Eu tive a sorte de viajar bastante pelo mundo, representando o Brasil. Só as edições do Cannes Lions Festival, na França, foram mais de 20. Ao longo do tempo, vi a imagem do nosso país se transformando.
No início, nos anos 1990/2000, ao me apresentar como brasileiro a estrangeiros, invariavelmente recebia de volta um sorrisão.
Era o Brasil alegre, do samba, do futebol, da praia, da alegria e da criatividade. O país do futuro, componente dos Brics.
Angariávamos simpatia por onde passávamos. A capa da revista Time era aquela do Brasil do Cristo Redentor decolando (Brazil takes off). Passa o tempo e algo começa a mudar.
O Brasil passa a se mostrar um país carregado de corrupção, estagnado, perdendo posições entre os países em desenvolvimento.
Veio a nova capa da revista Time, desta vez mostrando o Cristo Redentor caindo vertiginosamente, com a pergunta: “O Brasil estragou tudo?” (Has Brazil blown it?).
Os estrangeiros continuavam com a referência do Brasil alegre e bonito, mas o sorriso que recebíamos já vinha acompanhado de um tapinha nos ombros, como se quisessem dizer: “Força! Vai passar”.
Mais recentemente, veio o “desastre” de um governo que não sabia fazer relações exteriores, que se apresentava de forma errática (pra dizer o mínimo), visto até como um pária, internacionalmente.
Pois bem, chegamos aos dias atuais, com um governo que se abre para o mundo, principalmente em relação às questões ambientais.
O Brasil passa a ser visto como um país totalmente alinhado ao Pacto Global 2030, que acredita na ameaça do aquecimento global e, mais do que isso, acredita no papel e no potencial de um país que se notabiliza por abrigar uma área verde sem igual, de enorme importância mundial.
Este Brasil que tem a Amazônia em seu território é também aquele que apostou em fontes energéticas limpas, como as hidrelétricas e renováveis, como o etanol.
É o país com a maior reserva de água doce do planeta, ensolarado o ano inteiro e com ventos propícios à geração de energia, o que faz crescer no horizonte o número de placas fotovoltaicas e pás eólicas.
A matriz energética brasileira é invejável, sendo que a eletricidade por aqui é gerada por mais de 80% de fontes renováveis. E ainda nem estamos falando do hidrogênio verde, de enorme potencial para nosso país.
Sim, porque para se obter o poderoso hidrogênio – cinco vezes mais potente do que a gasolina – são necessários dois insumos: água e eletricidade.
Para os países de matriz energética mais “suja”, não faz sentido usar uma grande quantidade de carvão, por exemplo, para provocar a eletrólise e gerar o hidrogênio.
Mas no Brasil isso é possível. Temos água em abundância e energia limpa. Independentemente desse potencial, o Brasil é visto como um país de enorme cobertura vegetal, que deve ser protegida e preservada.
Apesar do desmatamento ainda preocupante, somos um país verde, aos olhos do mundo. E aí chegamos ao meu ponto focal deste artigo. O Brasil merece um rebranding! Algo como: “O futuro verde é aqui!”.
Sei que já estamos no imaginário dos estrangeiros como o país da Amazônia, das florestas. Mas acho que devemos fazer um upgrade nessa imagem, sintonizando-a aos créditos de carbono e, principalmente, ao potencial energético verde do Brasil.
Não é exagero afirmar que o futuro do mundo passa pelo Brasil. Para fixar essa imagem, acredito, devemos deixar a visão idílica da floresta intocada, mas, isso sim, posicioná-la como importante fonte de biodiversidade e de geração de créditos de carbono.
Por outro lado, devemos mostrar ao mundo que a energia verde é coisa nossa. Que a produção verde é aqui, via empresas brasileiras ou estrangeiras (nearshoring). Que é aqui o melhor campo para se jogar o jogo do futuro.
E que temos também bons players pra jogar esse jogo. É ou não é uma oportunidade de criação de nova imagem para o nosso Brasil?
Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
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