Embaixador de anunciantes como Globoplay, Pizza Hut e Claro, o humorista celebra a nova fase e conta como fugiu do 'um post e três stories'

Há anos no mercado do entretenimento, o humorista Paulo Vieira tem se tornado uma figura quase onipresente na indústria de comunicação. Estreou com sucesso no 'BBB 22' com o quadro 'Big Terapia', apresenta dois programas no GNT, o 'The Rolling Kitchen' e 'Avisa lá que eu vou', com quadro no 'Fantástico', e é o novo queridinho de marcas.

É embaixador de anunciantes como Globoplay, Pizza Hut e Claro e está em campanhas da Suvinil, Nestlé e Zap Móveis. Lidera também a quarta temporada do 'Arena Brahma', programa de entrevistas da marca de cerveja.  

"A primeira grande marca que me comprou foi o Globoplay, que, juro por Deus, foi um divisor de águas. A gente topou porque sabia que era uma campanha que ia passar muito, que estaríamos com a cara na tela e seria muito importante para a gente mostrar para as outras empresas que eu era um cara interessante para carregar as marcas nas costas. Até Globoplay, nenhuma empresa tinha arriscado me ter como o cara da da marca", afirma.

Na entrevista, Vieira, que acaba de renovar o contrato com a Globo, conta como está lidando sobre esse novo momento da carreira, com diversos projetos acontecendo ao mesmo tempo, representatividade  e racismo estrutural e o tipo de relação que tem buscado construir com as marcas.

Você está com ações ao mesmo tempo, como programa na Globo, GNT, lançando livro, estreou quadro no 'BBB' e tem feito diversas parcerias com marcas. Como você analisa esse momento da sua carreira?
Acho que eu tinha muitos projetos, dei start em muitos deles e agora estou lançando todos eles. A impressão que muita gente tem é que, depois do 'Big Brother', eu resolvi fazer um monte de coisa ou que estas coisas aconteceram. A verdade é que estão saindo muitas coisas que eu plantei ao longo dos últimos três anos. Eu acho também que a quantidade de projetos que estou fazendo é por conta de uma demanda reprimida da pandemia, porque o nosso mercado está desaquecido. Mas na Globo, a gente continuou criando projetos e agora que as coisas voltaram com  força, começou a desengavetar e colocar para andar.

Você está há bastante tempo na TV, com passagem pela Record, e agora teve essa explosão. Ao que você credita esse momento? Tem alguma situação que coloca como virada de chave?
Eu acho que as coisas foram se juntando, mas, com certeza, o 'Big Brother' foi um divisor de águas. Eu acho que venho em uma sequência muita boa, falando sobre marcas e publicidade, que é o 'BBB' e o 'Fantástico'. Saí do 'Big Brother' na terça e no domingo estava estreando o meu quadro no 'Fantástico', o que é um casadinha muito boa de visibilidade e popularidade. Foi esse um salto importante. O que eu acho que acontece é que o 'BBB' me deu uma popularidade que eu não tinha e as marcas começaram a enxergar em mim um comediante que pode ser associado com leveza, brasilidade, povo e, ao mesmo tempo, credibilidade.

Quando você foi anunciado como embaixador da Pizza Hut, você postou sobre a importância daquele momento porque normalmente não vemos corpos como o seu nesses lugares. Como você observa hoje as ações das marcas para incluir perfis de influenciadores e artistas que sempre tiveram à margem das suas estratégias de comunicação?
Eu acho que a demanda por representatividade e a demanda por ser uma marca legal, porque hoje ser uma marca que se interessa por representatividade e por todas essas pautas, que a gente fala quase como um combão, é uma PEC, cheia de bandeiras e necessidade, a empresa se preocupar com isso hoje é sinônimo de ser uma empresa legal. É óbvio que a gente tem aí dois movimentos. O público pressionando esse comercial, querendo que as marcas que ele ama representem também aquilo que ele acredita como mundo; e tem o movimento das pessoas que estão nas marcas querendo fazer um mundo melhor, mudar as coisas. Tem uma coisa que cada vez entendo mais, principalmente estando na Globo, é que grandes marcas são feitas de pessoas. Por maior que seja a marca, ela é feita de gente como eu, como você, que quer dar o seu melhor. Um exemplo prático é que estava conversando com Pizza Hut, com o pessoal de diversidade da empresa, que está, inclusive agora, desenhando um caminho interno de representatividade. Eu vejo que estão criando meios para internalizar o discurso que colocam na publicidade, o que é muito importante.

Uma reclamação constante de influenciadores e ativistas negros é sobre visibilidade, inclusive nas redes sociais. Nós vemos poucos influenciadores negros com mais de 1 milhão. Você, apesar de todo o sucesso, tem pouco mais de 1,3 milhão no Instagram. A que você credita isso?
A gente tem um fator que é, obviamente, o racismo estrutural. Por que pessoas negras não interessam tanto quanto pessoas brancas, por que não são dignas de serem olhadas no seu dia a dia, fazendo dancinhas, tendo looks etc.? Eu tenho muitos amigos influenciadores negros que sofrem com isso, têm esse problema e que é real mesmo. Pela ótica do racismo estrutural, as pessoas preferem ver uma mulher branca a uma negra, mesmo que a negra se maquie melhor que a branca, mesmo que tenha conteúdo melhor. Não é uma questão de melhor equipamento, melhor edição, é questão de racismo estrutural mesmo. Acho que é um bom exemplo para falar de racismo estrutural mesmo, que não é sobre o que você faz ou que não faz, é sobre o que você é, essa é a crueldade do racismo. Não adianta ter o mesmo equipamento, roteiro, edição. Não adianta você ser o melhor sendo você o que é, que é negro. Eu, obviamente, por ser negro, sou atravessado por essa questão, mas esses dias eu estava me perguntando porque tantas marcas me procuram mesmo eu não sendo um cara gigante em números na internet. Eu acho que elas me procuram porque têm um entendimento diferente de um artista da internet para um artista de televisão. Quando me procuram, estão atrás da minha credibilidade ou bagagem de televisão e querem se associar a isso. Não vêm só atrás do meu público ou da minha influência na internet, mas também daquele imaginário que foi criado com aquele público. E acho muito bom isso de estar conseguindo construir uma carreira na televisão e que ela também seja um sucesso comercial porque, se for depender só do sucesso da internet, influenciadores pretos crescem em velocidade absurdamente menor que influenciadores brancos.

E você vê caminhos para mudar essa realidade?
Está com tempo? (risos). O caminho para mudar isso é acabar com o racismo e aí a gente está falando de muitos anos de educação, de políticas públicas, de lutas. Acho que a gente não vai ver essa mudança real. O que eu penso é que podemos colaborar na inspiração desta luta, que é onde eu acho que o artista se insere, no aspiracional. De ser esse ponto fora da curva que dá forças para as pessoas continuarem lutando por um mundo ideal.  Das pessoas olharem e falarem 'olha como o mundo pode ser'. Eu penso isso muito em relação a outros ídolos negros, como Tais (Araujo), Lázaro (Ramos). Quando eu vejo um comercial com os dois, eu penso 'olha como o mundo pode ser'. Eu não penso que o mundo é aquilo, o mundo não é feito de famílias negras, ricas, bem-sucedidas e que são assimiladas pelo mercado publicitário. Mas eu penso: 'olha como vai ser legal quando for'. Por esse mundo que eu quero lutar'. A curto prazo, é fazer mais e mais, não só nesse nosso mundinho audiovisual, publicitário e televisivo, mas nas ações práticas de educação, luta e posicionamento.

Nos últimos tempos, vários artistas e influenciadores começaram a relatar sobre a presença de cláusulas restritivas a posicionamentos políticos. Você, como um artista que posiciona, o que acha disso? Esses pedidos chegam até você?
Eu já tinha passado por boicote político há muito tempo, isso para mim não é novidade. Eu já tive marca que não quis se relacionar comigo porque disse que o meu Instagram era muito politizado. Eu pedi para me mandaram os posts e eram sobre diversidade, “Black lives matter” etc. Aí, eu falei, isso não é posicionamento politico, é posicionamento humano, que, obviamente, é posicionamento político também. Então, não é novidade para mim, sempre passei por esse tipo de coisas. Hoje, as marcas que se relacionam comigo respeitam aquilo que eu sou e acho que quando elas me procuram é pelo conjunto da obra, pelo que represento. Eu não sou uma pessoa conhecida por ficar em cima do muro ou chapa branca, e acho que as marcas estão cientes disso e entendem que parte da minha credibilidade está relacionada à minha opinião.

Como você se vê enquanto marca?
Eu tenho dificuldade de me enxergar como marca porque as decisões são artísticas ainda.  Por que é tão importante eu ser assimilado pelo mercado publicitário? Porque isso hoje é moral e eu consigo trocar esse poder por liberdade artística, por exemplo. As pessoas vão investir em uma série que estou porque sabem que as marcas gostam de mim e pode ser um sucesso comercial, mas as decisões do que vou fazer são tomadas de maneira artística, muito a partir de uma vontade de fazer as coisas acontecerem e eu sempre fiz isso. Eu sabia que ia demorar um tempo - e vai demorar mais ainda - para o público assimilar a quantidade de coisas que eu faço e o quão longe eu posso ir. Quando eu fui apresentado como comediante na Globo, eu já sabia que eu era roteirista, escritor, que sabia dirigir. Conforme eu fui ganhando envergadura artística e comercial, fui podendo dar vazão a esses outros lados. E aí, como me enxergo hoje? Como uma pessoa que quer produzir conteúdos em todas as frentes. Eu tenho ideias o tempo todo. Eu tenho uma produtora, a Cabeça Preta, que é também para dar vazão a essas ideias.

Como se dá a relação e a construção da imagem de Paulo Vieira com as marcas?
Eu e o Rick, meu empresário, tomamos uma decisão lá no início que eu não queria ser um cara do ‘um feed e três stories”. Eu queria usar a minha imagem para representar marcas mesmo e começamos a trabalhar a minha imagem em tudo, estilo, como posso me apresentar e me vender melhor e esperamos até alguma empresa comprar essa nossa ideia, que era: o Paulo pode representar grandemente a minha marca. Então, a gente passou mais de um ano sem nenhuma publicidade. Só fazendo esse trabalho que a gente chama no Tocantins de cevar (nutrir). A gente negava o ‘um feed e três stories’ e dizia: 'a gente quer agora um relacionamento mais sério com as marcas, se tiver projeto maior, por favor, nos procure'.

E quando essa ideia começou a vingar?
A primeira grande marca que me comprou foi o Globoplay, que, juro por Deus, foi um divisor de águas. A gente topou porque sabia que era uma campanha que ia passar muito, que estaríamos com a cara na tela e seria muito importante para a gente mostrar para as outras empresas que eu era um cara interessante para carregar as marcas nas costas. Até Globoplay, nenhuma empresa tinha arriscado de me ter como o cara da empresa, da marca. Globoplay apostou, foi a maior campanha da história com 60 vídeos, que passaram infinitas vezes e acho que foi ali que começou a minha carreira na publicidade. As marcas começaram a pensar: olha como a minha marca também ganha em imagem, representatividade. Ele é a cara do brasileiro. Acho que foi ali, com Globoplay, que a minha vida começou a ter uma virada.

Foi nesse processo que chegou a Pizza Hut?
E aí veio Pizza Hut, que foi o nosso primeiro grande contrato, que me viu de vermelho na Globoplay e disse 'ele fica bem de vermelho'. Marcas vermelhas me adoram. Veio Claro, Brahma, e elas vão vindo 'vermelhisticamente'.

Como tantas ideias, como é a sua colaboração nas campanhas e projetos que realiza?
Eu amo fazer isso. Começou com uma conversa que acabou não andando com a Havaianas, que me chamou para criar uma campanha de 50 anos, onde escrevi toda a campanha, criei todos textos e me apaixonei por aqui. Em Nestlé, que fiz agora, eles falaram a ideia, como queriam divulgar e que eu fizesse personagem. Nós chegamos e apresentamos o personagem da Mãe, que é do ‘Isso é muito a minha Vida’, da Globo, e dos dois filhos, Tchelly e Wellyngton. A principio, seria só a Mãe, mas eu peguei os textos e mudei para ter a presença dos dois filhos e defendi isso junto à Nestlé. Falei que a mãe que aparece lá não é a minha mãe, é a mãe das duas crianças, que seria legal aparecer com as duas crianças porque Nestlé é uma marca família. Foi um dos dias mais felizes de gravação para mim porque todo mundo sonha em fazer Nestlé, é uma marca que está no coração da gente, muita afetiva. A gente lembra das campanhas, do Roberto Carlos, da promoção de fim de ano. Foi muito emocionante porque eu pensei Roberto Carlos já fez e agora eu estou fazendo. Eu os convenci falando para levar família e trazer esse cheirinho que a Nestlé tem. Quem é que separa os cupons dentro de uma casa senão a mãe e os dois filhos sonhando em ganhar? Quem é que fica enchendo o saco da mãe para comprar produtos da Nestlé também para participar da promoção senão os filhos que assistem ao comercial? Eles acreditaram nisso, eu tirei a barba e estou muito feliz com o resultado.


Como você analisa marcas com as quais você vai desenvolver parcerias, especialmente quando chegam propostas para ser embaixador?Primeiro, a gente vê se gosta da marca, antes de tudo. Depois, se gosta da campanha e ainda da produtora, porque às vezes grava em qualquer lugar, fica feio e ficamos com uma campanha feia na rua. A gente olha tudo isso, mas, principalmente, se gosta da marca, sempre eu e o Rick. E, graças a Deus, só fechamos com marca que gostamos muito. Primeiro, Pizza Hut, que veio com uma estética que queríamos trabalhar, meio noventista meio rapper; depois, Claro, que é empresa que eu uso, nem tive de trocar a minha linha telefônica; Brahma, com quem eu já tinha um relacionamento longo, fiz muito ‘um feed e três stories’, demos, pausamos e agora nos procuraram com um projeto maior; e agora Nestlé, que eu amo de paixão.

Há uma expectativa muito grande sobre a série 'Pablo e Luisão', que começou com histórias que você escrevia no Twitter sobre as peripécias do seu pai, Luisão, e do melhor amigo dele, o Pablo. Como está o andamento desse projeto? Quando deve ser lançado?
Eu estava em um momento meio sem saber qual seria o meu destino ali na Globo, que estava se reorganizando, e resolvi começar a escrever no Twitter. Uma coisa minha que sempre tenho é que toda vez que estou inseguro, não sei o que vou fazer da minha vida ou o que vão fazer comigo, o meu trabalho me aponta o caminho. Se eu começar a produzir, a própria produção começa a andar e eu vou atrás. 'Pablo e Luisão' foi assim e acabou criando força. Um grande player se ofereceu para comprar o texto, eu falei não, e a Globoplay chegou e falou para fazermos. E falando sobre prazos, eu entreguei a ‘bíblia’ final da série e já estamos com alguns episódios em andamento. Acho que é um projeto para o ano que vem, mas não sei a data. Nós entramos agora naquela fila de produção e escoamento dos estúdios Globo. O que possa adiantar é que tanto a Globoplay quanto a Globo e os Estúdios Globo estão bastante animados. De tudo que já fiz na Globo, essa é a maior aposta deles em mim porque eu estou assinando a redação final e é um projeto que é sobre a minha família.

Como está sendo a experiência como apresentador do 'Avisa lá que eu vou', com quadro no 'Fantástico', na Globo, e exibição no GNT?
Para mim, não é muito diferente daquilo que eu sempre faço, que é me comunicar. O meu humor é de conversa, por isso gosto muito de narradores. 'Pablo e Luisão' é conversa com as pessoas do Twitter. E o programa é uma conversa, dentro de um lugar que eu sempre pirei. Eu fiz comunicação na UFT (Universidade Federal do Tocantins) porque queria ser um comunicador e fiquei muito feliz com a oportunidade no GNT, que é de entender como eu fico nesta roupa de apresentador. “Avisa lá que eu vou” foi um trabalho experimental mesmo e de entender como o humor se apresenta neste momento como apresentador e nesta comunicação com pessoas do interior, porque não é um programa de comédia, não é de esquetes. Eu quero, de verdade, ouvir essas pessoas para saber se têm histórias interessantes, divertidas, emocionantes e como eu vou conduzir esse programa. O que eu queria muito é deixar as pessoas falarem, até por isso a estética do programa começa com a carona das pessoas e o nomão delas.  E numa chave que gosto de trabalhar que é de ser amigo. Eu tenho uma teoria que todo mundo tem uma criança dentro de si no primeiro dia de escola, perdido, com medo e tentando fazer amigos. Todo dia eu saio para fazer amigos.

A segunda temporada está confirmada?
Sim, vai ter a segunda temporada. Está confirmadíssima e estamos vendo só a agenda para gravar. Eu tenho um sonho que é fazer ainda mais para o norte. E me embrenhar ali no Pará, Amazonas, Roraima, Macapá, Acre. Eu queria ir muito mais para a nortão ali e espero que dê certo.