Nos últimos dois anos, o Brasil atraiu alguns dos principais players de música streaming que, após construírem uma base significativa de usuários, começam a buscar acordos com agências e marcas para a venda de publicidade. Há algumas semanas, o francês Deezer tem visitado agências oferecendo espaço publicitário.
A companhia, que chegou há seis meses no país, tem dois modelos de negócio: o serviço por assinatura, no qual o usuário paga uma mensalidade de R$ 8,90 para ter acesso a um acervo de 25 milhões de músicas, sem publicidade; e o modelo gratuito, financiado com anúncios, em que há spots entre as músicas a cada 15 minutos. Também há banners. “O melhor jeito de adquirir base de usuários é oferecer o serviço gratuitamente. E a publicidade financia o uso gratuito”, explica Mathieu Le Roux, presidente da Deezer no Brasil. A companhia tem quatro milhões de assinantes e 10 milhões de usuários no mundo, e acordos comerciais com Mercedes-Benz, Sephora, Red Bull, Volkswagen e Diesel, entre outras marcas.
Mas a oportunidade para anunciantes não está só na venda de espaço publicitário. Parcerias para a oferta de conteúdo também são um forte do segmento. A inglesa Rara, que começou a operar no país em outubro do ano passado, anunciou em maio uma parceria com a BMW para o primeiro serviço de streaming sincronizado diretamente com o automóvel do usuário. A funcionalidade está disponível apenas em alguns países da Europa e não há parceria semelhante no país. Mas os passos da companhia indicam o potencial dos serviços de música por assinatura para as marcas.
O Rdio, criado pelos fundadores do Skype e no país desde 2011, não tem publicidade, mas funciona com parcerias de conteúdo com o que chama de “influenciadores”. Algumas das marcas locais com perfis na plataforma são Rock in Rio, Oi, Cine Jóia e MTV. Internacionalmente, alguns exemplos são Vice, Rolling Stone e Marc Jacobs. Em comum, os serviços têm interface com redes sociais e a possibilidade de montar e sincronizar playlists com dispositivos móveis. Juntos, transformaram a música por assinatura em um fenômeno global, que tem crescido ano a ano.
Streaming x publicidade
De acordo com o Balanço Fonográfico Mundial, divulgado em abril pela IFPI (Federação Internacional da Indústria Fonográfica, em português), os serviços de assinatura de música e de streaming financiados com publicidade já representam 20% das receitas da música em digital no mundo, contra 14% em 2011. Na Europa, eles já somam quase um terço (31%) das receitas em digital da indústria. “Com o crescimento do streaming internacionalmente e o acesso de qualquer lugar, a indústria fonográfica passa por uma nova mudança, como foi com o mp3. Essa mudança traz a oportunidade de criar novas experiências musicais numa escala global”, analisa Bruno Vieira, diretor-geral da Rdio Brasil.
Os empecilhos para os serviços expandirem, como acordos para pagamento de direitos autorais, têm sido resolvidos com acordos fechados com gravadoras globais, como Universal, Sony, Warner e Virgin. “Antes era um pesadelo negociar isso, mas a realidade mudou totalmente. Tanto gravadoras grandes quanto as locais entenderam que o modelo de streaming é o futuro”, indica Le Roux.
Spotify
O gigante Spotify, um dos líderes entre as plataformas de streaming, deve desembarcar no país em setembro, segundo informações divulgadas pelo O Estado de S.Paulo. Procurada, a companhia sueca não se pronunciou. De acordo com o jornal, a empresa já tem um escritório na capital paulista com três funcionários e pretende formar equipe de pelo menos 15 pessoas. A avaliação é que a chegada da plataforma possa impulsionar o consumo de música pela internet.
O Brasil hoje é o oitavo maior mercado para a indústria da música no mundo, segundo a IFPI. Os serviços que operam no país não divulgam o total de assinantes, mas afirmam que a operação local está em forte desenvolvimento. O percentual de usuários brasileiros que se cadastram no Deezer é o segundo maior entre os 180 países onde a companhia opera – ficando atrás somente da França, onde a empresa nasceu, há sete anos. A Rdio, em um ano, viu o número de registros mensais no país aumentar nove vezes.
O sucesso dos serviços de streaming em música faz parte de um movimento da indústria de entretenimento em geral, avalia Eduardo Ferreira, diretor de vendas da Deezer. “Percebemos que há vários players se movimentando nesse sentido, não só na música. A grande questão é que o usuário não quer mais ficar refém. Os serviços por assinatura tiraram o caráter passivo de consumir conteúdo”.