fora", mas entendi que a experiência South By é muito mais prazerosa se você se permitir abraçar o modo Jomo, o mote de quem prefere fugir da culpa e viver o “joy of missing out”, ou seja, o prazer de poder perder. Faz parte da experiência. Os badges para 2025 já estão à venda.
Claudia Assef é escritora, editora-chefe do Music Non Stop e organizadora do Women's Music Event