Soft skills já se tornaram a principal preocupação dos profissionais de RH, fator de desempate em processos seletivos quando os profissionais possuem currículos muito parecidos e o principal motivo de contratações malsucedidas nas empresas. Com o mercado de trabalho cada vez mais competitivo, aprimorar habilidades pessoais se tornou essencial.

Em 2008, com 40 anos, fui apresentada às corridas de rua. Ex-fumante e sedentária, me propus a iniciar uma atividade física.

Na corrida eu tinha o vento no rosto, o descompromisso de vagar pelas ruas de cidades por todo o mundo. Uma liberdade que eu ansiava. Encontrei nela também uma ferramenta que testava meus limites. Saía da minha zona de conforto física e emocional. A cada melhora de performance, eu queria mais. Enquanto colocava força nas minhas pernas, as tensões se aliviavam e voltava cheia de inspiração e criatividade para mais uma jornada no escritório. E isso me levou para as maratonas e outras provas de longa distância.

Antes de começar a praticar corrida de rua, eu era incapaz de pensar em planos de longo prazo.

Perdi shows incríveis, peças de teatro e outros eventos porque os ingressos deveriam ser comprados com meses de antecedência.

Meu estômago se contorcia só de imaginar que, no dia específico, eu poderia ter algo mais interessante - e me esquivava de compromissos desse tipo. Só me imaginava presa dessa forma em agendamentos profissionais.

Com tantos anos dedicados à área financeira, os comprometimentos com prazos inadiáveis eram uma constante e eu buscava equilibrar essa rigidez deixando os compromissos pessoais mais leves.

Correr uma maratona é um compromisso de quase um ano entre a escolha da prova, o processo de inscrição, o plano de treinamento e o grande dia. Era uma meta tão longe dos meus olhos que parecia ser mais fácil alcançar o infinito.

Foi assim que mergulhei em um longo e complexo túnel de aprendizado.

Claro que já trazia a bagagem profissional dos planejamentos, mas nada do que se sucedeu naquelas semanas e meses poderia ser comparado aos budgets, forecasts e tudo mais com que eu estava acostumada.

A máquina central era o meu corpo e a minha mente. Ela deveria ser alimentada com os recursos muitas vezes intangíveis que me levariam a cruzar o tão sonhado pórtico.

Aqui você se pergunta: onde a maratona se relaciona com soft skills?
Nesse percurso, desenvolvi o autoconhecimento, aprendendo a escutar meu corpo, meus sentimentos e prever minhas reações, o que potencializou minha inteligência emocional.

Muitos treinos não foram como o esperado, exigindo flexibilidade e criatividade para seguir em frente. Os resultados demoram para ser construídos e é preciso muita disciplina e paciência. O processo é um trabalho em equipe e ser líder e liderada são posições que se alternam com frequência.

A comunicação eficaz estabelece uma relação de confiança. Minha resiliência foi testada ao limite, mas na minha mente, todos os dias, eu tinha um pórtico com a palavra CORAGEM.

Foi a coragem de viver a dor, sentir medo, acreditar, inovar, planejar e replanejar, agir, assumir riscos, cair e levantar, reestabelecer dentro de um novo cenário.

Todos os soft skills que a maratona me ensinou para alcançar a linha de chegada.
O que uma maratona pode te ensinar?

Sara Velloso é diretora-financeira no Grupo Bandeirantes de Comunicação