Até aqui, muitas questões sobre o papel do homem na sociedade já foram discutidas. Em tempos de documentários como ‘The Mask you Live in” e grupos reflexivos de masculinidades como o MEMOH e Brotherhood Brasil, a descoberta de uma nova visão do masculino abriu campo para ganhos no enriquecimento, sensibilidade e humanidade para os homens. Inclusive, fez com que muitos deles se autodeclararem feministas.

As discussões atuais colocam em pauta todas as crenças hereditárias de uma masculinidade cheia de comportamentos negativos, que compõem a chamada caixa dos homens: um conceito criado nos anos 80 por Paul Kivel, que explica as regras que todo homem deveria seguir para ser aceito na nossa sociedade patriarcal.

Os códigos da masculinidade tóxica são inúmeros. Recentemente fomos impactadas por um vazamento de áudio que foi escândalo, mas pare para pensar: quantos áudios como esse estão protegidos nos grupos de WhatsApp masculinos?

A prática da “broderagem” extrapola os relacionamentos e, no mundo corporativo, eles ganham nova roupagem: Quantas vezes vocês já viram um homem chamar a atenção de outro homem por interromper uma mulher numa reunião? Quantas vezes você já viu um homem advertir um amigo que usou frases como “mal-amada” e “está na TPM”, para se referir ao comportamento de uma mulher no trabalho?

Por tudo isso, precisamos ir direito ao ponto: como, apesar de tantas discussões e posts nas redes sociais, ainda vemos tanta distância entre os discursos dos homens ditos feministas e suas práticas? Será que existe uma necessidade silenciosa de manter a irmandade e a sustentação do arquétipo de “amigo dos amigos” impedindo que homens ajam de maneira ativa corrigindo seus amigos, pares e líderes?

Homens costumam dizer que operam melhor pela lógica. Então, que tal alguns números? No Brasil, as mulheres são mais de 50% dos formados nas universidades desde 1999 e 40% da população economicamente ativa desde 1995. Mas representam apenas 14% dos quadros executivos e 11% dos Conselhos de Administração nas grandes empresas.

No ranking de igualdade de salários, o Brasil ocupa o lugar 124 entre 142 países avaliados, segundo o Fórum Econômico Mundial. E, de acordo com o IBGE, elas recebem 20,5% menos que os homens, e essa diferença pode chegar a 52% nos cargos mais altos. Já as mulheres negras costumam receber menos da metade do salário dos homens brancos, 44,4%.

Pode piorar? Pode. Quando olhamos para o mercado da comunicação, segundo a pesquisa da MORE GRLS com o Propmark, apenas 10% dos CEOs são mulheres. E se considerarmos outras intersecções como raça, aí desaba de vez: apenas 4,3% das mulheres negras estão no comando de alguma área nas agências de publicidade e nenhuma é CEO.

A presença de mulheres, ou melhor, ausência, não significa piores resultados nos negócios. Pelo contrário. Empresas que possuem diversidade em seus quadros tendem a ter 50% mais chance de aumentar a rentabilidade, segundo relatório da McKinsey.

Mas precisamos dizer que, muitas vezes, essa inação pode vir de um lugar de incompreensão sobre o seu lugar de fala. Alguns homens alegam: “como sou homem, não me cabe agir sobre o feminismo.”

Ter um privilégio é ter poder. Isso quer dizer que são os homens que hoje possuem mais poder para alterar o cenário de machismo no mercado de trabalho. E já comprovamos, com dados, que eles não perderiam negócios com isso.

O tão sonhado “walk the talk” no qual veremos resultados práticos e tangíveis de equidade e equiparação salarial parece em estágio letárgico.

Como os homens podem colocar seus discursos feministas em prática e ajudar na tão sonhada equidade de gêneros nas empresas?

No episódio 8 do Job pra Ontem, podcast da MORE GRLS, que contou com a presença de Tulio Custódio (Sócio na Inesplorato), Fabio Porchat (humorista, apresentador e escritor), Oga Mendonça (designer Multimídia) e Pedro Figueredo (fundador da MEMOH), tentamos pensar em algumas boas práticas para acelerar esse processo:

1. Pare de ser um eterno aprendiz e aprenda de verdade. Conheça o novo feminismo. Saiba exatamente o que é o machismo. Só quem não sabe tem medo de falar bobagem.

2. Não faça das mulheres suas professoras. Achar que é obrigação delas te ensinar sobre o machismo é mais um sinal de machismo.

3. Converse com outros homens sobre seus sentimentos e erros. Frequentar espaços de debate e rodas reflexivas ajuda a enxergar com mais clareza suas atitudes.

4. Quebre o pacto da “broderagem”. Proteger um amigo ou um colega que comete um ato machista, é tão ruim quanto cometer o assédio. Não deixe que isso aconteça na sua frente, nem no grupo de WhatsApp de homens.

Podemos contar com vocês?

Laura Florence e Camila Moletta (cofundadoras da MORE GRLS), Ana Cortat e Carla Purcino (estrategistas da MORE GRLS)