Difícil encontrar alguém que não tenha uma relação afetiva com o rádio. Meio centenário que vem se reinventando nos últimos anos para manter a sua relevância no cenário da mídia, sua “morte” já foi decretada inúmeras vezes.
Porém, a tecnologia e a diversificação de negócios mantêm as rádios brasileiras vivas, bem como a sua conexão emocional com o público, a alta penetração no país e a força que exerce sobre a cultura popular brasileira.
Especial nesta edição mostra que a variedade de conteúdo - da música aos noticiários -, a identificação dos ouvintes com os locutores e a instantaneidade na difusão de notícias importantes, muitas vezes até mais veloz do que os canais da internet, estão entre os principais assets das rádios no Brasil.
Com o avanço do digital, as rádios também ampliaram o alcance do público com canais na internet e transmissões em vídeo no YouTube, nos canais próprios de streaming e videocasts.
Para apresentar as novas formas de conexão e diálogo do rádio, especialmente para o público jovem, a Associação das Emissoras de Rádio e Televisão do Estado de São Paulo (Aesp) lançou a campanha “O rádio é”. O objetivo é provocar no público um gatilho mental, atraindo ouvintes e anunciantes. A ação está sendo veiculada gratuitamente em rádios, redes sociais, TVs, circuitos de cinema, veículos impressos e OOH.
No estudo “Inside Rádio 100”, divulgado pela Kantar Ibope Media, é possível entender mais sobre os desejos da audiência com o rádio: 57% buscam informação; 55%, emoção por meio de música, esporte e religião; 38% desejam companheirismo; e 35%, diversão. O rádio é ouvido por 83% das pessoas que habitam as 13 regiões metropolitanas mais importantes do país pesquisadas pela Kantar Ibope Media.
Um dado importante da pesquisa: 82% das audiências alcançadas pelas rádios se lembram de ter ouvido propaganda no canal. Dos quais, 55% afirmam que foram spots comerciais; 42% testemunhais de propaganda feitos pelos locutores; 20% em podcast; e 17% em apps ou site das emissoras. 37% dizem que compraram ou pesquisaram um produto em função da publicidade exibida no rádio.
Já o número de emissoras de rádio no país impressiona. Segundo o censo da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), estão outorgadas 10.654 emissoras de rádio no Brasil. Outra explicação para o meio não ter perdido a relevância é sua força regional.
Mas há vários desafios e problemas. Flavio Lara Resende, presidente da Abert (Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão), afirma que a falta de regulamentação na esfera da publicidade e da comunicação digital traz prejuízos incalculáveis para o setor de radiodifusão.
“Quem compete no mercado de comunicação deve fazê-lo com liberdade, mas também com responsabilidade, submetendo-se às mesmas regras, e isso inclui a aplicação da lei para todos, inclusive às plataformas digitais. As empresas de tecnologia e as plataformas digitais são bem-vindas ao ambiente da comunicação brasileiro, mas temos de avançar na criação de uma regulação mais competitiva, igualitária e responsiva, que gere um ambiente com maior liberdade de atuação para os veículos de comunicação social. O tratamento desigual e discriminatório tem um forte impacto negativo sobre o setor de mídia, colocando em risco a sua sustentabilidade”, descreveu Resende.
Confira também no Especial Rádio depoimentos de publicitários que declaram por que o rádio é um meio atrativo para as marcas.
Frase: “A utopia está lá no horizonte. Eu me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isto: para que eu não deixe de caminhar.” (Eduardo Galeano, citado por Walter Longo no seu livro “Abaixo os gurus, salve os guris” - Alta Books Editora).
Armando Ferrentini é publisher do propmark