Elvis Aaron Presley nasceu em 8 de janeiro de 1935. No mesmo ano, foram testadas nos EUA as duas primeiras vacinas contra a poliomielite. Os dois testes, um conduzido na Universidade de Temple e outro na Universidade de Nova York, foram desastrosos. Não só as vacinas não funcionaram, como infectaram vários participantes.

Naquela época, a pólio era a doença mais temida nos Estados Unidos. Isso porque deixava marcas muito visíveis: crianças com muletas, em cadeiras de rodas e, nos piores casos, presas a pulmões de aço. Não havia tratamento, nem prevenção.
O que existia, aos montes, era a desinformação. Acreditava-se que o vírus era transmitido por gatos, pulgas e até por bananas importadas da América do Sul.

O “kit-pólio” de então podia incluir remédios à base de plantas, serragem e até bolas de naftalina, que as mães penduravam no pescoço dos seus filhos. Entretanto, não há notícia dos supostos remédios terem sido defendidos pelos líderes políticos. Aliás, o então presidente americano, Franklin Delano Roosevelt, tinha contraído a doença já adulto e era um dos maiores defensores da busca por uma vacina eficaz.

FDR estava por trás da March of Dimes, uma campanha de arrecadação de fundos organizada pelas mães americanas em prol da pesquisa contra a pólio. O dinheiro recolhido era, literalmente, enviado em sacos para a Casa Branca, que distribuía a verba para os cientistas. Tão importante quanto os dólares era o engajamento do público. As pessoas que contribuíam para a March of Dimes sentiam que faziam parte da criação da vacina.

Porém, além dos fundos, os cientistas sabiam que precisavam de outra coisa da população: confiança, que tinha sido perdida nos testes malsucedidos de 1935. O dr. Jonas Salk, que comandava um grupo de pesquisadores na Universidade de Pittsburgh, sabia da necessidade de convencer o público a respeito da segurança da vacina. Salk aproveitava toda e qualquer oportunidade para falar a respeito do seu imunizante na mídia. Chegou até a ser capa da revista Time. Quando a vacina ficou pronta, aplicou a injeção nos próprios filhos e em si. Mas o alcance de comunicação de um cientista, por melhor que seja, é limitado.

Em 1956, um Elvis de apenas 21 anos era recebido no Ed Sullivan Show para tocar Love me Tender, Hound Dog e Don’t be Cruel. A apresentação ficou marcada por ser a primeira vez em que Elvis era filmado da cintura para baixo (na outra ocasião em que se apresentou no mesmo programa, isso tinha sido proibido pelo Ed Sullivan, por se tratar de “um programa de família”) e também ficou famosa por uma brilhante ação de PR que aconteceu instantes antes de o Rei do Rock subir ao palco.

Naquela noite, Elvis foi vacinado contra a pólio nos bastidores do programa. A foto com o médico e a funcionária do departamento de saúde (Ruth Taber, a “criativa” por trás da ideia) aplicando a vacina no sorridente ídolo correu os Estados Unidos nos dias a seguir da apresentação. O resultado é que a taxa de vacinação, que antes era de 0,6%, saltou para 80%. Foi o começo do fim daquela epidemia.

A vacina criada pelo dr. Salk se mostrou eficaz contra o vírus. Mas, para combater a desinformação e a falta de confiança do público, o único remédio foi – e sempre será – a criatividade. Quando o assunto é saúde, o poder de uma grande ideia, assim como o Elvis, não morreu.

Victor Afonso é  VP, associate creative director na Area 23 NY
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