A primeira cena se passa em um trio elétrico, com mais de 250 mil pessoas presentes, Rio de Janeiro, literalmente Rio 40 graus. A cantora do trio fala pela primeira vez com seu público, chocada pela quantidade de pessoas presentes. Nunca tinha tido uma plateia como aquela.
A segunda cena também acontece no Carnaval, na saída do mesmo trio elétrico, quando fãs começaram a correr atrás de webcelebridades. Uma delas fala que nunca precisou "fugir" de tanta gente. Percebendo sua surpresa, perguntei se ela sabia quem eram aquelas pessoas. Sabe quem? Literalmente, seus seguidores.
Outro dia, ouvi Igão e Mítico, apresentadores do Podpah, o maior podcast do Brasil, em conversa no Mano a Mano refletindo sobre o fato de não entenderem o tamanho, peso deles. Isso porque o podcast foi criado durante a pandemia quando não era possível "sentir a rua", apesar de estarem falando para essas pessoas.
Essas três cenas apontam para uma das mágicas do trabalho de entretenimento, cultura e influência que é o ao vivo: o show, a rua, o público, o suor, os flashes, os abraços, os brilhos nos olhos, as declarações. Acima de tudo, a presença. É o estar presente que acelera o entendimento do que de fato é a audiência e a nossa influência sobre ela. É a presença que fortalece as conexões.
É o clichê de que o online nos aproxima de pessoas em diferentes lugares, mas afasta nossa percepção sobre elas, por maior que seja o volume de dados que temos em mãos hoje em dia. Não é sobre um ou outro, mas sobre a potência dos dois.
Você pode ver que curte e comenta seus posts, mas quem de fato são essas pessoas, quais as suas histórias, dores, qual seu sotaque, como elas te olham de verdade? Como a sua presença impacta suas vidas?
Vemos tanta gente falando sobre comunidade, mas sua semântica não é tangível o suficiente para o mercado geral compreender. Precisamos falar sobre presença, sobre “intimidade radical como ferramenta para influenciar cultura e comportamento” como diz Marcus Collins, autor do livro “For the Culture”. Já viu algum relacionamento verdadeiro e duradouro ser construído sem intimidade? Pois é, eu não. Uma pesquisa da MBLM aponta que as pessoas pagam mais por marcas das quais se sentem mais íntimas.
Como você cultiva a conexão emocional com seu público? Como você usa sua voz para comunicar sua visão e acelerar essa conexão? O quão presente você está na vida da sua audiência? Qual nível de intimidade você busca desenvolver com ela?
Intimidade radical é estar no dia a dia, cuidar, se importar, compartilhar dores e conquistas, ter apelidos, levar para conhecer coisas novas, desabafar (sim, estamos falando de relacionamento, seja ele qual for). Se enquanto marca e criadores de conteúdo buscamos tanto influenciar cultura e comportamento, precisamos - acima de tudo - nos fazer presentes.
Alan Rochlin é diretor de negócios da MAP Brasil