No dicionário Cambridge de Negócios, cultura organizacional é definida como as crenças e ideias que uma empresa tem, a forma com que estes fatores afetam o jeito da empresa fazer negócios e também o modo como seus colaboradores se comportam. 

Como indivíduos, trazemos crenças e valores de nossas histórias de vida, que nem sempre são 100% equiparados aos valores da empresa para a qual trabalhamos. Não à toa, os processos de recrutamento têm dado cada vez mais importância ao fit de valores entre contratantes e contratados. E, ainda assim, é fundamental alinhar estas expectativas constantemente, desde o processo de onboarding de cada colaborador, afinal, não existe cultura forte com comunicação fraca. 

Tudo começa pela clareza dos comportamentos e valores que são defendidos, valorizados e/ou repudiados pela organização. Estes valores têm de estar nas paredes e na atitude dos líderes e gestores, comunicando-os constantemente, com clareza e em múltiplos pontos de contato, de preferência com narrativas simples e acessíveis a todos. 

No livro ‘Walk the Talk’, os autores Eric Harvey e Al Lucia posicionam que palavras são apenas palavras, a não ser que você viva de verdade aquilo que prega. E tudo comunica: do bom dia pela manhã ao olho no olho na hora de uma conversa. 

A agenda dos executivos e líderes devem também espelhar as suas prioridades. Se o diálogo é um valor, ele deve ser sistematizado e facilitado. A disciplina no cumprimento dos rituais de comunicação interna evidencia a prioridade que está se dando para gestão e cuidado com as pessoas. Assim como temos rituais e cerimônias na vida pessoal, com aniversário e dia das mães, por exemplos, que sedimentam histórias e criam conexões – “somos todos seres ritualistas”, segundo o consultor em desenvolvimento humano e organizacional Nélio Bilate -, as empresas precisam compreender que o mesmo se aplica para suas equipes e negócios. 

É importante lembrar também sobre a importância da “forma” e símbolos. Da qualidade dos textos, à qualidade estética e de produção (gráfica, digital ou eletrônica) das peças de comunicação interna – e até mesmo a decoração e o conforto do ambiente corporativo. A preocupação com todos estes detalhes é mais um elemento que comunica os valores da sua corporação.

Muitas marcas se preocupam em desenhar programas de relacionamento com clientes finais – o que é mais do que adequado e necessário – mas se esquecem de fazer o mesmo com seus colaboradores. 

Ao pensar em marketing de relacionamento, comece de dentro para fora, inclusive na estruturação do seu banco de dados. Conhecer seu colaborador não é apenas saber a sua formação acadêmica e histórico profissional, mas também saber onde ele mora, se é casado, se tem filhos, que hobbies ele pratica, que talentos complementares ele possui e – especialmente no meio de uma pandemia – que dificuldades possa estar atravessando, afinal, tão ou mais importante quanto um presente de aniversário é um gesto atencioso num momento delicado de suas vidas, seja a recuperação de uma cirurgia ou até a perda de um ente querido.

Estamos numa nova era da Comunicação Interna das empresas, em que é preciso encantar para engajar, dedicando tempo e dinheiro para estes esforços que, comprovadamente, podem transformar radicalmente a performance de qualquer organização, independentemente do seu porte ou área de atuação. 

Uma boa estratégia de relacionamento  com seus colaboradores pode contribuir para criar relações mais transparentes, maduras e respeitosas. Todos eles deveriam,  por exemplo, conhecer a fundo as estratégias da sua empresa e também serem os primeiros a saber de tudo o que acontece na sua empresa, jamais sendo “pegos” de surpresa. 

Quanto mais as pessoas se sentirem consideradas e prestigiadas dentro do seu negócio maior será a chance delas se tornarem porta-vozes da sua marca fora do ambiente corporativo, dentro e fora das mídias sociais. Em um mundo pós-digital, os colaboradores devem ser os seus principais influenciadores.

É preciso planejamento para a comunicação interna acontecer de forma sistemática e contínua, criatividade para a comunicação interna ser envolvente, impactante e engajadora e tecnologia para simplificarmos a interação através de ferramentas de uso fácil e intuitivo. E lembre-se: quanto mais tecnológicos os relacionamentos se tornam, mais importante é a presença dos líderes e a criatividade das campanhas e peças de comunicação interna. 

Em tempos de pandemia, home office e forte abalo na saúde mental das pessoas, a força da sua cultura organizacional pode fazer toda a diferença para as pessoas se sentirem mais seguras, acolhidas e amparadas – e, neste contexto, a qualidade da comunicação interna da sua empresa pode ser decisiva para o sucesso e a prosperidade do seu negócio.

Otavio Dias, CEO da Repense