Nessa minha jornada para ajudar empresas a entender e aplicar os critérios ESG, tenho lidado com muitos questionamentos. O mais comum é: até que ponto eu devo encarar ESG no meu negócio?
Não existe resposta pronta. Depende da natureza do negócio, dos recursos envolvidos e de uma série de variáveis que precisam ser analisadas caso a caso.
Por exemplo, se a sua empresa é prestadora de serviços, sem unidade fabril e logística complexa, é claro que aspectos relacionados à pegada de carbono e outras questões ambientais são menos relevantes.
A vertente E, de Environmental/Ambiental, leva em conta questões como consumo de água, energia, emissão de GEE (gases de efeito estufa), resíduos, ruído, embalagens e materiais, dentre outras variáveis.
Sempre dá para melhorar a pegada ambiental, mas este não deve ser o foco principal do alinhamento de empresas prestadoras de serviços aos princípios ESG.
É claro que dá para buscar melhoras pontuais, como monitorar e reduzir o consumo de água e energia; eliminar resíduos plásticos, como copos e garrafas plásticas descartáveis; adotar combustível mais limpos nos veículos da empresa e garantir que os resíduos sejam coletados, classificados e destinados corretamente.
São iniciativas que sempre cabem nas nossas casas e nos nossos escritórios, mas com efeitos limitados, quando comparados à pegada das indústrias.
Já o S, de Social, deve merecer grande atenção de todo tipo de empresa. A pergunta-chave é: quão diversa, respeitosa e inclusiva é sua empresa? Quanto à diversidade, o parâmetro deve ser o perfil Brasil.
Por exemplo, de acordo com o último censo consolidado do Brasil, as mulheres representam 51,1% da população. Se na sua empresa o número de mulheres se equivale ao de homens, inclusive em cargos de liderança, OK, vocês estão alinhados. O mesmo deve ser verificado em relação à participação de pessoas pretas e pardas, LGBT+, PCDs. Eu sempre recomendo que seja feito um censo interno para identificar o perfil dos colaboradores. Um censo cuidadoso, feito de forma voluntária e anônima.
Se houver desvios consideráveis, caberão ações afirmativas, que são iniciativas para corrigir desigualdades, abrindo vagas direcionadas à inclusão de minorizados.
Antes mesmo da DE&I (Diversidade, Equidade & Inclusão), a empresa precisa estar compliant às questões trabalhistas e estabelecer uma administração sensível e respeitosa, mantendo um ambiente digno e agradável entre os colaboradores.
O lado S extrapola a empresa. É preciso olhar para fora e ver formas de colaborar com instituições e causas sociais, minimizando desigualdades.
Chegando finalmente no lado G, do ESG. O G de Governança, que reputo como o mais importante dos três. Sim, porque só uma boa governança pode garantir que os aspectos ambientais e sociais sejam considerados na empresa.
A adoção de processos éticos e transparentes é fundamental para garantir o alinhamento aos princípios ESG. Isso implica no respeito aos stakeholders, entendendo que um negócio só é bom, se o for para todos os envolvidos.
Tenho tentado desmistificar as práticas ESG tratando-as como algo natural numa boa administração. É bom senso e a vontade de fazer tudo de acordo com as melhores práticas, de forma legal (de legalidade) e respeitosa.
Não precisa, necessariamente, criar um plano completo de adoção de práticas ESG. Não existe um lado mais importante do ESG. Comece com aquilo que é mais material ao seu negócio.
Engaje seus colaboradores e faça-os parte integrante desse esforço. Vai dar muita satisfação a todos e, o melhor, estudos demonstram que a adoção de práticas ESG torna os negócios mais eficientes e rentáveis.
A atitude mais importante do ESG é a decisão de começar e integrar suas práticas à estratégia da empresa.
Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
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